O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu em discurso nesta quarta-feira (23) em Joanesburgo, na África do Sul, que o empoderamento das mulheres é condição fundamental para o desenvolvimento econômico e social dos países.
Lula discursou no segundo dia de reunião do Brics – grupo econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A reunião desta semana deve discutir, entre outros temas, a adesão de novos países como membros e/ou parceiros do Brics.
“Em muitos lugares, enquanto os homens fazem a guerra, são as mulheres que lutam pela conciliação. A valorização e o fortalecimento do papel das mulheres na resolução dos conflitos será cada vez mais central para o mundo em paz. Mais do que isso, o empoderamento das mulheres é pré-condição para o pleno desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
Lula viajou à África do Sul acompanhado da primeira-dama, Janja, e da ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, além de outros ministros.
No discurso, saudou algumas das mulheres presentes à reunião do Brics, como a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (o “banco do Brics”), Dilma Rousseff, e a representante da Aliança Empresarial de Mulheres do Brics, Lebogang Zulu.
O petista também parafraseou no discurso o ex-presidente de Burkina Faso Thomas Sankara. “Não podemos almejar uma sociedade onde a metade da população é silenciada pelo machismo e pela descriminação na participação política e no mundo do trabalho”.
Lula também aproveitou a fala para mais uma vez defender a moeda única, além de destacar que o interesse de outros países em entrar para o bloco é “reconhecimento de relevância crescente” do Brics.
Ao todo, 23 países se inscreveram formalmente para se tornar membros permanentes do grupo, incluindo Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Indonésia, Egito e Etiópia.
“A criação de uma moeda aumenta nossas opções de pagamento e reduz nossas vulnerabilidades”, afirmou o presidente.
Vale destacar que o bloco se projeta como uma alternativa geopolítica a uma ordem mundial liderada pelos EUA, posicionando-se como representante do Sul Global. E tudo que os candidatos à adesão querem agora é capitalizar a influência econômica do Brics.
Guerra, meio ambiente e instituições
O presidente Lula também usou o discurso no 2º dia de Brics para criticar a guerra entre Rússia e Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, não viajou a Joanesburgo e participou das reuniões com discursos pré-gravados em vídeo.
Lula afirmou que a guerra na Ucrânia “evidencia as limitações do Conselho de Segurança” da ONU – o Brasil tenta se tornar membro desse conselho.
O presidente citou também “haitianos, iemenitas, sírios, líbios, sudaneses e palestinos” como vítimas de conflitos e crises que, segundo ele, “não recebem atenção devida mesmo causando vasto sofrimento para as suas populações”.
Ao tratar de meio ambiente, Lula cobrou que o Acordo de Paris e a Convenção do Clima sejam “valorizados” e que os países ricos financiem as iniciativas de preservação no “Sul Global”.
E cobrou, ainda nesse sentido, que países em desenvolvimento sejam submetidos a juros menores em suas dívidas externas e que o “sistema multilateral de comércio seja reavivado” para gerar um comércio “justo, previsível, equitativo e não discriminatório”.
Lula no Brics
Na terça-feira (22), Lula falou da relação do Brasil com o continente africano, ao afirmar que o fluxo comercial do Brasil com a África corresponde a apenas 3,5% do comércio exterior brasileiro.
“É inaceitável que, em 2022, o comércio do Brasil com a África tenha diminuído em um terço com relação a 2013, quando era de quase 30 bilhões de dólares […]. O Brasil está de volta ao continente de que nunca deveria ter se afastado. A África reúne vastas oportunidades e um enorme potencial de crescimento”, disse Lula.
O presidente brasileiro também afirmou que o Brasil e os país africanos compartilham a responsabilidade de “cuidar de florestas tropicais e preservar a biodiversidade”, e de combater processos de desertificação.
O petista voltou ainda a defender o pagamento por serviços ambientais a países que preservam suas florestas e criticou o que considera um “neocolonialismo verde”, sem dizer a quem estava se referindo.
“Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias, sob o pretexto de proteger o meio ambiente”, disse.
A questão ambiental é um dos temas que emperra, por exemplo, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.