Nas 49 páginas da sentença que condena o hacker Walter Delgatti — reveladas por Robson Bonin, da coluna Radar em primeira mão na última segunda-feira (21) — a mais de 20 anos de prisão, o juiz Ricardo Leite, da Justiça Federal de Brasília, é didático ao desmontar as supostas boas intenções do condenado ao invadir contas de Telegram de inúmeras autoridades do país.
Para o magistrado, as evidências colhidas na investigação, somadas ao falatório do próprio hacker, desmontam a tese de que ele teria, com os crimes, o objetivo de combater “injustiças” praticadas pela Lava-Jato durante a passagem de Sergio Moro pelo caso.
“(Delgatti) Afirma, ainda, que obteve os diálogos de autoridades públicas e que sua motivação inicial teria sido a perseguição que sofria por um Promotor de Justiça da cidade de Araraquara/SP. Entretanto, há certo destoamento da realidade dos fatos por ele narrado. A invasão do telefone do promotor Marcel Zanin Bombardi é verdadeira, mas sua motivação inicial teria sido agentes públicos que aturaram na operação Lava-Jato, já que o relatório da autoridade policial indica que este ataque foi posterior às invasões dos membros do Ministério Público Federal, o que reforça seu desiderato de busca financeira pela revelação destas conversas, fato este confirmado por Luiz Henrique Molição, que relatou que buscavam o melhor jornalista (da Veja ou Folha de São Paulo) para comprar o material hackeado e que fulmina a alegação de Walter de que agiu de forma altruísta e buscando reparar uma injustiça”, diz o magistrado.
Segundo a investigação, Delgatti queria vender as mensagens roubadas dos investigadores da Lava-Jato. “Chegou a propor o valor de 200.000 reais para o repasse deste material”, lembra o juiz.
“Há o relato de Luiz Henrique Molição de que propôs a venda de material (que continha informações privilegiadas) em bolsa de valores. Tanto é verdade esta afirmação de Walter, pois inúmeras autoridades foram hackeadas e não só agentes públicos da Lava-Jato. Se o intuito, realmente fosse somente o de reparar injustiças, não teria hackeado o ministro da Economia Paulo Guedes e conselheiros do CNMP. A amplitude das vítimas é imensa e poderia render inúmeras ocasiões de extorsões”, segue o juiz.