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Rafael Dubeux, assessor do ministro Haddad: “O Plano de Transformação Ecológica impactará todos os setores da economia em profundidade” — Foto: Divulgação
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quarta-feira 16 de agosto de 2023 às 17:02h

Governo federal promete revolucionar economia com plano verde

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“Nossa ambição é que o Plano de Transformação Ecológica brasileiro seja o mais ambicioso, pelo menos entre os países em desenvolvimento”, diz um dos arquitetos do plano verde brasileiro, Rafael Ramalho Dubeux, assessor especial do ministro da Fazenda Fernando Haddad eme entrevista a Daniela Chiaretti, do jornal Valor. “Não é um plano apenas de descarbonização da economia. Trata-se, fundamentalmente, de um plano de desenvolvimento econômico.”

Anunciado na sexta-feira (11), durante o lançamento do novo PAC, o plano verde brasileiro atende, no momento, por duas denominações – Plano de Transformação Ecológica e Plano de Transição Ecológica. Há quem prefira o termo “transformação”. “Parece mais apropriado para a profundidade da mudança que as medidas acarretam. É profunda a mudança que se pretende na economia brasileira”, diz Dubeux. “Todos os setores serão impactados. O conjunto da obra é muito transformador.”

São seis eixos e mais de cem itens que alcançam toda a economia. Fazem parte de uma agenda para os próximos 3,5 anos. Algumas medidas são de grande envergadura, como a criação do mercado de carbono ou fusão do Plano Safra com o Plano ABC, que promove a agricultura de baixo carbono.

“É um plano para promover o crescimento econômico do Brasil, um crescimento mais distributivo e que busca estabelecer uma nova relação com o meio ambiente”, diz Dubeux, doutor em relações internacionais com tese sobre inovação em energia de baixo carbono.

O plano tem três grandes objetivos: aumentar a produtividade da economia brasileira incorporando inovação e tecnologia, produzir crescimento a partir de uma nova relação com o ambiente e de modo a proporcionar “que todos ganhem”, diz ele. O Ministério da Fazenda coordena as ações econômicas relacionadas à transformação ecológica da economia brasileira junto com equipes espalhadas em todo o Planalto. Dubeux falou ao Valor e detalhou tópicos do que está sendo maturado. A seguir, trechos da entrevista:

Transição ou Transformação?

Estamos usando as duas denominações, Plano de Transformação Ecológica e Plano de Transição Ecológica. Mas achamos o nome “Transformação” mais apropriado para a profundidade da mudança que as medidas acarretam. Transição dá um ar muito suave. É profunda a mudança que se pretende na economia brasileira. Todos os setores serão impactados e em um prazo que a gente espera seja relativamente curto. O conjunto da obra é muito transformador.

Nossa ambição é que o Plano de Transformação Ecológica seja o mais ambicioso, pelo menos entre os países em desenvolvimento.

Diálogo com o PAC

O Plano de Transformação Ecológica conversa com o Programa de Aceleração do Crescimento de várias maneiras. São dois conjuntos com uma grande intersecção entre eles. Algumas ações têm um duplo carimbo, são do PAC e da Transformação Ecológica, como o mercado de carbono. Algumas são só do PAC, como a infraestrutura mais tradicional. Outras, só da Transformação Ecológica, como a bioeconomia.

Não é um pacote, é um processo

Não é um plano apenas de descarbonização da economia. A ideia é que a descarbonização seja uma oportunidade para a gente promover um adensamento tecnológico do setor produtivo. Trata-se, fundamentalmente, de um plano de desenvolvimento econômico. O meio ambiente é um elemento central do plano, mas não é um plano ambiental. É um plano para promover o crescimento econômico do Brasil, um crescimento mais distributivo e um crescimento que busca estabelecer uma relação nova com o meio ambiente.

É profunda a mudança que se pretende na economia brasileira. Todos os setores serão impactados”

Os três grandes objetivos

O primeiro é aumentar a produtividade da economia brasileira. Isso é parte central do plano. Muita gente acha que o Brasil é um país rico e só tem uma renda com distribuição injusta – é verdade que a distribuição é muito injusta, mas não é verdade que a gente é um país rico. Então, para o plano se sustentar, é central que busque o aumento da renda da população brasileira. O objetivo primeiro é aumentar a produtividade incorporando inovação e tecnologia.

O objetivo dois é fazer esse crescimento não à moda antiga, que é crescer destruindo o meio ambiente, mas crescer a partir de uma nova pactuação com o ambiente.

O terceiro grande objetivo não é crescer concentrando renda em meia dúzia de ganhadores, mas crescer com estruturas regulatórias que proporcionem que todos ganhem. É em parte tributação, em parte regulação do mercado. Sempre discutimos ações com esses três objetivos em mente.

Mercado de carbono é ilustrativo

O mercado de carbono tem um objetivo evidente que é reduzir as emissões-estufa, esse é o seu cerne. Mas discutimos como incorporarmos a ele o objetivo de aumento de produtividade da economia. Um dos elementos que estão lá é que os recursos arrecadados no mercado de carbono serão destinados para pesquisa e desenvolvimento relacionados à descarbonização.

Pensamos também como fazer para que os mais pobres também sejam beneficiados com essas estruturas. Os recursos, além de P&D, serão destinados a ações de justiça climática olhando para as comunidades mais afetadas. Criamos um capítulo específico justamente para tratar das comunidades tradicionais e dos povos indígenas, para garantir a eles a repartição justa dos benefícios. É assim para cada ação do plano: procuramos garantir a renda da população brasileira, incorporar inovação tecnológica, fazer isso com a conexão ambiental, garantir que os ganhos sejam distribuídos de maneira justa.

Agenda para 3,5 anos


Muitas das medidas já estão ocorrendo, porque desde o início do governo estamos trabalhando em algumas delas medidas. Como diz o ministro Haddad, esta é uma agenda para os próximos 3,5 anos.

Finanças sustentáveis

Cada um dos seis eixos se desdobra em 10, 20, 30 ações. O primeiro é finanças sustentáveis. A ação do mercado de carbono é uma delas. A tributação de carbono que está dentro da reforma tributária é outra. Prevê imposto seletivo sobre atividades que geram externalidades negativas à saúde, que é o caso do cigarro, ou ao meio ambiente, que é o caso justamente do clima e dos combustíveis fósseis.

Títulos Soberanos Sustentáveis

Devemos ter, como já disse o secretário do Tesouro Nacional Rogério Ceron, a emissão desses títulos provavelmente ao longo do segundo semestre. O valor não está fechado, mas deve ser algo da ordem de R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões. O recurso ficará vinculado a ações verdes e sociais.

O grande ponto é a mensagem política internacional mostrando que o Brasil retomou essa agenda depois dos quatro anos pelos quais passamos. O segundo ponto é que se tende a conseguir uma taxa de juros um pouco mais barata do que a tradicional. E o terceiro fator, muito central, é que, ao fazer a emissão soberana do país, abrimos espaço para o setor privado poder também fazer captações externas. A gente consegue também, de certa maneira, abrir as portas para que empresas brasileiras possam captar lá fora com uma taxa mais barata para descarbonizar.

Existem projetos do governo que iremos tocar e serão enquadrados lá. Mas um dos destinos importantes desse projeto é que ajude a financiar o Fundo Clima.
Nosso foco está em fazer as medidas se estruturarem, ficarem de pé, organizar com todos os ministérios”

Fundo Clima

É um fundo que já existe, é operado pelo BNDES, mas historicamente tem uma captação pequena de recursos. Terá agora um valor expressivo, esperamos, para financiar, a taxa de juros competitivas, atividades que incorporem inovação tecnológica e sustentabilidade. Desde a criação, há mais de dez anos, o Fundo Clima emprestou algo como R$ 2 bilhões. Com essa captação, pode ter, potencialmente, R$ 10 bilhões para emprestar em um ano.

Taxonomia

A União Europeia já fez, assim como a Colômbia, o México, o Chile. Taxonomia é um glossário do que é atividade compatível com a sustentabilidade e do que não é. A ideia é evitar o greenwashing e possibilitar regulações novas. Como hoje não temos essa definição, é difícil estabelecer regulações para crédito ou para o mercado de capitais, que canalizem recursos para essas atividades. A taxonomia é quase um pré-requisito para que a gente possa fazer isso. Estamos discutindo essa ação com o Banco Central, com á Superintendência de Seguros Privados (Susep), com a Comissão de Valores Mobiliários (CVMP). E ver de que maneira conseguimos canalizar mais recursos, também do setor privado, para atividades de descarbonização.

A taxonomia da UE levou seis anos para ser feita. Esperamos, em breve, abrir o que fizemos para consulta pública e ter um roadmap aprovado até o fim do ano.

Adensamento tecnológico

O eixo dois é central para o plano, para que não seja apenas de descarbonização, mas uma oportunidade de fazermos um adensamento tecnológico no setor produtivo. Não é simplesmente fazer política industrial à moda antiga, de proteger setores econômicos que não conseguem competir internacionalmente. Pelo contrário, impulsionar os novos setores que são os do futuro para a descarbonização da economia brasileira. Faremos isso redesenhando as políticas de P&D. Para além disso, pensamos na formação de mão de obra qualificada e crédito competitivo para atividade de inovação tecnológica. É uma agenda extensa.

O Nordeste, por exemplo, tem potencial enorme para renováveis. Podemos instalar turbinas eólicas e painéis solares, mas, se não qualificarmos a mão de obra local, se der algum problema teremos que chamar engenheiros em São Paulo ou no exterior para consertar o equipamento. Ou, ao contrário, ter mão de obra especializada para ter desenvolvimento tecnológico local.

Bioeconomia

É um diferencial do nosso plano. Não existe uma bala de prata, mas criar mecanismos de modo a conseguir gerar renda preservando os biomas. Biotecnologia, por exemplo, deve receber investimento especial do governo. O segundo tema é dar escala bem maior às concessões florestais nos próximos anos. E integrar o Plano Safra com o Plano ABC, de agricultura de baixo carbono.

Transição Energética

O Brasil tem potencial imenso em energia eólica, solar, hidrogênio, biocombustível, diesel verde, combustível de aviação. E mineração: é consenso internacional que a descarbonização precisará de novos minérios. Mas não queremos que essas oportunidades que se abrem para o Brasil sejam apenas mais um ciclo de commodities no Brasil. Podemos, por exemplo, exportar hidrogênio, mas aproveitá-lo para produzir aço verde.

Infraestrutura verde

Aqui entram medidas para criar uma infraestrutura resiliente e que diminua o impacto para os mais afetados pela mudança do clima.

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