Em declaração feita ao canal Brasil Paralelo, no YouTube, o chanceler Ernesto Araújo afirmou que o nazismo e o fascismo são resultados de “fenômenos de esquerda”. Segundo Araújo, regimes totalitários distorceram o sentimento de nacionalismo, o que, para ele, seria uma tática comparável à da esquerda. A declaração gerou reação e foi rebatida por especialistas.
“Eles, de certa forma, sequestraram esse sentimento (do nacionalismo). É muito a tendência da esquerda: pega uma coisa boa, sequestra, perverte e transforma em coisa ruim. Isso tem a ver com o que eu digo que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda. É a mesma lógica”, afirmou o chanceler na entrevista, dada na semana passada e que durou 33 minutos.
A declaração do chanceler repercutiu negativamente na principal emissora de TV pública da Alemanha, a Deustche Welle. Em texto publicado nesta última quinta-feira (28) na versão do seu site em português, a emissora afirma que as falas de Araújo vão contra o consenso acadêmico sobre o tema e ressalta que essa discussão é inexistente entre historiadores sérios do país. “Há décadas não restam mais dúvidas, nos âmbitos acadêmico, social e político, sobre a natureza de extrema direita do nazismo”, diz a reportagem.
O Brasil Paralelo produz conteúdos como séries na internet para assinantes do canal. Também promove cursos e palestras. Entre os palestrantes, está o escritor Olavo de Carvalho, considerado guru do bolsonarismo.
Historiador
Para o jornalista e historiador Marcos Guterman, o nazismo não pode ser qualificado como de esquerda em nenhuma circunstância. Em geral, quem usa esse discurso se vale do nome da legenda nazista: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Há grupos na internet que costumam reproduzir essa ideia.“Mas é outro contexto. Não tem nada a ver com o socialismo marxista. Tem a ver com o sentido da totalidade da sociedade alemã”, afirmou ele.
Para Guterman, se trataria de uma argumentação insustentável cujo único objetivo seria o de mobilizar a militância. “Ele está respondendo a um pensamento do eleitor.” Em entrevista à Deustche Welle no ano passado, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, chegou a afirmar que essa discussão “não tinha base honesta”.
O professor alemão Oliver Stuenkel, da área de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), diz que a afirmação faria parte do “submundo das conspirações”. Para Stuenkel, a fala de Araújo traz constrangimento, mas há o entendimento de que ela não representa a totalidade do governo. Procurada na noite desta quinta-feira, a assessoria do ministro não havia se pronunciado até a publicação deste texto.
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