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segunda-feira 7 de agosto de 2023 às 06:04h

Parlamentar defende candidatura única da base de Jerônimo em Salvador

NOTÍCIAS, POLÍTICA


A deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) voltou a expressar, em entrevista a  Guilherme Reis, Mateus Soares e Paulo Roberto Sampaio , do jornal Tribuna da Bahia, o desejo de que a base liderada pelo governador Jerônimo Rodrigues, do PT, “marche unida” nas eleições do próximo ano, ao invés de uma disputa pulverizada como em 2020.

Tribuna: Quais as principais necessidades de Salvador hoje? Como a senhora avalia a cidade e os últimos anos de gestão?  

Olívia Santana: Eu avalio mais do mesmo. Salvador é uma cidade que segue sem perspectiva, sem respostas aos principais desafios da cidade, de convivência urbana, as necessidades de sobrevivência da população soteropolitana, uma cidade que segue sem conseguir estabelecer uma estratégia de desenvolvimento econômico que possa gerar emprego, renda, as pessoas estão saindo da cidade. Salvador perdeu 250 mil pessoas, então nós temos aqui uma situação de êxodo. Lauro de Freitas cresceu, e Salvador perdeu gente. Lauro de Freitas conseguiu ampliar oportunidades de emprego, e Salvador não conseguiu fazer isso. Salvador é a capital da Bahia, e, portanto, é obrigação do prefeito, da Prefeitura, da gestão, estabelecer, investir, ter foco nos principais problemas da cidade. Esse desafio da geração de emprego e renda é algo objetivo que precisa ser respondido, porque senão as pessoas saem em situação de desalento, acabam indo buscar oportunidades em outras cidades. A situação da mobilidade urbana, nós temos um sistema de transporte em colapso praticamente, de transporte por ônibus, então essas são questões, que na minha opinião, são fundamentais. Embora, por exemplo, a segurança pública seja de responsabilidade do governo do Estado, Salvador pode contribuir e tem o dever de contribuir de maneira complementar em relação ao desafio da segurança pública. Por que Salvador não tem um plano municipal de segurança? Por que Salvador não tem um fundo de segurança pública? Um fundo que pudesse estar recebendo recursos compartilhados do governo federal. A nossa guarda municipal é uma guarda pequena.

Tribuna: A senhora acha que esses problemas sociais que citou, como o desemprego, por exemplo, principalmente, de alguma forma impactam diretamente na segurança pública de Salvador e do estado como um todo?   

Olívia: Uma cidade pobre, uma cidade sem perspectiva, isso acaba criando um verdadeiro exército de desalentados. Muitas vezes, parte dessas pessoas acaba ficando muito vulnerável ao tráfico, a pegar atalhos que podem destruir as suas vidas. Então é óbvio que a questão do desenvolvimento socioeconômico é o principal desafio de Salvador.

Tribuna: Qual a sua avaliação desses primeiros sete meses do governo Lula e, por extensão, do governo Jerônimo Rodrigues?  

Olívia: Penso que o governo Lula é um governo de alívio, trouxe alívio para a vida do povo brasileiro. Em tão pouco tempo o Brasil redefiniu a sua imagem no campo internacional, internamente reduziu o desemprego, nós temos hoje uma taxa de desemprego que é comparável a 2011, por exemplo. Então acho que o governo Lula tem se preocupado com agendas fundamentais para a vida das pessoas. O governo organizou o Bolsa Família, ampliando para R$ 600 antes mesmo de tomar posse, conseguiu também estabelecer o Desenrola para fazer com que as pessoas que estão super endividas possam renegociar as suas dívidas. Enfim, medidas essenciais que vão na direção de atender aos principais desafios que têm tirado o sono do povo brasileiro, a retomada do programa Minha Casa, Minha Vida, da faixa 1 deste programa, a própria configuração dos ministérios, uma nova configuração, você agora olha para os Planalto central do país e vê mulheres, pessoas negras e pessoas indígenas participando do governo. Então, Lula é um governo que chega para unir o povo brasileiro em uma agenda de reconstrução nacional. Em relação ao governador Jerônimo, tenho muito otimismo, porque é um professor que tem uma trajetória de vida, que vem de movimentos sociais, que vem de uma universidade que pensa um projeto capaz de responder os desafios sociais. E, portanto, ser um professor da universidade de Feira de Santana, ter sido secretário de Educação, ter liderado esse projeto, que eu me encanto, das escolas de educação em tempo integral quando era secretário do Estado e agora enquanto governador, ter essa agenda entre as suas prioridades, estar fazendo entregas em tão pouco tempo. Nós vamos ter na Bahia um parque escolar completamente redesenhado, com uma nova infraestrutura, decente, que promove o bem-estar dos estudantes, faz com que os estudantes disputem uma vaga nessas escolas bonitas, novas, dignas, compatíveis com o ideário de Anísio Teixeira e de Paulo Freire. Ele chega com jovialidade, com muito gás, com muita disposição de fazer entregas para o povo baiano. Sei que ele tem as suas preocupações com a fome, com o problema da segurança pública, e acredito que esse governo vai sim buscar as melhores respostas para esses desafios.

Tribuna: A senhora acabou de lançar um livro, o Mulher Preta na Política. Como foi o trabalho de concepção da obra e o que ela representa em sua trajetória política?  

Olívia: Eu sempre quis escrever. Sou uma professora, uma pedagoga e aprendi na universidade e na vida durante os meus desafios anos de sala de aula que a gente precisa viver as experiências, mas também tirar lições delas, buscar sistematizá-las, e eu sendo uma mulher preta, em um lugar que é incomum, em uma posição de parlamentar do estado mais negro do Brasil. E mais contraditório, porque é um absurdo, deve causar espanto o fato de a Assembleia Legislativa da Bahia ter tão poucas mulheres, em um estado composto em sua maioria de mulheres, sobretudo tão poucas pessoas negras e mulheres pretas. Então, chegar lá na Assembleia e ver aquele desenho do poder tão desigual no gênero e na raça, me impulsionou a escrever, fazer dessa experiência algo que possa chacoalhar leitoras e leitores, mostrar que pode ser diferente encorajar mulheres pretas a entrar na política. Eu percebo que, muitas vezes, tem umas mulheres maravilhosas fazendo um trabalho comunitário fantástico, que são convidadas para saírem candidatas, mas acham que não podem ser, que aquilo não é para elas. Isso me incomoda bastante, porque nós lutamos pelas cotas e estamos lutando para mudar essa mentalidade do eleitorado, mas também das lideranças, para que elas possam ousar, se colocar, se expor, e irem para dentro dos partidos políticos. Porque quem candidata é o partido, então é importante que pessoas negras, que mulheres negras possam estar nos partidos, participando da política, e também ocupando esse lugar de candidatas, e eu faço da minha vida, da minha existência, uma vida dedicada ao ideário. Eu tenho um ideal para lutar e eu fico muito feliz por isso. Eu não sou uma pessoa que acredita que as saídas são individuais. As saídas são coletivas, precisam ser coletivas. Eu não posso achar que sou uma pessoa vitoriosa porque eu individualmente hoje ocupo um cargo público. Se eu chegue aqui é porque tem milhares de pessoas que acreditaram nesse projeto e resolveram seguir comigo. Quem disse que o nosso lugar é só lavando roupa ou servindo, fazendo a limpeza das ruas, trabalhando como domésticas, ganhando salários de fome, servindo ao trabalho escravo não remunerado ou mal remunerado? O nosso lugar é em todos os lugares de prestígio social. Nós temos que garantir isso. Por isso, escrevi o livro.

Tribuna: Apesar da enorme desigualdade que ainda persiste, a senhora enxerga hoje de alguma forma uma abertura um pouco maior para a inserção da mulher negra na política em comparação com a época que a senhora começou? Pergunto não só em termos de conquista de governo, mas também em conquista de sociedade.  

Olívia: Acho, sim. Acho que houve avanços importantes. Eu, por exemplo, quando fui candidata pela primeira vez, em 2000, se tivesse a obrigatoriedade de os partidos políticos destinarem os recursos para mulheres e negros, o critério racial também tivesse assegurado como obrigatórios, de gênero e raça, o financiamento de campanha de mulheres e de pessoas negras, eu com certeza teria ganhado a eleição da primeira vez que fui candidata. Eu fiquei na suplência porque eu não tive estrutura financeira necessária para garantir o melhor financiamento de campanha e poder ocupar esse lugar. Eu lembro que no dia da eleição de vereadora no ano 2000, quando deu meio-dia, eu já não tinha nenhum panfleto para distribuir e as pessoas que estavam na campanha ficavam cobrando: ‘Olívia, cadê o material?’. Naquela época, a gente ficava pelas ruas fazendo as campanhas de rua, entregando o material, entregava previamente, e a gente não tinha, simplesmente não tinha, porque a gente não tinha dinheiro para poder bancar material gráfico. Naquela época podia usar outdoor e eu não tinha. Não tinha aquela infraestrutura que eu via, que outros candidatos tinham. Quando olho hoje, vejo que a nossa luta está valendo a pena, houve mudanças na lei. Houve mudanças também na mentalidade de alguns partidos, sobretudo, no meu partido eu vejo transformações importantes acontecerem. Hoje eu vejo, no PCdoB, várias mulheres pretas eleitas. Aqui, em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Paraíba, e eu vejo isso como uma mudança muito importante, ainda temos um poço gigante, ainda é bastante desigual, mas a gente está caminhando.

Tribuna: Como a senhora falou, Salvador é uma cidade mais negra, inclusive fora do continente africano, mas ainda não teve uma mulher preta eleita prefeita. A gente pode citar o racismo e também essa falta de apoio e de estrutura partidária por não ter tido uma prefeita negra ou mais prefeitos negros?  

Olívia: Essa é uma questão civilizacional. As pessoas, os partidos políticos, principalmente os partidos de esquerda, os partidos que têm compromisso com uma agenda democrática, precisam pensar que não é mais possível manter essa estrutura de segregação política de pessoas negras. Não é um problema de faltar pessoas preparadas para ocupar o cargo de prefeita da cidade de Salvador. Nós temos vários quadros com essas condições, mulheres negras, homens negros. O que nós não temos é essa visão política por parte das estruturas partidárias de que se deve apostar para valer em nomes de pessoas negras para ocupar de fato a Prefeitura de Salvador, articulando forças políticas, garantindo o financiamento adequado. Não é lançar por lançar, é lançar dentro de um projeto de gestão da cidade, é garantir o arco de alianças necessário para que aquela candidatura de fato se viabilize. Como foi que aconteceu em 2020. Não basta simplesmente lançar candidaturas negras, pulverizar as forças políticas, e não se preocupar com o resultado daquele processo eleitoral. É preciso de fato ter uma visão, um compromisso de que vamos quebrar essa hegemonia da branquitude, e vamos garantir candidaturas negras, vamos garantir a articulação política necessária, financiamento de campanha, construção de projeto coletivo de cidade. Os brancos quando são candidatos se colocam como representantes do povo. Por que quando uma pessoa negra se coloca como candidata é vista como aquela que só vai cuidar de um pedaço da população? Isso é errado. É uma visão equivocada. Então, na verdade, essa estrutura racista acaba beneficiando a perpetuação de lideranças masculinas, brancas, e de famílias tradicionais. E nós precisamos subverter isso. Nós precisamos mudar isso.

Tribuna: A senhora antecipou uma pergunta sobre qual é a melhor estratégia. Nas eleições passadas, o grupo do governo do Estado optou por apoiar várias candidaturas. Na sua avaliação, talvez, a melhor estratégia seja aglutinar e estabelecer um amplo apoio partidário em torno de um único nome para disputar a Prefeitura?  

Olívia: A melhor estratégia é o que os partidos sabem o que tem que fazer e fazem por exemplo em relação ao governo do Estado. Quando a gente quer ganhar o governo do Estado, a gente une forças, vai lá e ganha, vence, porque tem uma união de forças políticas em torno daquela liderança que é colocada como candidato. Isso ocorreu também relação ao governo Lula. O presidente Lula buscou somar o máximo de esforços, de partidos políticos para poder enfrentar e derrotar o bolsonarismo, o governo Bolsonaro. Então o Lula saiu vitorioso, como em todas as outras candidaturas que ele ganhou a eleição a tática sempre foi de unir, então a tática de pulverização, que foi adotada em 2020, foi uma tática errática, todos nós sabíamos que aquilo ali não resultaria em uma vitória de uma das candidaturas do nosso campo. E eu realmente espero e trabalho para que isso não aconteça em 2024.

Tribuna: Como estão as conversas do PCdoB em relação ao posicionamento do partido nas eleições de 2024 e como a senhora se insere nesse contexto? A senhora, que surge como um dos principais nomes justamente para encabeçar uma chapa na disputa pela Prefeitura de Salvador… 

Olívia: No PCdoB, nós estamos com muita coesão interna. O meu nome foi aprovado agora pelo comitê municipal para ser oferecido para a federação, a nossa federação é composta por nós e pelo PT e PV, então nós fizemos a discussão. Estamos preocupados com a cidade de Salvador, temos projetos, temos proposta, temos nome, eu fui a deputada mais votada na cidade, sou nascida e criada, como diz o povo, em Salvador, e conheço muito bem essa cidade, o Subúrbio, o miolo, a orla, e, portanto, me sinto preparada, sim. Por 10 anos eu fui vereadora de Salvador, fui por três vezes secretária, fui secretária de Educação, secretária estadual de Mulheres, secretária do Trabalho. Então, se a questão for experiência política, quero dizer que estou preparada, e tenho experiência política, sim. E tenho visão sobre essa cidade. Salvador é uma cidade incrível. Salvador tem uma população criativa, uma população trabalhadora, o povo que está na Feira de São Joaquim às 4 horas da manhã, na Feira do Japão para ganhar um troco, ganhar o pão dignamente. A grande e ampla maioria das pessoas que estão nas favelas, nos bairros populares, são pessoas honestas, que apesar da pobreza, apesar de todas as dificuldades, se mantém no caminho limpo, digno, e, portanto, a gente tem que olhar para essa cidade, enxergando nela o que ela tem de melhor, que é a sua gente. E construir um projeto para Salvador que valorize essa expertise que o nosso povo tem na luta pela sobrevivência, que dialogue com os setores produtivos, que invista de fato para que essa população tenha uma mobilidade urbana de qualidade, decente, democrática, que tenha novas oportunidades. Um absurdo um prefeito fechar mais de 40 escolas de educação de jovens e adultos, quando na verdade deveria abrir essas escolas e estabelecer uma política de educação, de alfabetização, de conclusão do ensino fundamental, ensino médio, conectada com as reais necessidades do mercado de trabalho, tornar a educação de jovens e adultos atraente para a abertura de novas oportunidades para essas pessoas, ao invés de passar recibo de sepultamentos. Então, eu realmente tenho essa inquietação, estou à disposição para colaborar, contribuir para que a gente possa construir um projeto generoso para a cidade, e eu espero que a base liderada pelo governador Jerônimo Rodrigues marche unida com o projeto decente, que respeite essa cidade, e que realmente traga propostas inovadoras, compatíveis com as reais necessidades do nosso povo.

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