Em um protesto semelhante aos que desencadearam tensões entre a nação escandinava e países do Oriente Médio, nas últimas semanas, Salwan Momika e Salwan Najem pisotearam uma cópia do livro sagrado muçulmano, antes de atear fogo ao exemplar, como já haviam feito em frente à principal mesquita de Estocolmo.
Naquela ocasião, o ato gerou uma onda de indignação no Oriente Médio, com protestos no Iraque e outros países da comunidade muçulmana. Os homens já haviam realizado outro protesto semelhante em frente à embaixada do Iraque, em Estocolmo, em 20 de julho.
Os casos foram discutidos pelos chanceleres dos 57 Estados-membros da OIC, que participaram de uma reunião extraordinária da entidade sediada em Jeddah, no oeste da Arábia Saudita.
“Estamos desapontados por nenhuma ação ter sido tomada oficialmente para evitar a recorrência desses atos de provocação”, disse o secretário-geral da OIC, Hissein Brahim Taha, durante a abertura da sessão. “Gostaria de enfatizar que temos todo o respeito pelos povos sueco e dinamarquês e sabemos que os atos cometidos em seus territórios são obra de uma minoria de extremistas”, acrescentou o diplomata do Chade.
Incidentes causam agitação na comunidade muçulmana
Na Dinamarca, o movimento de extrema direita Danske Patrioter divulgou um vídeo, no final de julho, mostrando um homem profanando e queimando o que parece ser o Alcorão e pisoteando uma bandeira iraquiana.
Esses incidentes causaram agitação no Iraque, onde centenas de manifestantes invadiram e incendiaram a Embaixada da Suécia. O embaixador sueco em Bagdá foi expulso e o Irã anunciou sua recusa de qualquer novo embaixador do país escandinavo em seu território.
A Arábia Saudita, onde estão localizadas as cidades sagradas muçulmanas de Meca e Medina, convocou, por sua vez, diplomatas suecos e dinamarqueses.
Antes da reunião desta segunda-feira, a Suécia e a Dinamarca tentaram aliviar as tensões. Os ministros das Relações Exteriores dos dois países condenaram as profanações do Alcorão. Em telefonemas ao secretário-geral da OIC, os chanceleres ainda informaram sobre o processo de concessão de permissões para reuniões públicas, explicando que a polícia tomava essas decisões de forma independente, de acordo com um comunicado de imprensa da organização, divulgado antes da reunião.
O protesto desta segunda-feira foi autorizado pela polícia sueca, mas a força de segurança afirmou que as permissões concedidas se referem apenas à organização das manifestações, e não ao que acontece nelas.
“Proibir o Alcorão”
Os manifestantes disseram à imprensa que querem que o livro sagrado muçulmano seja proibido na Suécia. No pedido de autorização para o protesto, os organizadores declararam a intenção de queimar um exemplar do Alcorão. “Vou queimá-lo muitas vezes, até que o proíbam”, disse Najem, um refugiado iraquiano de 37 anos, ao jornal Expressen.
Mats Eriksson, porta-voz da polícia de Estocolmo, avaliou que os atos contra o Alcorão ocorreram “sem graves perturbações à ordem pública”.
Durante o protesto, Momika também pisou na imagem do influente clérigo xiita Moqtada Sadr, cujos seguidores invadiram brevemente a embaixada sueca em Bagdá em junho, antes de incendiá-la no mês seguinte.
O ato acontece em um momento de deterioração das relações da Suécia com vários países do Oriente Médio, após episódios seguidos de profanação do Alcorão.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, condenou o ato e alertou, em meados de julho, que não deveria haver novas ofensas ao Alcorão.
Muitos observadores criticaram os países muçulmanos por denunciar atos considerados islamofóbicos na Europa, mantendo silêncio sobre a discriminação e violência cometida contra minorias muçulmanas na China e na Índia.