As delegações de 49 países e 17 chefes de Estado do continente participam da cúpula. A presença do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, é considerada como uma das mais importantes. Em um comunicado, ele declarou que os dirigentes do continente vão falar com Putin sobre medidas que criariam condições favoráveis para obter a paz entre a Rússia e a Ucrânia.
“O jogo africano de Putin para sair do isolamento” é manchete do jornal Le Figaro. Para o diário, o encontro é uma forma de ostentar equilíbrio, apesar da guerra na Ucrânia e da não renovação do acordo de exportação de grãos no Mar Negro, que preocupa os países da África.
O Le Figaro afirma que o presidente russo está “isolado na cena internacional desde o lançamento da ofensiva militar na Ucrânia”. Ainda assim, “o mestre do Kremlin” pode contar não somente com a China – tradicional aliada – mas com o apoio de várias nações africanas. No entanto, os desacordos com o grupo paramilitar Wagner, que têm forte atuação na na África, e o fim do acordo de exportação de grãos colocam em risco a influência russa no continente africano.
O jornal Le Monde também afirma que o objetivo de Moscou com a cúpula é “restaurar uma imagem danificada e desmentir a impressão sobre seu isolamento internacional”. Putin, afirma o Le Monde, quer mostrar que a Rússia continua forte e espera manter a confiança dos africanos, já que o continente se tornou uma vítima colateral da guerra na Ucrânia.
Líderes africanos contra países ocidentais
O jornal Libération afirma que “a retórica do combate anticolonialista “tempera” o programa da cúpula”, que prevê cerca de trinta mesas-redondas e que, segundo o diário, tem o objetivo de mobilizar os líderes africanos contra os países ocidentais. A matéria cita o pesquisador Ronak Gopaldas, especialista em política e economia africana, que classifica como “simplista” a ideia de que a África seria mais sensível à propaganda russa.
Segundo ele, o continente se sente “sobretudo ignorado pelo Ocidente e deplora há muito tempo sua marginalização”, mas tem consciência de que é objeto de uma competição feroz entre ocidentais, russos e chineses. No entanto, o comércio bilateral com a Rússia é modesto, se comparado com a China: US$ 20 bilhões.
Primeira parceira da África, em 2021 Pequim investiu US$ 254 bilhões no continente. Por outro lado, Moscou fornece aos países africanos mais da metade de seus equipamentos militares – o que tem um peso importante nesta balança.
Libération prevê que nos próximos dois dias, Moscou tentará denunciar os interesses norte-americanos, os valores neoliberais e propor a recusa dos “ditktaks” ocidentais: um comportamento que remete à Guerra Fria. Mas o diário questiona: “quem será sinceramente convencido por essa tentativa de alinhamento a uma causa que não diz respeito diretamente aos africanos?”.