Derrotado pelo ex-governador João Doria nas prévias do PSDB à Presidência no ano passado, Eduardo Leite não abandonou os planos de concorrer ao Palácio do Planalto e, ainda que à frente do governo do Rio Grande do Sul, já trabalha para se cacifar à disputa de 2026. A costura, porém, não tem se mostrado simples. Desde janeiro no comando do PSDB, o gaúcho tem sido alvo de insatisfações internas e críticas até mesmo de aliados, que apontam falta de protagonismo do governador e da legenda.
Tucanos ouvidos por Bianca Gomes, O Globo acusam Leite de tirar o PSDB do debate público e quase não se posicionar politicamente no primeiro semestre do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Citam, por exemplo, a demora em repudiar as falas do petista sobre a Venezuela e Nicolás Maduro. Ou mesmo o silêncio sobre a inelegibilidade de Jair Bolsonaro e temas do Congresso.
Segundo tucanos, os principais posicionamentos públicos de Leite ocorreram após pressão da executiva do partido. Caso, por exemplo, das críticas aos decretos de Lula que previam mudanças no marco do saneamento.
A percepção de parte dos integrantes do PSDB é que Leite tem poupado críticas ao governo petista e não tem exercido a sua função de dirigente partidário da oposição, perdendo espaço para PL e PP. A inação, no entanto, não seria por uma adesão velada ao Planalto, e sim porque, como chefe do Executivo gaúcho, precisa cultivar uma boa relação com o governo federal, de quem recebe recursos.
A consequência, dizem tucanos, é que, na lista dos possíveis herdeiros do espólio bolsonarista, Leite figura atrás de nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos)e Romeu Zema (Novo), governadores de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente.
Recentemente, numa tentativa de se aproximar da direita, o gaúcho afirmou querer “união” com Tarcísio e Zema em 2026. E, em aceno ao eleitorado conservador na semana passada, anunciou a manutenção das escolas cívico-militares no Rio Grande do Sul.
A medida rendeu um bate-boca nas redes sociais com o ex-deputado Jean Wyllys, que chamou o tucano de gay com “homofobia internalizada”, em referência à sua orientação sexual. Após a discussão no Twitter, o governador acionou o Ministério Público contra Wyllys por falas que considerou discriminatórias. O episódio é citado por tucanos como o único em que o governador ganhou holofotes.
Relações internas
Além de mais posicionamentos, Leite tem sido cobrado a melhorar sua relação com as bancadas do PSDB no Congresso. Alguns parlamentares queixam-se da falta de diálogo com o presidente do partido e da grande influência do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) sobre o gaúcho.
Regionalmente, o maior problema do tucano é em São Paulo, onde ele não conseguiu entrosamento com a ala ligada a Doria. O gaúcho ainda lida com outra dor de cabeça: um processo movido pelo prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, que tenta anular na Justiça a eleição que consagrou Leite presidente da sigla.
— Foi um golpe. Até agora, não vi nada de novo na gestão dele a não ser buscar os derrotados das prévias em São Paulo. Ele fala que é oposição ao governo, mas veja como vota a bancada na Câmara.
Um dos maiores aliados de Leite em São Paulo, o prefeito de Santo André, Paulo Serra, diz que o gaúcho está reestruturando o partido nacionalmente atraindo filiados.
— Temos que mostrar que existe vida inteligente fora dos extremos e voltarmos a ser reconhecidos como um partido formulador de soluções para o Brasil — afirmou o prefeito, que minimiza reclamações contra Leite. — É um processo gradual de construção de um posicionamento equilibrado. Somos oposição ao governo Lula, mas não seremos oposição ao Brasil como o PT fez no governo FH.
Aliados do gaúcho ouvidos pelo O Globo ressaltam que seis meses ainda é pouco tempo para fazer qualquer mudança substancial no partido. E que Leite tem procurado ouvir sugestões de todos os integrantes antes de encaminhar propostas.
Pensando em 2026, Leite contratou uma pesquisa para testar o conhecimento de seu nome, a força de competidores como Tarcísio e a aceitação sobre o voto em um candidato que declarou publicamente ser homossexual.
A pesquisa quantitativa foi feita em meados de maio e ouviu 2 mil eleitores de São Paulo, estado estratégico para Leite trabalhar sua candidatura. Os tucanos procuraram entender de que forma o gaúcho pode atrair o eleitor de direita que votou em Bolsonaro. Um dos resultados que mais chamaram a atenção de integrantes do PSDB foi o de que aproximadamente um quinto dos paulistas não votaria em um candidato gay.
O levantamento mostra que Leite tem um longo caminho a percorrer até 2026. Em São Paulo, a maioria dos eleitores não sabe quem é o gaúcho. Por consequência, ele também cultiva uma baixa rejeição. A boa notícia para o governador é que os eleitores paulistas o enxergam como alguém do centro, fora da polarização Lula e Bolsonaro. Procurado, Leite não respondeu.