O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara segundo Fabio Murakaw, do jornal Valor, uma reforma ministerial para agosto que deve enxugar a participação do PT e do PSB na Esplanada a fim de contemplar partidos do Centrão. Mas Lula já sinalizou que não está disposto a ceder a todos os desejos do grupo político do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o que tem criado desconforto entre parlamentares que dizem esperar “uma oferta generosa” do governo.
Segundo apurou o Valor, a meta no Palácio do Planalto com as mudanças é angariar 50 votos do União Brasil, 30 do PP, 30 do PL e 30 do Republicanos — 140 ao todo. Somado aos deputados da federação PT, PCdoB, PV (81), além de PSD (43), MDB (43), Avante (7), Podemos (12) e SD (4), isso dá mais de 330 deputados. Consegue-se, assim, quórum constitucional de 308 votos para aprovar medidas de interesse do governo.
Lula, porém, está ciente de que PP, União e Republicanos não se declararão oficialmente base do governo nem estarão 100% fechados com o Planalto em todas as matérias. Nas palavras de um auxiliar, “a ideia é criar uma base que aguente estresse e que não fabrique estresse”.
Ou seja, o governo sabe que não conseguirá aprovar temas polêmicos, como pautas de costume e a revisão da reforma trabalhista. Mas pode garantir estabilidade para votações que estão por vir ou ainda estão pendentes, como medidas de ampliação de crédito, transição ecológica e a conclusão da reforma tributária.
Lula deve se encontrar com Lira e líderes do Centrão nos próximos dias para fechar um acordo. Já está praticamente definido que os deputados Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) se tornarão ministros em agosto. Entretanto, as pastas que eles ocuparão ainda estão sob análise.
As possíveis mudanças envolvem vários ministérios e estão sendo discutidas internamente entre Lula, seus auxiliares mais próximos como Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), e ministros ligados a partidos políticos. Além de demissões pontuais, pode haver uma dança das cadeiras para abrir espaço na Esplanada.
Também há conversas em andamento com lideranças do Congresso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), jantou na quarta-feira (12) com Silvio Costa Filho e Hugo Motta (Republicanos-PB) e deve participar cada vez mais das articulações.
Uma ideia aventada no Planalto é a saída do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), cedendo lugar ao correligionário Márcio França, hoje titular do Ministério de Portos e Aeroportos.
Assim, essa pasta ficaria vaga para a entrada de um representante do Centrão. Mas isso dependerá de uma conversa de Lula com Alckmin e da disposição do vice de deixar de acumular as funções. Uma alternativa seria Alckmin ir para a Secretaria-Geral no lugar do petista Márcio Macedo.
Outra possibilidade em estudo é a mudança de Luciana Santos (PCdoB) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para o Ministério das Mulheres, hoje ocupado por Cida Gonçalves, que não tem filiação política.
Interlocutores afirmam que Lula tem resistido a demitir Ana Moser do Ministério dos Esportes, cobiçado pelo Centrão. Assim como ocorreu com Nísia Trindade (Saúde), o presidente considera a ex-jogadora de vôlei uma ministra “não trocável”, de sua cota pessoal.
Segundo uma fonte do primeiro escalão do governo, além disso, Lula tampouco pretende entregar ao Centrão a presidência da Caixa e o comando o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), responsável pelo Bolsa Família. Mas o atual titular do MDS, o senador e ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT), pode ser realocado em outro ministério. Quanto à presidente da Caixa, Rita Serrano, a tendência é que ela seja substituída devido à insatisfação de Lula com seu desempenho no cargo.
Na quinta-feira (13), Lula oficializou a nomeação do deputado Celso Sabino (União-PA) como ministro do Turismo no lugar de Daniela Carneiro. Além dele, o partido já tem o Ministério das Comunicações, com o deputado Juscelino Filho (MA). Entretanto, a legenda ainda quer a presidência da Embratur e dos Correios, que estão dentro das pastas que comanda. E as negociações devem prosseguir.
Mas, mesmo com todas as mexidas, o governo sabe que o controle sobre o Orçamento continuará a ser um ponto de atrito com o Congresso. Há muita expectativa e apreensão no Planalto com as votações da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA) no segundo semestre.