O carro elétrico ainda é caro no Brasil. Mas, conforme reportagem de
, na revista Quatro Rodas, sucessivas reduções e reposicionamentos de preços já estão colocando os carros elétricos na mesma faixa de preço de hatches compactos completos, que também são caros. Falta pouco para um carro elétrico custar o mesmo que um carro a combustão.Com R$ 130.000 a disposição, é possível comprar um um Fiat Pulse Impetus 1.0 (R$ 128.990) ou um Honda City EXL (R$ 128.000), mas agora existe o Caoa Chery iCar sendo vendido por R$ 129.990. É o carro mais barato do Brasil na atualidade e também um dos menores do país, mas pode ser uma boa solução para uso urbano: tem apenas 61 cv e a autonomia de 197 km no ciclo Inmetro.
Dá para chegar a um carro com porte mais realista, sim. O BYD Dolphin foi lançado há menos de duas semanas e foi, de fato, o motivador da redução de preço do iCar e do JAC e-JS1 (R$ 139.990). Isso porque tem motor maior, de 95 cv, autonomia de 291 km (Inmetro) e é muito maior. Custa R$ 149.800, pouco menos que um Nissan Sentra Advance (R$ 149.990), um carro que também tem 2,70 m de entre-eixos.
Ok, são poucos os que compram um sedã médio hoje. Mas com R$ 150.000 pode-se comprar quase qualquer SUV compacto em versão intermediária. Um Jeep Renegade Longitude (R$ 150.990), um Nissan Kicks Exclusive Tech (R$ 148.790), um Hyundai Creta Limited (R$ 146.390), um Fiat Fastback Impetus (R$ 147.990) ou também um Volkswagen T-Cross Comfortline (R$ 152.990).
Não se pode ignorar o fato de o BYD Dolphin não ter sistemas de segurança avançada, como frenagem de emergência e monitor de pontos cegos, que estes SUVs têm. Mas é a primeira vez que um carro elétrico com boas dimensões (tem 4,13 m de comprimento, 4 cm a mais que um Fiat Pulse) chega por um preço relativamente baixo.
Também vale fazer uma reflexão sobre o que realmente é caro: se um carro elétrico de última geração importado da China custa o mesmo que um SUV compacto com plataforma de hatch e fabricado no Brasil, quem está caro é o SUV, certo?
Para quem só roda na cidade, pode ser uma boa escolha. Um Dolphin gasta R$ 0,15 por quilômetro rodado enquanto um SUV que faz 12 km/l na cidade gasta R$ 0,43 por quilômetro rodado (considerando a gasolina a R$ 5,20).
Mas se a troca interessar, não deixe de calcular o preço do seguro (geralmente mais caros nos carros elétricos) e uma possível desvalorização maior. Porque tudo ainda pode mudar muito rápido no segmento de elétricos, inclusive o preço.
Mais baratos de um dia para o outro
O BYD Dolphin causou (e ainda vai causar mais) efeitos positivos nos preços dos carros elétricos. A partir de agora vai pegar mal lançar um carro elétrico menor num preço acima dos R$ 149.800 do hatch chinês. Da mesma forma que já pega mal lançar um elétrico acima dos R$ 329.990 do Volvo XC40 Rechage Plus (com um motor e 231 cv).
A Volvo foi a primeira a dar dor de cabeça e, de certa forma, constranger concorrentes. Como pode um Volvo, um carro de luxo, custar o mesmo que um Chevrolet Bolt? Foi um dos motivos para o Chevrolet Bolt EUV ter sido lançado por R$ 279.990, ou R$ 50.000 mais barato que sua versão curta. Por sinal, as últimas unidades do Bolt convencional estão sendo oferecidas por R$ 259.990.
Outro carro que vai dar muita dor de cabeça é o Volvo EX30. O menor SUV elétrico da Volvo está previsto para chegar ao Brasil no início de 2024 por menos de R$ 250.000. Seria mais barato que o Peugeot e-2008 (R$ 259.990), que deverá ser atualizado no Brasil para se igualar ao modelo europeu quase ao mesmo tempo.
O próprio lançamento do Peugeot e-2008 forçou a Peugeot a reposicionar a versão elétrica do hatch 208. Ele havia sido lançado por R$ 244.990 e teve preço reduzido a R$ 219.990. Agora já custa R$ 237.990.
Por fim, há o recente caso do Hyundai Kona EV. Ele foi anunciado para o Brasil em março e duas semanas depois o encontrei na concessionária por R$ 289.990. Era muito caro para um carro que está mudando de geração e tem bateria com apenas 39,2 kWh de capacidade e 252 km de autonomia (Inmetro). Agora que as entregas começaram, teve seu preço reduzido em R$ 70.000, para R$ 219.900. Ainda é caro.
O que há em comum entre os BYD Dolphin e os Volvo elétricos? Todos eles são fabricados na China, o maior mercado de carros elétricos do mundo. O custo menor de produção tem peso no preço final. Às outras fabricantes resta reduzir preços e margens e deixar de tratar carros elétricos como carros especiais e de nicho, antes que seja tarde.