Entrada do estratégico país na aliança militar fica mais próxima com o sinal verde dado pela Turquia. Adesão também poderia trazer benefícios para a proteção dos suecos contra eventuais ataques.No ano passado, com a crescente tensão instalada na Europa após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Suécia e a Finlândia abandonaram sua histórica neutralidade militar e candidataram-se, em maio de 2022, a ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Enquanto o processo da Finlândia correu mais rapidamente e o país se tornou o 31º membro da Otan no dia 4 de abril deste ano, a Suécia ainda aguarda o aval para a entrada no grupo.
Isso porque, para que um novo membro seja aceito, é preciso o consentimento de todos os outros países da aliança. E a Turquia vinha usando seu direito de veto sobre a Suécia e, como a Hungria, bloqueando o ingresso do país escandinavo.
Ancara acusou Estocolmo de ser muito benevolente com os ativistas curdos que abriga em seu território, pessoas que o governo turco classifica como “terroristas”.
Mas, no início desta semana, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acenou positivamente a Estocolmo e parece ter abandonado sua resistência. Agora, a adesão da Suécia parece possível pela primeira vez. O que a Otan e a Suécia ganham com isso?
Vantagens geográficas
Se a Suécia se tornar membro da Otan, toda a costa do Mar Báltico faria parte do território da aliança – com exceção da costa da Rússia e seu exclave de Kaliningrado.
No caso de um ataque russo, por exemplo, seria mais fácil defender os países bálticos, que já fazem parte da Otan. Tropas e equipamentos poderiam ser enviados para a Estônia, a Letônia e a Lituânia via Suécia com muito mais facilidade.
A ilha sueca de Gotland também desempenha um papel especial. “Com esta grande ilha no meio do Mar Báltico, a Suécia tem uma base estratégica extremamente favorável. A partir dela, você pode controlar praticamente todo o Mar Báltico”, explica Simon Koschut, que ocupa a cadeira de política de segurança internacional na Universidade Zeppelin em Friedrichshafen, na Alemanha.
Segundo o especialista, a localização geográfica do país é a principal razão pela qual a adesão da Suécia à Otan seria tão atraente.
E os militares suecos?
As Forças Armadas da Suécia e seu equipamento militar também seriam uma adição valiosa à Otan. O país é pequeno – e, portanto, tem um exército enxuto. De acordo com o Global Firepower Index, é composto por 38 mil pessoas.
No entanto, “os suecos têm um exército muito moderno, em particular uma força aérea moderna de fabricação própria”, explica Koschut.
Os caças suecos Gripen, inclusive, são os que foram comprados pelo Brasil em um acordo fechado em 2013 para renovar a frota da Força Aérea Brasileira. As primeiras aeronaves de um lote de 36 caças já foram entregues.
Os suecos também são uma potência marítima com submarinos. E têm experiência: já participaram de algumas missões da Otan, por exemplo, no Afeganistão.
A Suécia gasta cerca de 1,3% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa, significativamente mais do que alguns anos atrás, e espera-se que essa parcela continue crescendo nos próximos anos.
Após o fim da Guerra Fria, a Suécia, como muitos países ocidentais, reduziu significativamente os gastos com defesa. No entanto, com a invasão da Geórgia pela Rússia em 2008 e, depois, com a anexação da região ucraniana da Crimeia por Moscou em 2014, começou a repensar essa estratégia, sobretudo após a guerra na Ucrânia.
Quais seriam os benefícios para a Suécia?
A Suécia e a Otan já trabalham juntas de várias maneiras. Uma mudança decisiva para o país escandinavo no caso da adesão seria poder contar com o Artigo 5 do tratado da aliança, que diz que um ataque armado contra um país da Otan é considerado um ataque contra todos. Nesse caso, a aliança militar se compromete a prestar assistência.
“É claro que essa proteção é crucial para a Suécia”, destaca Koschut.
Além disso, os suecos também seriam membros plenos do Conselho da Otan, o principal órgão de decisão da aliança, e teriam direito de veto – como a Turquia, que até agora vinha fazendo uso dessa premissa para bloquear a adesão do país escandinavo.