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A CORTE - Lira (no centro) e seu grupo mais próximo: Elmar Nascimento (à dir.), Isnaldo Bulhões, Juscelino Filho, Antonio Brito, Hugo Motta, Fufuca e Felipe Carreras - lustração Carlinhos Müller
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terça-feira 11 de julho de 2023 às 16:07h

Centro ganha espaço

ARTIGO, NOTÍCIAS, POLÍTICA


Em política, é precipitado declarar a morte de alguém; diz-se até que o fundo do poço tem uma mola, conforme artigo de Merval Pereira, no O Globo. No momento, segundo artigo, o ex-presidente Bolsonaro (PL) parece a caminho de um fim de carreira inevitável. Pode até ser o líder de uma pequena facção radical, mas quase certamente não será o líder do maior partido do Congresso, o PL, que já tem dono, o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto.

Apesar da recomendação peremptória do ex-presidente, que primeiro queria fechar questão contra a reforma tributária e, sem conseguir, depois orientou a bancada a votar contra, 20 deputados do PL votaram a favor, o que desencadeou uma crise sem precedentes na maior bancada da Câmara. Para ter ideia da força do partido, com 99 deputados federais, o PL, mesmo com a dissidência, continuaria à frente do PT, que, com 68 integrantes, tem a segunda maior bancada.

O primeiro grande racha no partido foi uma reação de um pequeno grupo contra o isolacionismo de Bolsonaro, que relembrou a atitude do PT no início de sua caminhada, quando votava contra qualquer medida do governo tucano, inclusive o Plano Real. O raciocínio dos bolsonaristas hoje é que o PT jamais reconhecerá o apoio de um partido adversário e, portanto, não vale a pena abrir mão de uma oposição radical, que serve para marcar posição.

Os que votaram com o governo, por entender que a reforma tributária será importante para o país voltar a crescer economicamente, foram considerados traidores e assim denunciados no grupo de WhatsApp do partido. Classificados pelos companheiros de radicais, os que ficaram com Bolsonaro usaram imagens comuns à direita golpista, como “melancias” (verde por fora, vermelha por dentro).

Não demorou para que houvesse a proposta de abandonar o partido, o que aumentaria a crise partidária. A solução foi tirar o sofá da sala: o grupo de WhatsApp foi encerrado. Quem rompeu esse isolamento estratégico certamente irritou os bolsonaristas, menos pela divergência, mais por ter enfraquecido uma posição extremada, revelando discordância interna que significa que há os que consideram ser melhor ficar perto do governo que se pendurar em um Bolsonaro inelegível. Mas será mesmo que Bolsonaro está morto?

A não ser que o governo Lula venha a ser um desastre na economia, o que nada indica, me parece que se abriu na votação da reforma tributária um espaço para os políticos da centro-direita que há muito não aparecia. Mesmo que a polarização continue sendo útil a Lula e Bolsonaro, o surgimento de políticos de direita que estejam dispostos a dialogar é um bom caminho no momento em que o cansaço da radicalização parece tomar conta da sociedade.

Bolsonaro não tem a capacidade de baixar as armas e mudar de atitude, enquanto os governadores de Minas, Romeu Zema, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sempre foram políticos de direita que não se aproximaram da radicalização. Pode ser que a política partidária se normalize com uma oposição civilizada. Não é do feitio de Valdemar Costa Neto buscar uma radicalização, e, no momento, parece estar satisfeito com um Bolsonaro fragilizado, mas dono ainda de um eleitorado importante.

Se o centro se ampliar, o PL tem tudo para vir a ser o grande partido da direita. Bolsonaro liderará um partido de extrema direita que acabará surgindo dessa divisão entre centro democrático e os extremos partidários, à esquerda e à direita. Bolsonaro é um político individualista, que abandona seus liderados pelo caminho. Por isso não conseguiu montar seu próprio partido quando estava no governo. Nesse caso, Bolsonaro terá dado vários passos atrás, voltando às suas origens, e provavelmente não terá ambiente eleitoral para repetir a façanha de 2018.

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