Depois do período conhecido como a “grande renúncia” no mercado de trabalho dos Estados Unidos, um período em que um contingente de trabalhadores passou a pedir demissão, o comportamento das pessoas no ambiente profissional sofreu diversas mudanças, como foi o caso da onda de “quiet quitting” (“desistência ou demissão silenciosa”, na tradução para o português), em que funcionários faziam o mínimo esforço no trabalho até serem mandados embora. A nova tendência é o “grumpy staying”.
O termo “grumpy staying” pode ser traduzido, em versão literal, como “ficando [em um lugar] de mau-humor”. Neste caso, estaria mais próximo de “trabalhar com mau-humor”.
A expressão está sendo usada para designar um novo movimento de empregados norte-americanos descontentes com as suas funções, mas que permanecem com seus empregos, ainda que contrariados.
Com a desaceleração do mercado de trabalho norte-americano, trocar de trabalho não é mais tão fácil como na época da “grande renúncia”, período durante a pandemia de Covid-19, em que quase 50 milhões de pessoas pediram demissão.
Na época, muitos conseguiram encontrar um emprego melhor, com melhor remuneração, em meio as oportunidades que surgiam com o home office.
Nesse cenário, o “grumpy staying” seria quase que uma consequência do “quiet quitting”, em que muitos funcionários insatisfeitos manifestam isso no ambiente de trabalho, mas não pedem demissão pelo medo de não conseguir um novo cargo logo em seguida.
Ou seja, em vez de trabalharem o mínimo possível, na verdade, prejudicam diretamente suas empresas.
Insatisfação salarial e profissional
Aumentos consecutivos nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA), desaceleração do crescimento salarial, inflação em alta e demissões em massa por parte de grandes empresas podem estar fazendo com que os norte-americanos permaneçam em seus trabalhos, mesmo que contra suas vontades, e intensifique essa nova onda de “grumpy staying”.
Uma análise recente da ADP mostra que o número de pessoas que desistiram de seus empregos despencou em 2023. De acordo com o relatório do “Bureau of Labor Statistics”, o departamento de pesquisas sobre trabalho nos Estados Unidos, as taxas de demissões em abril continuam caindo em 2,4%.
A desaceleração no número de demissões ocorre após os norte-americanos terem ficado dois anos, durante a pandemia, aproveitando os benefícios da escassez de mão de obra nas empresas, o que abriu espaço para que muitos negociassem salários maiores com empregadores que estavam aflitos.
No entanto, agora essa escassez diminui e o cenário econômico não permite que as empresas melhorarem os benefícios e salários dos funcionários. Na verdade, eles estão diminuindo.
Segundo uma pesquisa da Hiring Lab, os salários nos EUA cresceram 5,3% ano a ano em maio de 2023, um declínio acentuado em relação ao pico de 9,3% em janeiro de 2022, mostrando que o crescimento disparado dos salários está diminuindo.
Além disso, apenas 43,5% das pessoas dizem que os empregos são “abundantes”, uma queda acentuada na Pesquisa de Confiança do Consumidor do país.
Como os salários não acompanham a inflação e o mercado de trabalho está escasso no número de vagas, muitos trabalhadores não tem escolha a não ser resmungar pelos corredores e aguardar um momento melhor para pedir demissão.
No entanto, isso não quer dizer que o “quiet quitting” tenha desaparecido das empresas norte-americanas. Um relatório da State of the Global Workplace de 2023 da Gallup, que pesquisou 122.416 trabalhadores em todo o mundo, descobriu que 59% dos funcionários estão adotando o “quiet quitting” neste ano.