Até pouco tempo atrás, segundo Daniel Pereira, da revista Veja, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diziam que o governo, apesar de contar com o apoio declarado de apenas 140 dos 513 deputados, aprovaria as suas pautas prioritárias definidas para a Câmara dos Deputados no primeiro semestre deste ano: o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária e a retomada do voto de qualidade a favor da União no conselho administrativo que julga litígios entre o Fisco e os contribuintes, o Carf.
Os três projetos foram aprovados, mas não exatamente da forma como o Planalto queria. No palácio, esperava-se que o novo marco fiscal, que voltou do Senado para uma segunda e derradeira apreciação dos deputados, também fosse votado antes do recesso parlamentar. Não deu certo, e o projeto ficou para o segundo semestre, o que impediu uma vitória completa do governo.
Há várias explicações para o adiamento. Uma delas dá conta de que os deputados precisam de mais tempo para estudar as mudanças realizadas pelos senadores e, depois disso, fechar um acordo entre eles que garanta a aprovação. Longe dos microfones, no entanto, a versão é diferente.
Liderados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, partidos do chamado Centrão reivindicam a liberação dos recursos do antigo orçamento secreto, da ordem de 9,8 bilhões de reais, e mais espaços no governo, inclusive no ministério. Eles chegaram à conclusão de que, se entregassem toda a mercadoria pedida pelo Planalto agora, ficariam sem ativos importantes para colocar na mesa de negociação.
A equipe de Lula faz raciocínio parecido. Um dos articuladores políticos do governo diz que a relação com os deputados será de tensão sempre — sempre haverá pedidos dos congressistas e sempre haverá necessidade de contrapartida pelo Executivo. Por isso, o Planalto não pode — nem deve — pagar de uma vez todas as faturas apresentadas.
Até agora, os dois lados cederam um pouco aqui e ali. Nos próximos dias, a tendência é a equipe de Lula contemplar com mais verbas e cargos o Centrão, que está ávido, como sempre esteve, para aderir ao governo. Quando o recesso parlamentar acabar, o novo arcabouço fiscal será facilmente aprovado. Resta saber a que custo.