Escolhido por Jair Bolsonaro para disputar a última eleição presidencial e abrigar seus aliados, o PL mantém viva — ao menos em um grupo de seus parlamentares — a vocação governista que acompanha sua trajetória desde a fundação, em 2006. A aprovação da Reforma Tributária não foi a única votação que evidenciou maior alinhamento de parte dos deputados da maior bancada da Câmara com a agenda do governo Lula do que com correligionários bolsonaristas.
Um levantamento feito por Marlen Couto, do O Globo, mostra que, dos 20 deputados do PL que se posicionaram a favor da reforma aprovada na Câmara no primeiro turno da votação, 18 já tinham ajudado a levar adiante a proposta de arcabouço fiscal do governo Lula, em maio, e 17 também deram aval à MP do Mais Médicos, em junho. O programa é carro-chefe do petista na Saúde.
Entre esses parlamentares do PL, seis também destoaram dos colegas de sigla e acompanharam o governo na votação da MP da Esplanada, que definiu o desenho dos ministérios e demandou reação de Lula para evitar uma derrota na Câmara. O grupo é formado por parlamentares do Nordeste: João Carlos Bacelar, da Bahia; Júnior Mano e Matheus Noronha, do Ceará; e Josimar Maranhãozinho, Detinha e Junior Lourenço, do Maranhão.
Temas centrais
Da lista, apenas o deputado Antonio Carlos Rodrigues (SP) se posicionou contra o texto, que estabelece que povos indígenas têm direito apenas às terras que já ocupavam até a Constituição de 1988. Ex-ministro dos Transportes no governo Dilma Rousseff, o deputado citou ter “ascendência indígena” ao justificar sua posição.
Outros cinco nomes, no entanto, não participaram da votação do Marco Temporal. A ausência durante decisões sobre temas centrais para o governo Lula também pode ser um indicativo de alinhamento com o Executivo.
Alguns dos deputados “mais governistas” no PL costumam exibir em seus perfis nas redes sociais postagens com menções a programas federais e fotos ao lado de ministros da atual gestão ou governadores aliados a Lula. Josimar Maranhãozinho e a mulher, Detinha, estão entre os que mais demonstram acesso à Esplanada dos Ministérios. Na véspera da votação da pauta econômica, o deputado maranhense comemorou, por exemplo, a retomada de obras do Minha Casa, Minha Vida no município de Zé Doca, governado pela prefeita Maria Josinha Cunha (PL), sua irmã, e para agradecer o apoio federal compartilhou uma foto com o ministro das Cidades, Jader Filho (leia mais detalhes abaixo).
Na semana passada, de acordo com o jornal, o casal de deputados foi recebido pelo ministro Alexandre Padilha (PT), das Relações Instituições, o que motivou mais registros nas redes. Antes disso, a parlamentar do PL já tinha posado ao lado do ministro da Pesca, André de Paula (PSD), enquanto Maranhãozinho apareceu sorridente em uma foto com o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB).
O cearense Júnior Mano fez questão de compartilhar uma foto com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em junho. Na época, destacou ser membro da comissão de Saúde da Câmara e que tratou em reunião com a ministra sobre pautas da área no Ceará. O deputado já havia divulgado uma agenda com a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB).
Os casos não se restringem a nomes do Nordeste. A deputada Rosângela Reis, de Minas Gerais — onde Lula venceu Bolsonaro por margem pequena de votos —, gravou um vídeo com Camilo Santana (PT), da pasta da Educação, para enfatizar a disposição do governo para iniciar estudos sobre a criação de uma universidade federal na região do Vale do Aço, interior do estado.
Professor de Ciência Política da Uerj e pesquisador do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), Bruno Schaefer vê componente eleitoral na decisão dos parlamentares em aderir às pautas. Eles são de estados em que Lula teve melhor desempenho nas urnas, e a ausência de preocupação com uma eventual rejeição dos eleitores permite maior “liberdade”, avalia. Mas, para Schaefer, há na movimentação o peso da participação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nas articulações.
— O fator central é a capacidade de articulação de Arthur Lira com esses parlamentares e com o governo — pontua.
O PL tem histórico como base de chefes do Executivo. Antes de apoiar o governo Bolsonaro, a sigla já havia auxiliado mandatos anteriores de Lula e as gestões de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).