Segundo Joaquim de Carvalho, do portal Brasil 247, Tony Garcia está na lista dos assuntos mais comentados do Twitter desde a madrugada deste sábado (8).
O empresário foi para o top trendings depois que o 247 divulgou, com exclusividade, três trechos das gravações que ele realizou em 2005.
Tony Garcia era um empresário e político influente no Paraná até novembro de 2004, quando, no dia 9, foi preso por ordem de Sergio Moro.
Não havia necessidade, mas Tony Garcia foi algemado e jogado na parte de trás no camburão. Quando chegou à Superintendência, havia repórteres de rádio, jornal e TV na frente do prédio.
“Era o modus operandi dele”, afirmou. Ali começava o escracho. Mas não só. Tony Garcia foi jogado em uma cela no porão do prédio, onde uma janelinha com grade, de 50 centímetros por 30, era a única entrada de sol.
Havia mais duas pessoas presas com ele. Ele era rico, tinha sido casado com a filha do ex-governador Ney Braga e participado de jantares com chefes de estado, inclusive o papa João Paulo II, que era também líder religioso.
“Eu vivia em palácios e Moro me mandou para o calabouço”, afirmou. Na prisão, o advogado lhe levou cópia das principais partes do processo, que ele leu e, cinco dias depois, ao ouvir a proposta de se tornar réu-colaborador, aceitou na hora.
Chegou à Justiça Federal no carro da Polícia e saiu de lá no veículo do advogado. Em vez de voltar para o calabouço, foi levado para uma casa da Secretaria de Segurança Pública do Estado, onde passou a ocupar uma suíte.
Em outra suíte do mesmo prédio, no andar de cima, estava Alberto Youssef, que também era colaborador de Moro. “Pude mobiliar o meu quarto, com a minha cama, colchão, frigobar, televisão, e receber visitas na hora que eu quisesse. Andava pelo quintal. Já era outra vida”, contou.
O 247 gravou mais de doze horas de entrevista com Tony Garcia, na casa dele e em outros locais de Curitiba, como seu escritório e a frente do prédio da Justiça Federal. A entrevista será usada no documentário “Um juiz fora da lei – Os crimes de Moro e a Máfia de Curitiba”.
O próprio Moro foi se encontrar com Tony Garcia dois dias depois de ele se instalar no prédio da Secretaria de Segurança Pública. Tony se recorda de que eram 7 da manhã, ele estava acordando.
Segundo ele, Moro perguntou se estava tudo em ordem e o orientou a comprar um gravador, para começar a registrar conversas com alvos pré-determinados. Muitos tinham foro por prerrogativa de função e o um juiz de primeira instância não poderia nem sequer autorizar investigá-los, muito menos conduzir pessoalmente a investigação.
No entanto, autorizado pelo então juiz, Tony Garcia aceitou ser esse agente infiltrado. Há muitos detalhes sobre como agia. Neste momento, registre-se que, alguns meses depois, Tony começou a usar o gravador nas próprias conversas com o juiz. Os detalhes serão mostrados no documentário.
A conversa em que Moro combina a sentença com ele foi feita através desse gravador, que ele usava preso à cintura, por dentro da calça. Não foi, portanto, uma conversa por telefone, ao contrário do que tem sido divulgado na rede social.
Até porque Moro tinha autorizado a interceptação de todas as linhas de Tony Garcia, e o então jui sabia que, se falasse por telefone com o empresário, a conversa seria gravada pela Polícia Federal.
“Quando ele me chamava para conversar, me recebia sozinho em seu gabinete. Quando eu pedia para falar com ele, Moro colocava na sala uma assessora, de nome Flávia (que hoje está lotada no gabinete de Rosângela Moro, na Câmara dos Deputados)”, lembra.
Nesse dia da conversa sobre a sentença, Tony Garcia ligou o gravador antes e só o desligou depois que saiu da sala. Tanto que, quando o aparelho for periciado, haverá conversa com outras pessoas, como os funcionários da secretaria da 2a. Vara Federal, cujo titular era Moro.
Quando eu fui com Tony Garcia revisitar os endereços referenciais de sua ação como agente infiltrado, perguntei se ele achava que o dia da caça tinha chegado. Ele respondeu: “Sim, chegou o dia da caça. Mas não só. Chegou o dia de mostrar ao mundo quem é Sergio Moro. Eu fui o laboratório dele, o laboratório da Lava Jato”.
Tony gravou também conversas com procuradores da república, principalmente Januário Paludo e Carlos Fernando dos Santos Lima.