Lideranças do PT no Paraná mergulharam o partido em uma ferrenha disputa eleitoral por uma vaga no Senado que ainda não existe, mas já mobilizou alguns dos principais políticos do estado.
Segundo a colunista Malu Gaspar, do O Globo, a vaga em questão é a de Sérgio Moro (União Brasil-PR), que é alvo de um pedido de cassação no TRE paranaense, mas ainda sem previsão de desfecho – e que muito provavelmente não será decidido neste ano.
Ainda assim, a mera possibilidade de uma candidatura petista ao Senado no lugar de Moro já criou nos bastidores um clima de guerra entre o filho de José Dirceu, o deputado federal e líder do partido na Câmara, Zeca Dirceu, e a ex-senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Os dois tentam se viabilizar e, para isso, buscam atrair o apoio de Requião pai e Requião Filho, que migraram do MDB para o PT em 2022 e também quer disputar a vaga do ex-juiz da Lava-Jato.
Moro é alvo de uma ação do PL que pede sua cassação no Tribunal Regional Eleitoral por abuso de poder econômico e caixa 2. Caso ele seja condenado, deve ser feita uma eleição suplementar.
O caso só deve ser julgado no final do ano pelo TRE-PR e, se for derrotado, Moro ainda pode recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O ex-governador Roberto Requião e o deputado estadual Requião Filho, atual líder da oposição na Assembleia Legislativa, ainda não definiram qual dos dois encabeçará o projeto, mas vêm argumentando nos bastidores que não podem ficar de fora de uma disputa tão simbólica.
Na última eleição, Requião pai teve 26% dos votos válidos para o governo do estado. Não ganhou, mas teve o melhor desempenho da história do PT no estado.
Só que Zeca Dirceu está obstinado. E já marcou para o próximo dia 7 uma reunião com Requião Filho em Curitiba para discutir uma possível aliança.
A conversa entre o filho de José Dirceu e o filho de Requião deve envolver propostas de contrapartidas nas eleições municipais de 2024 – o deputado estadual, que está no terceiro mandato, não descarta disputar a prefeitura de Curitiba.
Pode haver também conforme a coluna de Malu Gaspar, um acordo em torno da disputa pelo governo do estado em 2026 – o atual governador, Ratinho Júnior (PSD), não pode concorrer a um terceiro mandato, e ainda haverá duas cadeiras no Senado em disputa além da de Moro, cujo mandato termina em 2031.
O problema é que, até agora, pai e filho não se mostram dispostos a fazer nenhuma concessão, e ameaçam deixar o PT paranaense para disputar a vaga de Moro caso não recebam o apoio do partido.
“Havendo uma negativa do PT, nós vamos procurar o nosso espaço”, disse Requião Filho à equipe da coluna, ressaltando que os dois decidirão quem encabeçará a candidatura mais à frente, conforme cenário eleitoral. “O Requião tem um legado, uma história no Paraná”.
Dois motivos justificam a competição tão acirrada dentro e fora do PT para um pleito que pode nem ocorrer.
Se Moro for cassado, a eleição suplementar deverá ocorrer no ano que vem, e políticos com mandato como Zeca, Gleisi e Requião Filho poderão disputar o Senado sem ter que abrir mão de seus cargos. Mesmo que percam, continuam onde estão até 2026, quando ainda podem tentar a reeleição.
Além disso, eles calculam que será uma chance rara de superar a larga e histórica vantagem da direita no Paraná, onde Bolsonaro teve 62,4% dos votos no segundo turno contra Lula. Dada a situação de maior fragilidade de Bolsonaro, a esquerda calcula que haverá uma fragmentação da direita que abriria espaço para seus candidatos.
A direita, claro, não concorda. O ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara Ricardo Barros (PP) já manifestou publicamente interesse na disputa e o PL trabalha para lançar Paulo Eduardo Martins para a vaga de Moro.
O ex-deputado federal, que ficou em segundo lugar na disputa pelo Senado na eleição passada, ainda poderá ser apoiado por Ratinho Jr., de quem é próximo. Nos bastidores, se cogita ainda uma candidatura de Álvaro Dias (Podemos), derrotado em 2022, ou mesmo seu endosso a uma candidatura de “terceira via”.
Ou seja: a mera possibilidade de que Moro seja cassado e sua vaga fique disponível já colocou todos os campos políticos em polvorosa. Mas no caso da esquerda a disputa está tão acirrada que já provocou efeitos em outras searas.
Correligionários relataram à equipe do blog, sob reserva, que Zeca atuou junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para que Lindbergh Farias (PT-RJ), namorado de Gleisi, não assumisse cargos relevantes em comissões.
Lindbergh acabou escanteado da composição da CPI mista do 8 de janeiro, embora sua indicação fosse dada como certa até então. Gleisi, por sua vez, teria usado sua influência como presidente do PT para bloquear a indicação de Andrea Godoy, mulher de um dos advogados de Zeca, para a superintendência do Ibama no Paraná.
Procurado, Zeca Dirceu afirmou que o encontro com Requião Filho está marcado “há muito tempo” e negou haver qualquer disputa com a presidente do PT.
“Eu e Gleisi temos uma sintonia fina. O PT é democrático, faz parte da nossa tradição que mais de uma candidatura seja colocada”, afirmou o deputado à equipe do blog. “Nunca houve retaliações. Eu acabei de indicar na semana passada o Lindbergh como vice-líder da maioria na Câmara e a Gleisi como nosso principal nome na CPI do MST”.
Procurada, a dirigente do PT não retornou até o fechamento da reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
Já Requião e Gleisi sempre foram próximos, diz a colunista do O Globo, mas se afastaram depois que o ex-governador foi preterido na presidência da Itaipu Binacional, entregue a um aliado da presidente do PT, o deputado Enio Verri. Posteriormente, Requião rejeitou publicamente uma vaga oferecida no conselho da estatal, que ele chamou de “boquinha de luxo”.
O filho do ex-governador justifica a corrida antecipada por uma eleição suplementar que ainda não passa de uma hipótese.
“É muito provável [a cassação de Moro], e vale a máxima de que não há espaço vazio na política. Com certeza algumas candidaturas serão colocadas ao Senado visando a prefeitura de Curitiba, e outras no sentido inverso também”, afirma Requião Filho.
“Além disso, é preciso avaliar a conjuntura política e o tamanho dos nomes que devem ser colocados. Não é uma vaga para qualquer um no desenho atual do Congresso”, argumenta, em referência ao tamanho da bancada bolsonarista nas duas Casas.
Independente do desfecho da querela petista, o fator determinante para a disputa antecipada pela vaga de Moro será mesmo o julgamento da ação do PL no TRE paranaense e, em última instância, o plenário do TSE. Até segunda ordem, a próxima eleição para o Senado no estado está prevista para 4 de outubro de 2026.