Cobrado a apoiar aliados nas eleições municipais após a formação de uma ampla coligação em torno do presidente Lula (PT) no ano passado, o PT reunirá pela primeira vez, hoje, seu Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) para dar o pontapé inicial nas articulações de candidaturas em 2024. O partido avalia abrir mão de nomes próprios em capitais como Rio, São Paulo e Recife para apoiar siglas que estão na base de Lula no Congresso. Há preocupação, porém, em dosar a quantidade de concessões.
Com oito integrantes, o GTE iniciará os trabalhos com uma avaliação da situação do partido em capitais e municípios com mais de 200 mil eleitores. Cinco desses integrantes segundo Bernardo Mello, do O Globo, são ligados à CNB, corrente majoritária petista: a presidente nacional e deputada Gleisi Hoffmann (PR), os dirigentes Washington Quaquá (RJ), Jilmar Tatto (SP) e Gleide Andrade (MG), e o senador Humberto Costa (PE).
Costa é um possível postulante petista no Recife, capital que o partido governou entre 2001 e 2012 e onde sempre lançou candidato nas últimas quatro décadas. Integrantes do GTE afirmam que a tendência hoje é de um apoio do PT à reeleição do atual prefeito, João Campos (PSB). Rival do PT na última disputa municipal, ele se aproximou de Lula na campanha presidencial e costurou a entrada de petistas em seu secretariado.
— Os aliados podem dar mais força ao governo federal. É natural que se faça essa aliança, embora o PT historicamente tenha força política no Recife — afirmou Costa.
Antes de sacramentar a aliança com o PSB na capital pernambucana, petistas tentam garantir com Campos a indicação de um vice do PT. Além de uma contrapartida para atenuar na militância a impressão de que o partido estaria cedendo espaços em demasia, o posto na chapa amarraria futuros projetos de Campos, cotado para tentar o governo de Pernambuco em 2026, a um acordo com o PT.
Cenário semelhante ocorre no Rio, onde o PT sinaliza uma aliança com o atual prefeito Eduardo Paes (PSD), mas ainda busca espaço como vice na chapa. Quaquá é um dos articuladores do acordo.
Em São Paulo, o grupo de Tatto, mais resistente à ideia de não ter candidato petista, reconhece que o partido caminha para um apoio a Guilherme Boulos (PSOL).
— Minha opinião é que fortalecer o PT envolve lançar candidatos. Mas debateremos como as alianças podem influenciar a posição do partido para 2026 — disse Tatto.
Lideranças petistas, como Tatto, defendem que as alianças já encaminhadas entrem na balança da definição de candidaturas em outras capitais. Em Belo Horizonte e Salvador, por exemplo, o PT hesita entre apoiar aliados ou tomar a dianteira. Em Porto Alegre e Fortaleza, há pressões internas por uma chapa petista.
Em queda no número de prefeitos desde o impeachment de Dilma Rousseff, o PT vislumbra uma janela para reconquistar terreno após o retorno de Lula ao Planalto. O auge do PT ocorreu em 2012, com 638 prefeitos. Quatro anos depois, elegeu 254 prefeitos, numa redução que seguiu em 2020, com 183 vitórias.
O cenário nas principais cidades
- Rio de Janeiro: Após indicar três secretarias de Eduardo Paes (PSD), PT encaminhou aliança, mas pleiteia vice.
- São Paulo: Mesmo com resistência de uma ala petista, que cita histórico de candidaturas na capital, PT deve apoiar Guilherme Boulos (PSOL).
- Recife: Rival em 2020, atual prefeito João Campos (PSB) deve ter apoio do PT em tentativa de reeleição.
- Belo Horizonte: Com desempenho ruim em 2020, partido hesita em lançar candidato próprio de novo e avalia apoiar reeleição de Fuad Noman (PSD).
- Fortaleza: PT avalia lançar Luizianne Lins, mas pode entrar em acordo com ala do PDT que é contra reeleição do pedetista José Sarto e defende nome alinhado a Lula. Evandro Leitão (PDT) é um dos cotados.
- Salvador: Diretório local do PT quer lançar nome, mas caciques como ministro Rui Costa e senador Jaques Wagner avaliam apoiar partidos aliados, como PSB e MDB. Geraldo Júnior, atual vice-governador seria um dos mais cotados.
- Porto Alegre: Em meio a conversas com PSOL, petista Edegar Pretto desponta como favorito a liderar chapa.