Um recorte da pesquisa Genial/Quaest ajuda a entender o grau de dificuldade de Lula (PT) em falar com os eleitores de Bolsonaro (PL) e as oportunidades desperdiçadas hoje. Conforme o colunista , da Veja, essas perguntas parecem simples: o presidente é bem-intencionado? O presidente consegue entregar o que prometeu?
Com menos de seis meses no cargo, em condições normais de temperatura e pressão, um presidente qualquer seria considerado bem-intencionado pela maioria e ainda reticente em cumprir suas promessas de campanha. A pergunta fica interessante quando se compara o resultado de Lula hoje com o de Bolsonaro em junho de 2019:
Bolsonaro / Lula
Bem-intencionado/Cumpre promessas. 21% e 38%
Bem-intencionado/Não cumpre promessas. 32% e 18%
Mal-intencionado/Cumpre promessas. 25% e 2%
Mal-intencionado/Não cumpre promessas 14% e 40%
Não sabe/não respondeu 8% e 2%
Lula é visto como bom por 54%, mas apenas 38% dizem que ele entrega o que cumpre. No mesmo período, Bolsonaro era visto como benigno por 53%, mas entregador apenas por 21%. O ódio a Lula, no entanto, está mais sedimentado: no início do governo, 33% achavam Bolsonaro maléfico. Em Lula, são 42%. Os anti-Lula são maioria nos segmentos dos eleitores que ganham acima de 2 salários mínimos, com ensino superior, evangélicos e com idade entre 35 e 39 anos — um perfil similar ao que votou em Bolsonaro.
Esses números mostram que existe uma parede para Lula. É altamente improvável que os 42% que o consideram maligno passem a apoiar o seu governo, já que este é um conceito emotivo, de quem realmente não gosta do presidente.
Faltando 3 anos e 6 meses para o fim de mandato, Lula tem um apoio sólido de 38% (os que o consideram bem-intencionado e cumpridor de promessas) e a oposição de 40% (que o acham mal-intencionado). Onde está a oportunidade? Nos 18% que gostam de Lula, mas acham que o seu o governo não é tudo isso. É um grupo que se espalha em 20% na margem de erro por todas as faixas de renda, escolaridade, gênero, religião e região do país, mas no qual é possível identificar uma boa vontade com o presidente. Dos que gostam de Lula e esperam um governo melhor estão 21% dos próprios eleitores do presidente e 18% dos que hoje já aprovam o seu governo.
É um típico problema de comunicação. Existe um número expressivo de eleitores com boa vontade com Lula (uma característica emocional) e que aguardam fatos (informação racional) para aumentar a sua adesão.
A mesma pesquisa mostrou que 35% dos entrevistados não conseguiam recordar de uma única notícia sobre o governo. Entre as notícias pelos demais, as positivas mostram ação direta do governo na vida das pessoas: queda no preço dos combustíveis (8%), decreto do piso dos professores (6%), melhora na economia (7%). Entre as negativas, 10% citaram o encontro com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. A política externa, aliás, é um ponto crítico: 2% criticam Lula por viajar demais, 2% pelas declarações sobre a Ucrânia e 2% pelo anúncio de empréstimos à Argentina.
Isso indica que Lula tem o potencial de ampliar a sua aprovação se centrar a agenda em mais ações que melhorem a vida das pessoas e menos temas externos.