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segunda-feira 26 de junho de 2023 às 17:57h

Lukashenko fortalecido após mediar fim de rebelião na Rússia

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Em uma troca de papéis, ditador de Belarus ajudou Putin ao negociar o fim da rebelião do grupo Wagner e reforçou sua importância em termos regionais. Anteriormente, era o líder belarusso que dependia do Kremlin.Ele planejava ir até Moscou, mas acabou em Minsk. O chefe dos mercenários do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, se dirigia à capital russa quando o gabinete da presidência de Belarus informou que ele havia “aceito uma proposta do presidente Alexander Lukashenko para cessar a movimentação de soldados armados do grupo Wagner no território da Rússia e adotar medidas para diminuir as tensões”.

Pouco depois, foi relatado que Prigozhin deixou a Rússia rumo a Minsk e a rebelião foi dada como encerrada.

De súbito, Alexander Lukashenko, conhecido como o “ùltimo ditador da Europa” e no poder desde 1994, se saiu como aquele que salvou Putin de uma instabilidade na Rússia em meio à guerra na Ucrânia. “Somos gratos ao presidente belarusso por seus esforços”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.

Um comentarista de televisão deixou as coisas ainda mais claras, ao afirmar que Lukashenko “merece um monumento na melhor localização de Moscou”. Mas, de que maneira isso aconteceu e qual papel

Possíveis ameaças ao regime

Enquanto o motim se desenrolava, estava claro que Lukashenko tomaria o lado do presidente russo, Vladimir Putin. Os dois chefes de Estado conversaram por telefone ao menos duas vezes naquele dia.

O belarusso se ofereceu a Putin como mediador, uma vez que conhece Prigozhin pessoalmente há 20 anos. Ao mesmo tempo, o Conselho Belarusso de Segurança declarou que o país “está e permanecerá como aliado da Rússia”, e que o conflito interno russo era um “presente para todo o Ocidente”.

“É do interesse de Lukashenko evitar uma crise de grande porte na Rússia”, explica Yauheni Preiherman, diretor do Conselho de Diálogo de Minsk em Relações Internacionais. O governo belarusso está muito preocupado com que a luta da Ucrânia se espalhe para seu território, afirmou o especialista à DW.

O grupo de oposição a Lukashenko chamado regimento Kalinouski, formado por voluntários belarussos que lutam lado a lado com os ucranianos contra o Exército russo, já deu demonstrações de que esses temores não são infundados.

Em um vídeo divulgado durante o motim do grupo Wagner, eles disseram que estão prontos para se aproveitar da oportunidade e em breve “libertar Belarus da ditadura e da ocupação”. “O interesse de Lukashenko é evitar que algo desse tipo venha a ocorrer”, afirma o cientista político Preiherman.

Lukashenko: de ajudado a ajudante

Apesar de Belarus e Rússia se manterem unidas desde 1999 – por conta de uma união formal assinada pelos dois paises –, Lukashenko, no passado, tentou manter certo grau de autonomia em relação a Putin. “O relacionamento sempre foi bastante tumultuado, com muitos altos e baixos”, diz Preiherman.

Mas, pelo menos desde o verão de 2020, ele se tornou completamente dependente de Putin. Naquela época, após fraudar as eleições e se declarar reeleito, Lukashenko enfrentou protestos populares de grande porte.

Milhares de pessoas exigiam a sua renúncia, mas o Kremlin permaneceu ao lado do chamado “último ditador da Europa”, fornecendo empréstimos e anunciando uma possível intervenção no país. Lukashenko reprimiu com brutalidade as manifestações. Os líderes foram presos ou forçados ao exílio.

Agora, no entanto, Putin e Lukashenko, por assim dizer, trocaram os papéis, observou a ativista belarussa dos direitos humanos Olga Karatsch, líder da organização Nossa Casa.

“Lukashenko costumava desempenhar o papel do requerente que não era capaz de restaurar por conta própria a ordem em seu próprio país […] agora, Putin estava em uma situação onde somente conseguiria restaurar a ordem com ajuda externa”, afirmou Karatsch à DW.

A ativista calcula que o líder belarusso também deverá lucrar internamente como o episódio. Nos últimos meses, houve muita especulação em torno de supostos problemas de saúde do presidente de 68 anos. Agora, porém, “sua autoridade cresce, especialmente dentro do aparelho de segurança belarusso”, afirmou, acrescentando que isso também deverá enfraquecer a oposição no país.

Maior influência em Moscou

Desde o início da agressão russa à Ucrânia, Lukashenko vem apoiando o Kremlin politicamente e ao permitir o lançamento de mísseis russos a partir de seu território. Recentemente, muitos especialistas interpretaram o anúncio russo de que Moscou iria posicionar mísseis nucleares em Belarus como um sinal de uma nova e maior subordinação do “vassalo” belarusso.

Lukashenko poderá se fortalecer e exercer mais influência sobre a Rússia, observa Preiherman. “Seu papel na política interna e externa da Rússia deve aumentar. Acho que muita gente em Moscou e no Kremlin não vai gostar disso”, disse o cientista político.

Pouco se sabe do relacionamento entre Lukashenko e Prigozhin, mas o presidente belarusso já estevem em conflito com o grupo Wagner antes.

Em julho de 2020, na campanha para as contestadas eleições presidenciais, 33 suspeitos de serem mercenários do grupo de Prigozhin foram presos nas proximidades de Minsk. Investigadores disseram que eles preparavam “provocações” antes da votação.

Mais tarde, surgiu a hipótese de que as prisões resultaram de uma operação do serviço secreto ucraniano. Depois de duas semanas, os detidos foram liberados e deportados para a Rússia.

Até o momento, pouco se sabe sobre os detalhes do acordo negociado entre Prigozhin e Lukashenko após o motim; se o russo permanecerá em Belarus ou se partirá para outro país. Após a rebelião, o líder belarusso deve manter o chefe dos mercenários sob vigilância. “Prigozhin não conseguirá se estabelecer em Belarus como fez na Rússia”, prevê o cientista político Preiherman.

Mediador entre Kiev e Moscou?

Apesar do aparente fortalecimento de seu papel, Lukashenko, alvo de sanções do Ocidente, continuará a depender da Rússia no futuro próximo.

O cientista político Artem Schraibmann, do portal de internet Zerkalo, acredita que Belarus “depende do desenvolvimento do regime russo, que sofreu recentemente seu maior abalo político nas últimas décadas. A extensão da sua fragilidade, hostilidades internas e caos foi revelada”.

É possível que a maior vantagem para Lukashenko após a negociações será ele novamente se promover como um interlocutor na região.

No dia seguinte ao motim fracassado na Rússia, o secretário do Conselho Ucraniano de Segurança, Oleksiy Danilov, avaliou que a participação de Lukashenko em futuras negociações entre Kiev e Moscou “não está excluída”.

 

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