O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é um dos nomes que está no radar do PL diante da possível inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL). O julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), iniciado nesta quinta-feira, 22, acirra os ânimos dos que pretendem ocupar a liderança do ex-presidente no espectro político da direita.
Se o TSE condenar Bolsonaro no caso da reunião de 18 de julho de 2022 com embaixadores, ele ficará inelegível por oito anos, criando um “vácuo” na direita. Outros nomes, como o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), também são cotados para assumir essa liderança. Uma pesquisa da Genial/Quaest mostra Tarcísio como principal opositor de Lula, na perspectiva do eleitorado. No entanto, aliados do chefe do Executivo paulista defendem a conclusão do mandato e a busca da reeleição.
Em segundo mandato, Zema pertence a uma ala do Novo mais próxima do bolsonarismo, mas não é visto pelo eleitorado como um radical. O “flerte” com o PL não é de hoje. Como mostrou a Coluna do Estadão, o governador mineiro está desde o começo do ano no radar de Valdemar Costa Neto, com vistas à eleição de 2024 – quando o País terá disputas municipais –, e busca distância do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ratificando seu lugar de oposição.
A proximidade de Zema com Bolsonaro e a oposição a Lula mudaram a balança dentro do Novo, que suspendeu um dos seus fundadores, João Amoêdo, por causa da declaração de voto no petista na eleição passada. Diante da pressão dos pares e da declarada insatisfação com os rumos que a sigla tomou, o ex-candidato à Presidência deixou o Novo. Na época, em entrevista ao Estadão durante o período eleitoral, Zema negou o rótulo de bolsonarista.
Outro episódio recente que mostra o protagonismo de Zema no campo da direita foi uma troca de farpas com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na quinta-feira passada. Silveira é próximo de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), possível candidato ao governo mineiro em 2026.
Na eleição de 2022, Zema se reelegeu em primeiro turno com 6.094.136 votos (equivalente a 56,18% do eleitorado mineiro), vencendo o seu opositor, Alexandre Kalil (PSD), vice-prefeito de Belo Horizonte, que recebeu 35% dos votos.
Moderação e disputa
Na avaliação do cientista político e professor do Mackenzie Rodrigo Prando, Zema é palatável para o eleitorado, mas ainda está atrás de outros nomes. “Ele tem a possibilidade de ocupar esse espaço, mas tem que disputá-lo com o governador de São Paulo.”
Prando avalia que os dois governadores têm como estratégia a construção da imagem do “gestor técnico”, ligado a realizações governamentais, o que conquista o eleitorado de centro. “Bolsonaro sempre teve um carisma voltado à manutenção ideológica da sua base radical. Ele tem um carisma muito singular, que nem Zema nem Tarcísio possuem. Porém, na campanha, apelou para o ataque”, afirmou o professor.
Os ataques de 8 de janeiro provocaram um “impacto simbólico” do qual os políticos simpatizantes do ex-presidente têm tentado se desvincular, em busca de sustentação da governabilidade, avalia Prando. O professor pontua: “Bolsonaro discursava para os radicais, mas sempre tinha de tentar apoio junto aos políticos de centro”.
Rancho da família
O governador de Minas autorizou um investimento de R$ 41,2 milhões na reforma de um trecho de 107 quilômetros da rodovia MG-428, de acordo com o jornal O Globo.
A pista que terá o asfalto recuperado começa no entroncamento com a BR-262, em Araxá (MG), e termina na divisa de Minas com São Paulo, onde fica o “Rancho Zema”, de propriedade da família do governador. Ele divulgou uma nota refutando quaisquer ilegalidades na obra e justificando que escolha do trecho para reforma se baseou em “quesitos técnicos”.
A reportagem entrou em contato com o governador Romeu Zema, que, por meio da sua assessoria, negou que uma mudança o PL esteja sendo negociada. A avaliação do governador é que sua gestão vive um bom momento.
Ainda de acordo com a assessoria, Zema não tem ambição de ser presidente, mas defende uma candidatura única da direita. Ele não descarta, contudo, uma negociação futura, caso seu nome se mostre ser o mais competitivo.