O Comitê de Política Monetária (Copom) começa nesta terça-feira, 20, a reunião sobre a taxa básica de juros, a Selic. Apesar do cenário inflacionário menor e ainda mais pressão do governo e de empresários para que a taxa caia, a autoridade monetária deve manter os 13,75% ainda nesta reunião, de olho na pressão inflacionária futura, para que não haja mais fugas da meta. Porém, uma sinalização que o ciclo de mais aperto monetário está chegando ao fim é amplamente esperado pelo mercado financeiro.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), ficou em 3,94% em 12 meses encerrados em maio — uma redução drástica quando comparada com o mesmo período do ano anterior, em 11,73%. Para o fim deste ano, a expectativa do mercado, segundo o Boletim Focus, é de que a inflação encerre em 5,24%, ainda acima do teto da meta, de 4,75%. Porém, as expectativas de longo prazo finalmente começaram a ceder. Após ficarem estáveis em 4,0% por várias semanas, o mercado passou a ver uma inflação de 3,90% para 2025 e 3,88% para 2026. “Nos últimos comunicados, o Banco Central ressaltou sua preocupação com as expectativas do IPCA para períodos mais longos. Essa primeira queda é um bom sinal. É importante que essa tendência continue para que a autoridade monetária se sinta confortável para iniciar o ciclo de cortes na taxa de juros”, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Além com a preocupação da inflação futura, a questão fiscal é mais um ponto que pode motivar o corte mais lento. “Uma espera mais longa para começar a flexibilização não pode ser descartada, devido às perspectivas de política fiscal e parafiscal instáveis”, afirma o Goldman Sachs em relatório assinado pelo economista Alberto Ramos. Nesta semana, o arcabouço fiscal, substituto do teto de gastos, deve ser votado no Senado Federal. Caso haja alterações, o texto volta para a Câmara.
Em relatório, o BTG Pactual afirma que não vê espaço para cortes nesta reunião, mas que espera um ajuste na comunicação da decisão dos juros, que será divulgada nesta quarta-feira, 21. Segundo o banco, já há um sinal de suavização em recentes falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que vem falando sobre a melhora do cenário. A Selic está em 13,75% há sete reuniões, e o tom duro dos comunicados, em especial das reuniões de fevereiro e março, foram pontos de tensão entre a autoridade monetária e o Banco Central.
O tom mais otimista, segundo a equipe de Macro & Estratégia do BTG, seria a retirada do trecho “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado”. E, no caso de manutenção, haverá dúvida sobre o espaço de cortes a partir de agosto. Para Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, só a retirada do trecho sem indicação da proximidade dos cortes pode ser considerado hawkish. “Um documento já tendendo para o dovish seria, além de retirar essa parte, colocar o termo “neste momento” na parte que diz que “O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesite em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. Por fim, uma decisão considerada muito dovish, reforçando a ideia de que os juros seriam reduzidos em agosto, seria, dizer que os fatores de risco agora tendem para a direção de menos inflação”.
Na avaliação de Leal, os indicadores financeiros trazem bons sinais para basear uma mudança de direção na política monetária. “Os motivos para vermos espaço para uma redução agora vão desde os dados de atividade que mostram uma demanda muito fraca, como fica comprovado pela contribuição negativa da absorção interna para o PIB do 1º trimestre, até os números da inflação corrente e das expectativas de inflação em clara tendência de desaceleração”, afirma, ressaltando o cenário de safra recorde e pouca demanda.