Criticado por não buscar aproximação com deputados e senadores e pressionado pela crise entre Executivo e Legislativo, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, iniciou segundo Jeniffer Gularte, do O Globo, uma ofensiva para melhorar a relação com o Congresso. Avesso a dedicar tempo à articulação, enquanto sua principal função é gerenciar os projetos do governo, ele percebeu que precisava mudar de postura diante da dificuldade na formação de uma base e passou marcar uma série de encontros. O leque de interlocutores vai de adversários políticos até o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Para a melhorar a interlocução com a Câmara e o Senado Federal, Costa também está em busca de um assessor parlamentar.
Nesta semana, o ministro já tem na agenda um almoço da Frente Parlamentar do Empreendedorismo e um jantar do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP). O ministro tem separado o horário das refeições para melhorar sua imagem com o Congresso — na quarta-feira, esteve com o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento.
Adversário do grupo político de Costa na Bahia, o deputado tem bom trânsito no Congresso e lidera uma bancada de 59 integrantes. Ele reivindica que os ministérios da legenda no governo venham com “porteira fechada” e aproveitou a conversa para pedir apoio de Costa na tentativa de conseguir o comando da Embratur, atualmente chefiada por Marcelo Freixo, do PT. Como mostrou O GLOBO, o Planalto descarta, no momento, negociar a empresa com a legenda, que já comanda os ministérios de Comunicações, Turismo e Integração Nacional.
A pessoas próximas, Costa descreveu a conversa com Elmar Nascimento como franca e direta. Do papo, saiu a disposição de um entrosamento maior a partir de agora. Na visão de um petista, uma reaproximação, junto com a provável troca de Daniela Carneiro pelo deputado federal Celso Sabino (PA) no Turismo, tem potencial para ajudar a inaugurar um novo momento da conturbada relação do governo com o União Brasil. Embora tenha três ministérios, a legenda declara independência e entrega quantidade de votos insatisfatória ao Planalto.
Na mesma quarta-feira, Costa jantou com dez deputados do PT e respondeu a uma série de perguntas. Além de ser pressionado pelo Centrão para ter mais participação na política, Costa é alvo de fogo amigo dentro do partido e de crítica de colegas ministros. O GLOBO ouviu três parlamentares que estavam no jantar. No relato deles, durante a avaliação do momento político, o grupo passou a mensagem, de forma sutil, de que Costa precisava ser mais assertivo em determinados momentos e não descuidar da política, o que ajudaria a distensionar a relação com o Congresso.
Depois de ser fritado por líderes partidários e sofrer derrota na votação do marco do saneamento, iniciativa que liderou internamente, Costa foi convencido de que a relação com o Parlamento mudou e que seria necessário abrir espaço na agenda para se aproximar do mundo político. Nas conversas, Costa tenta desfazer a imagem de que é ele quem está travando a liberação de cargos e emendas, atribuições que não fazem parte do escopo da Casa Civil, embora a análise técnica dos currículos seja feita pelo ministério. No relato dos petistas, o ministro demonstrou serenidade, fez uma avaliação segura da administração e se disse aberto a ouvir qualquer outro parlamentar.
A saga de encontros seguiu na quinta, quando Costa esteve com Lira para um café da manhã, agenda alinhada pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). A conversa ocorreu três dias após o presidente da Câmara ter afirmado à GloboNews que sugeriu a Lula colocar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na Casa Civil, ideia que foi rejeitada pelo presidente. Costa e Lira já haviam jantado juntos uma semana antes da votação da Medida Provisória (MP) dos Ministérios, momento de maior tensão do Planalto com o Congresso, quando a Câmara ameaçou não aprovar a norma que alterou a estrutura da Esplanada, o que faria com que voltasse à configuração de Jair Bolsonaro.
Até então, Costa tem ido aos encontros sozinho, sem levar assessores ou secretários, com cuidado de não se sobrepor ao ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo. De acordo com auxiliares, todas as agendas são combinadas com o colega de Planalto. Precaução semelhante ocorre na busca pelo assessor parlamentar, para que o auxiliar não se torne uma espécie de segunda instância entre deputados e senadores que não tiveram sucesso com seu pleito junto a Padilha. Costa busca um nome experiente, com bom trânsito político, que acompanhe as pautas de interesse da Casa Civil no Congresso e ajude na interlocução com deputados e senadores.
A abertura de Costa para o mundo político ocorre no momento em que o ministro está fechando detalhes do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que deve ser lançado na primeira semana de julho. Para alinhar as prioridades de obras de infraestrutura de cada estado, a Casa Civil tem recebido os governadores.