Durante três meses, a oposição lutou na Câmara e no Senado para criar uma comissão parlamentar de inquérito sobre as invasões das sedes do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto.
A CPMI do 8 de Janeiro foi instalada, mas conforme José Casado, da Veja, já nas primeiras cinco horas de debates os partidos de oposição ao governo Lula limitaram-se ao tumulto. Sem um mínimo de coordenação, perderam o rumo e acabaram vencidos no voto.
Resultado: o bloco governista conseguiu avançar no cerco político a Jair Bolsonaro e seus principais auxiliares.
Bolsonaro terá suas comunicações devassadas em investigação pública, pelo menos a partir do dia da derrota eleitoral, 30 de outubro.
Haverá um desfile de antigos colaboradores do ex-presidente no palco da comissão. É o caso do seu candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil; do ex-ministro da Justiça Anderson Torres; do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno; e do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid.
Eles estiveram no centro do poder durante um governo que atravessou quatro anos seduzido pelo autoritarismo e, aparentemente, planejou e manipulou diferentes aparatos estatais para estimular a insurreição do 8 de Janeiro. O fracasso foi delineado na inanição política nas Forças Armadas, apesar das manifestações solidárias de alguns poucos integrantes dos comandos militares.
Na CPMI, os recém-saídos do governo Bolsonaro demonstraram que ainda não conhecem o significado da palavra “oposição” no Legislativo. Perderam (por 20 votos a 11) até na convocação do ministro da Justiça, Flávio Dino, e do diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, protagonistas na resposta de segurança pública ao vandalismo na Esplanada dos Ministérios, no 8 de janeiro.
“É a beleza do processo democrático”, ironizou a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), criticada por suposta parcialidade num relatório que só existirá dentro de seis meses. “O que nós tivemos aqui foi a confirmação e a constatação de que o foco da CPI não será desviado”, acrescentou.
Sem rumo no plenário, a oposição conteve-se segundo José Casado, da Veja, em episódios de esgrima retórica, também sem êxito, como aconteceu com o senador Magno Malta (PL-ES) ao enfrentar o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA):
— Vou manter o respeito, porque o senhor é baiano. Fosse outro, eu iria me sentir tentado a dar um coice, mas, em vossa excelência, não vou dar, não.
— Receberia outro — retrucou o deputado.
— Tá bom. Eu sei — conformou-se o senador, reconhecido como fiel bolsonarista.