O volume recorde de dinheiro em caixa para investimentos e centenas de cargos para atrair aliados fazem segundo Gustavo Queiroz, do Estadão, do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), um “noivo” disputado por uma série de partidos no projeto pela reeleição em 2024. Na busca por um candidato viável de perfil moderado de centro-direita para se contrapor a Guilherme Boulos (PSOL-SP), que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes de PSDB, Republicanos, PL, PP e União Brasil já pleiteiam a vaga de vice-prefeito.
O dinheiro à disposição de Nunes e o domínio da máquina pública se revertem em capital político. Somente na semana passada, o prefeito esteve em nove agendas de inaugurações e visitas a obras na cidade. Na TV, inserções do MDB destacam, por exemplo, a construção de 49 mil unidades de moradia.
Sob reserva, aliados do prefeito avaliam que o orçamento, que em 2023 é de R$ 107,3 bilhões, e a distribuição de cargos ajudam a viabilizar o apoio de dirigentes nacionais de partidos reticentes ao projeto de reeleição e a destravar as negociações por apoio. No Município, dez partidos dão sustentação a Nunes na Câmara e ocupam postos na Prefeitura.
Auxiliares próximos a Nunes dizem acreditar que, agora sem Ricardo Salles (PL-SP) na disputa, o prefeito fica sozinho para formar uma frente no campo da centro-direita, com o reforço de ter a capilaridade de 33 secretarias e 32 subprefeituras. Duas subprefeituras – Butantã e Campo Limpo – já são ocupadas pelo PL, de Jair Bolsonaro.
“O PSDB de São Paulo tem o direcionamento de apoiar Nunes porque nós somos o governo, que ganhou a eleição (com Bruno Covas na cabeça da chapa, em 2020). Óbvio que (o orçamento) atrai partidos que fazem política por fisiologismo. (Mas) Nossa questão com Nunes é programática”, disse Fernando Alfredo, presidente do PSDB paulistano. Ele diverge da direção nacional do partido, que avalia a possibilidade de apoiar a deputada federal Tabata Amaral (PSB).
Nunes opera o poder da máquina. Entre fevereiro e março, ele trocou membros da administração paulistana para abrir mais espaço a aliados. Siglas como PSDB, PP e PSD ganharam cargos nas secretarias de Inovação e Tecnologia, Planejamento e Entregas Prioritárias e Infraestrutura Urbana, respectivamente.
Óbvio que (o orçamento) atrai partidos que fazem política por fisiologismo. (Mas) nossa questão com Nunes é programática
Fernando Alfredo, presidente municipal do PSDB
O prefeito também nomeou um assessor ligado ao senador Ciro Nogueira (PP), José Trabulo Junior, como chefe de gabinete da Secretaria Especial de Comunicação. Em outra frente, Nunes bateu o recorde na liberação de emendas parlamentares em 2022, como mostrou o Estadão.
Com Nunes detentor de um caixa robusto e repleto de cargos para nomeação, aliados da base trabalham para convencer líderes nacionais de que os R$ 140 milhões reservados para publicidade institucional neste ano podem dar viabilidadeao prefeito. Com isso, o ex-vereador que chegou ao Edifício Matarazzo após a morte de Covas, em maio de 2021, se tornaria mais conhecido.
Perfil de centro-direita é trunfo contra esquerda
Aliados dizem também que o perfil de Nunes se encaixaria na empreitada contra a esquerda na cidade, que no ano passado deu mais votos a Lula do que a Bolsonaro e a Fernando Haddad (PT) do que a Tarcísio de Freitas (Republicanos). Líderes do PL, PP e Republicanos estão atentos a essa configuração do eleitorado.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já afirmou que rechaça um candidato de “extrema direita” para a capital paulista. Em almoço com Nunes e Bolsonaro, o dirigente disse que o partido está de “portas abertas” para receber o atual prefeito, o que levou à reação de Salles.
Isac Félix, líder do PL na Câmara Municipal, defende o perfil de centro de Nunes e lembra que ele já recebe apoio de caciques de outras legendas. “O PP já tinha dado a palavra lá atrás para o prefeito. O Republicanos também. A base que Bruno (Covas) conseguiu montar o prefeito conseguiu manter. Não é só o caixa da prefeitura, precisa ver a história da cidade, não tem um dia em que o prefeito não inaugure uma obra”, disse.
Não é só o caixa da prefeitura, precisa ver a história da cidade, não tem um dia em que o prefeito não inaugure uma obra
Isac Félix, líder do PL na Câmara Municipal
A avaliação, no entanto, é que o prefeito precisa se filiar ao PL para convencer a cúpula do partido. Aliados também defendem que, caso não ocorra filiação, o PL teria mais força para pleitear a vaga de vice.
É nesse contexto de eleição antecipada que surgiu o nome de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social de Bolsonaro, para compor com Nunes. “Não podemos permitir que o governador Tarcísio fique ensanduichado entre Lula e uma eventual e indesejada vitória do Boulos. Por isso o pragmatismo político-mandatório”, disse Wajngarten ao Estadão.
Tarcísio terá voz na escolha de candidato
Além da aproximação de Valdemar, Bolsonaro e PL, o dirigente nacional do PSD e secretário de Governo de São Paulo, Gilberto Kassab, e os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, e do PP, Ciro Nogueira, já deram sinais de que preferem Nunes como candidato. A decisão das siglas, porém, deve estar condicionada ao apoio de Tarcísio a Nunes.
Nunes começa a aparecer como o único nome viável de centro-direita à Prefeitura
Rubinho Nunes (União Brasil), vereador em São Paulo
De olho no governador, o prefeito deve manter o Republicanos na chefia da Habitação na capital paulista após o secretário João Farias pedir demissão. Há pressão da sigla por mais espaço na Prefeitura.
O União Brasil do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, que comanda postos-chave na Secretaria de Logística e Transportes, reforça o coro em defesa do atual prefeito. “A saída do Ricardo Salles fortalece o nome do Nunes principalmente com a proximidade dele com Bolsonaro nos últimos tempos. Nunes começa a aparecer como o único nome viável de centro-direita à Prefeitura”, diz o vereador Rubinho Nunes (União Brasil).