Enquanto faz movimentos que o distanciam do bolsonarismo, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), já trabalha para que seu vice, Mateus Simões (Novo), seja seu sucessor no estado. O posto, de acordo com Bianca Gomes, do O Globo, também é cobiçado pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro — sigla que Zema se recusou a ingressar. O governador também resiste a uma aliança com o nome bolsonarista da sigla em Belo Horizonte para 2024.
Com o objetivo de aumentar o apelo popular, Simões virou, recentemente, “professor Mateus”. Ele tem percorrido o estado em agendas próprias, onde aparece sozinho como representante do governo. A estratégia visa a combater o que é visto hoje como seu maior obstáculo: o desconhecimento.
Com exceção de Belo Horizonte, onde já foi vereador, Simões é pouco conhecido dos mineiros. Por isso, a ideia é que ele apareça cada vez mais daqui para frente.
Zema pretende apresentar Simões como seu “braço-direito”, uma espécie de “gerente do governo”, responsável pela articulação interna e pela cobrança de entregas dos secretários. Há quem faça o paralelo com a função desempenhada por Antonio Anastasia na gestão de Aécio Neves.
Aliados de Zema ainda não fecham questão sobre Simões. Presidente nacional do PP, que integra a base do governador, Ciro Nogueira defendeu publicamente, por exemplo, o nome do correligionário Marcelo Aro, secretário estadual da Casa Civil — cargo equivalente ao que Ciro ocupou na gestão de Bolsonaro.
Desejado pelo PL
Logo após as eleições presidenciais de 2022, o PL sondou Zema para uma possível filiação, ideia rechaçada por ele. O vice, tido como um quadro histórico do Novo, também não cogita a troca de sigla.
Embora tenha apoiado Bolsonaro no segundo turno das eleições do ano passado, Zema ensaia um distanciamento estratégico. Pessoas próximas a ele dizem que o governador pretende se firmar mais como um antipetista do que como bolsonarista.
A aposta é numa direita moderada, seguindo os passos de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, que evita tratar de pautas ideológicas e polêmicas. A diferença para o ex-ministro da Infraestrutura é que Zema quer encampar uma postura mais crítica ao Palácio do Planalto e ao PT, embora, na prática, adote o pragmatismo. Em agendas recentes, o mineiro disse que Lula é “avesso a qualquer tipo de avanço” e que tinha melhor interlocução com Bolsonaro.
Se, por um lado, Zema já se movimenta de olho em 2026, por outro ainda não bateu o martelo sobre quem apoiará em Belo Horizonte nas eleições municipais do ano que vem. O grupo político de Zema resiste a uma aliança com o deputado estadual Bruno Engler (PL), provável candidato bolsonarista no pleito. O parlamentar já soma o apoio de Bolsonaro e do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), o mais votado do país em 2022.
Embora seja vice-líder do governo na Assembleia Legislativa, aliados dizem que Engles já criou problemas para a gestão no parlamento e não poupou críticas a Zema.
— Se o candidato fosse o Nikolas (Ferreira), a conversa seria mais fluida e rápida. Já o Bruno (Engler), precisamos entendê-lo. Numa entrevista ele nos chamou de “pessoal do Novo”. Como vamos nos aproximar de alguém que não acredita tanto no nosso trabalho? — afirma Christopher Laguna, presidente do diretório municipal do Novo em BH.
Segundo ele, o partido não descarta lançar um nome próprio nem fazer coligação com outra legenda, como o próprio PL. Embora reconheça que a relação com o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), é melhor do que com o antecessor, Alexandre Kalil (PSD), Laguna não vislumbra, hoje, um apoio ao seu projeto de reeleição:
— Precisamos ver os resultados que ele vai entregar.