Presidente da CPI dos atos do 8 de Janeiro, deputado federal do Bahia, Arthur Maia (União Brasil) tem dividido opiniões segundo Gabriel Sabóia, do O Globo, tanto entre petistas quanto na ala bolsonarista desde que assumiu o posto, considerado estratégico pelos dois lados. A trajetória recente do parlamentar é marcada por sinais difusos. Aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ele apoiou Jair Bolsonaro (PL) na eleição de 2022, hoje é o relator do marco temporal das terras indígenas, considerado desastroso pelo PT, e no passado votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Por outro lado, ele tem se aproximado do governo e conseguiu manter indicado num cargo da máquina federal.
O histórico de posições contrárias ao petismo, entretanto, não faz com que ele seja unanimidade entre os bolsonaristas, que tentam usar a CPI para associar os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos ataques de 8 de janeiro. Integrante do União Brasil, partido que indicou titulares de três ministérios, Arthur Maia mostrou a sua influência junto ao Executivo quando conseguiu segurar Harley Nascimento, seu aliado, no comando da superintendência baiana da Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Durante as negociações para a escolha do presidente da CPI mista, o nome de Maia foi considerado mais “neutro” entre as opções na mesa. Além disso, ele contou com o apoio de Lira. Nesse cenário, Maia é visto com desconfiança por correligionários de Bolsonaro, que almejavam o posto. Um deles era o deputado André Fernandes (PL-CE), autor do requerimento de criação do colegiado.
— Não é um de nós, mas torcemos para que colabore para que as investigações andem. Pelo menos, é adversário local do PT na Bahia e sabe que estivemos ao lado dele no acordo que o deixou na presidência da CPI. Apostamos na coerência de postura — diz o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), designado para coordenar os trabalhos dos bolsonaristas na Comissão Parlamentar de Inquérito.
Primeiro dia da CPI do 8 de janeiro
Deputado desde 2011, Maia já trocou seis vezes de partido, diz Gabriel Sabóia, do O Globo. No ano passado, presidiu a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), antes de apoiar Bolsonaro contra Lula.
— A economia liberal em todo mundo tem gerado mais oportunidades e trazido desenvolvimento para os países. Diante disso, não posso me filiar e apoiar esse modelo socializante do PT — declarou à época.
Pouco depois, porém, teceu elogios a Lula, a quem definiu como: “conciliador”.
Relator do projeto de lei que estabelece um marco temporal para a demarcação de terras indígenas, ele comemorou a aprovação da urgência para a tramitação da matéria, esta semana. Pela proposta, só teriam validade áreas que já estavam ocupadas na promulgação da Constituição de 1998. Embora o governo tenha liberado a base aliada na votação, o tema contraria bandeira do PT e da esquerda.
— É inaceitável que ainda prevaleça a insegurança jurídica e que pessoas de má-fé se utilizem de autodeclarações como indígena para tomar de maneira espúria a propriedade alheia, constituída na forma da lei, de boa-fé e de acordo com o que estabelece a Constituição brasileira — afirmou.
Na caminhada até se tornar presidente da CPI, Maia também relatou a Reforma da Previdência no governo de Michel Temer (MDB). Próximo a outras figuras influentes, como Lira e o secretário-geral do União Brasil, ACM Neto, Maia garante que terá atuação técnica na comissão.