A ação mais avançada que pode levar Jair Bolsonaro (PL) a se tornar inelegível, a que trata da reunião com embaixadores em que ele falou contra as urnas eletrônicas, ainda aguarda segundo Rafael Moraes Moura, do Estadão, a liberação do relatório final do ministro Benedito Gonçalves para ir a plenário, mas já ganhou um apelido dos aliados do ex-presidente.
O processo, movido pelo PDT, recebe a sigla “Aije”, abreviatura em juridiquês para Ação de Investigação Judicial Eleitoral, que serve para apurar crimes eleitorais, como abuso de poder político, econômico e uso indevido dos meios de comunicação.
Não há prazo para o julgamento, mas espera-se que o relator libere seu voto a qualquer momento nas próximas semanas, o que tem feito o nível de tensão aumentar no entorno de Bolsonaro.
Tanto que seus aliados passaram a chamar o processo por um nome peculiar: “Ai, Jesus”, em referência às iniciais de “Aije”. Diferentemente dos pedetistas, que se referem a ela, protocolarmente, como “Aije dos embaixadores”.
A brincadeira expõe o receio do time do ex-presidente com o desfecho do caso, que aumentou após o TSE cassar por unanimidade o registro, e por tabela, o mandato do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR).
No caso de Bolsonaro, há 16 ações no TSE que podem declará-lo inelegível, das quais seis são movidas pelo PDT, oito pela coligação de Lula e outras quatro pela campanha da senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que foi a quinta mais votada para o Planalto na eleição de 2022.
A acusação mais frequente nessas 16 ações é a de abuso de poder político (crime apontado em 12 processos), seguido de abuso de poder econômico (9 ações) e uso indevido dos meios de comunicação (6), segundo mapeamento feito pela equipe da coluna.
Na maioria delas, o ex-chefe do Executivo é investigado por mais de um crime.
Na “Aije dos embaixadores”, Bolsonaro é acusado de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, já que os ataques contra o sistema eleitoral proferidos no Palácio da Alvorada, diante de 72 embaixadores, foram transmitidos ao vivo pela TV Brasil.
Dentro e fora do TSE, é dado como certo que Benedito Gonçalves vai dar um duro e contundente voto pela condenação de Jair Bolsonaro, seguindo o que já recomendou o parecer do Ministério Público Eleitoral.
Para os bolsonaristas, o caso de Dallagnol funcionou como sinal de alerta de que não haverá refresco para o ex-presidente, e por isso os detalhes do procedimento usado com o ex-procurador da Lava-Jato são vistos como um precedente a ser acompanhado.
No processo de Deltan, o ministro mudou a rotina normalmente adotada, de divulgar o voto aos colegas do TSE por e-mail.
Desta vez, Gonçalves enviou o voto num envelope lacrado para cada um dos outros seis ministros do tribunal, antes do julgamento, em uma estratégia para evitar vazamentos.
Até a isso os bolsonaristas estão atentos. Se mais um envelope lacrado surgir quando Gonçalves compartilhar o voto com os outros gabinetes no caso da inelegibilidade de Bolsonaro, é sinal de que os temores externados no apelido “Ai, Jesus” têm grandes chances de se confirmar.