Ao observar como os corpos envelhecem, o estudo pode ajudar a prever quem tem mais probabilidade de desenvolver demência ou diferentes tipos de câncer. A pesquisa já levou a um teste genético para pessoas nascidas com maior risco de doença cardíaca coronária.
Fui o primeiro voluntário a ser examinado, há nove anos, e estou de volta para mais uma bateria de exames.
Tudo — desde meu cérebro até meu coração, olhos e densidade óssea — será examinado pela segunda vez.
Assim como eu, todos os voluntários fazem parte do chamado UK Biobank, e pesquisadores em mais de 90 países estão usando esse banco de dados para estudos relacionados à saúde.
Ter duas séries de imagens altamente detalhadas de ressonância magnética e densidade óssea de milhares de pessoas, feitas com vários anos de diferença, pode abrir novas possibilidades para detectar e prevenir doenças como demência, câncer e problemas cardíacos.
“Os pesquisadores vão poder observar as mudanças em nossos órgãos à medida que envelhecemos, o que vai ajudar a desenvolver biomarcadores de doenças, talvez muitos anos antes de um diagnóstico clínico e dos sintomas”, explica a cientista-chefe, Naomi Allen, à BBC.
Pode haver também muitos outros potenciais resultados da pesquisa.
O estudo pode descobrir quem responde melhor aos tratamentos e por que algumas pessoas parecem ser muito mais resistentes a certas doenças do que outras, afirma Paul Matthews, chefe do UK Dementia Research Institute na Universidade Imperial College London e presidente do Imaging Working Group do UK Biobank.
O que é o UK Biobank?
Lançado em 2006, o UK Biobank se propôs a ser o estudo mais abrangente de saúde no Reino Unido.
O programa cadastrou meio milhão de adultos — inclusive eu — para serem submetidos a exames médicos, responder a perguntas sobre saúde e estilo de vida e doar amostras genéticas, para serem armazenadas e estudadas por décadas.
Todos os participantes tiveram seu genoma — todo o seu DNA — sequenciado.
A parte de imagem do projeto foi iniciada em 2014 e envolve exames de imagens detalhadas do cérebro e do resto do corpo.
Todos os dados coletados são anonimizados e geralmente não há feedback para os participantes. Então, o que eu e os demais voluntários ganham com isso?
Marian Keeling, de 67 anos, resumiu assim: “Existe um grau de altruísmo, e é um pouco como ser doador de sangue, você faz isso pelo próximo”.
A voluntária Mary Wilson, de 81 anos, fez uma observação semelhante: “Isso vai ajudar as gerações futuras e ajudar o serviço de saúde. Quanto mais tempo você puder permanecer saudável, melhor”.
Existem outros bancos de dados biomédicos, mas eles são menores ou não são tão longevos quanto o UK Biobank.
E ele já está começando a ajudar a embasar a medicina.
Mais de 7 mil artigos revisados por pares foram publicados, quase um terço deles apenas no ano passado, mostrando como seu valor científico está aumentando com o tempo.
Em 2018, os pesquisadores desenvolveram um teste genético para detectar pessoas nascidas com risco aumentado de doença cardíaca coronária, analisando dados genômicos do UK Biobank.
“Se você combinar toda variação genética em seu genoma, cada variação tem um pequeno efeito, mas, em conjunto, alguns indivíduos têm um risco genético bastante grande de desenvolver doenças cardíacas ou desenvolver diferentes tipos de câncer que simplesmente não sabíamos de antemão”, diz Allen.
Paul Elliott, epidemiologista da Escola de Saúde Pública do Imperial College London, afirma que o vasto banco de exames de voluntários pode melhorar a compreensão de como nossos genes e ambiente afetam o risco de doenças.
“Ele se baseia na capacidade do NHS (serviço público de saúde do Reino Unido) de acompanhar as pessoas por meio de sua ficha médica, com consentimento, e é um exemplo preeminente dos benefícios da pesquisa financiada com recursos públicos”, diz ele.
Segundo Elliott, o UK Biobank se tornou o “padrão ouro” internacionalmente para esse tipo de estudo.
O projeto de imagem é financiado pelo Medical Research Council, Wellcome Trust, British Heart Foundation e Dementias Platform UK.