quinta-feira 21 de novembro de 2024
Foto: PT | Divulgação
Home / DESTAQUE / PEC da Anistia contraria bandeiras erguidas pelo PT e causa constrangimento no partido
terça-feira 16 de maio de 2023 às 06:13h

PEC da Anistia contraria bandeiras erguidas pelo PT e causa constrangimento no partido

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


A PEC da Anistia, prevista para votação na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (16), contraria bandeiras erguidas pelo PT e pela esquerda, gerando segundo matéria de Paola Ferreira Rosa e Matheus Tupina, da Folha, constrangimento interno no partido e em setores da sociedade civil que apoiaram a candidatura presidencial da sigla em 2022.

Embora evitem criticar publicamente a proposta, 15 deputadas, entre elas 8 petistas, pediram a retirada de suas assinaturas da PEC. Ao todo, foram 17 requerimentos desde a apresentação do projeto, em março, sendo 3 de pessoas negras e 1 de indígena. O PL fez cinco pedidos de retirada.

Entre as solicitantes do PT, estão Camila Jara (MS) e Benedita da Silva (RJ), autora do projeto de lei que prorroga a Lei de Cotas nas universidades por mais 50 anos. Como os outros requerentes, ela alega ter ocorrido “erro material” ao assinar a proposta. Alguns dizem ainda ter assinado sem saber do que se tratava, solicitando a retirada. Os pedidos foram indeferidos.

O apoio do PT à PEC desconsidera a opinião de mulheres e negros do Parlamento, principais afetados pelas irregularidades eleitorais cometidas pelos partidos, e de entidades civis. Eles afirmam que o projeto prejudica esforços realizados nos últimos anos para a inclusão de grupos sub-representados na política e reforça a impunidade.

Pela lei, cada partido deve destinar pelo menos 30% da verba do fundo eleitoral para candidatas, além de um valor proporcional ao número de candidatos negros que lançar. A PEC 09/2023 estende para a eleição passada o perdão a partidos que não cumpriram essas cotas e os isenta de sanções de qualquer natureza.

A mobilização a favor da anistia, considerada a maior da história, inclui governo e oposição e conta com a assinatura de 13 agremiações partidárias, incluindo o PL e a federação liderada pelo PT.

De 17 deputados e deputadas federais negros procurados pela Folha, 9 se disseram contrários à PEC. Um deputado disse não ter opinião formada e os outros não responderam.

Apesar disso, a maioria tende a votar em bloco com seus partidos nesta terça, a favor da PEC. Um grupo liderado por mulheres e negros do PT tenta articular uma liberação para votarem de forma independente.

Caso precisem ceder a favor da posição de sua sigla, o grupo propõe como condição que sejam criados mais parâmetros para a destinação dos fundos de acordo com os critérios de gênero e raça nas próximas eleições.

Isso porque o autor da PEC, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), argumenta que as direções partidárias tiveram dificuldade para se adaptar às novas obrigações “em decorrência da inexistência de outra regra que apresentasse as balizas ou uma maior elucidação sobre a matéria pertinente à distribuição das referidas cotas”.

O projeto discutido no Congresso permite também que os partidos voltem a receber dinheiro empresarial para quitar dívidas com fornecedores contraídas até agosto de 2015, tornando-os impunes caso seja identificada alguma irregularidade.

Para a deputada Erika Hilton (PSOL-SP), a PEC é inconstitucional. “Ela debocha de toda uma legislação importante para a garantia de equidade e de paridade de gênero e raça nas disputas eleitorais e nos partidos políticos. É um desrespeito com a sociedade e com a luta que travamos para conseguirmos o direito de que haja essa tentativa de equiparação”, diz.

O partido, aliado de Lula desde a campanha eleitoral, tem articulado obstruções na CCJ (Comissão de Constituição de Justiça), apresentando requerimentos para que a votação seja derrubada da pauta. Com isso, a votação prevista para 25 de abril foi postergada para o dia 26, quando foi remarcada novamente.

“Se a PEC for aprovada, vamos perder completamente a credibilidade nas leis. Nós vamos perceber que de fato não há nenhum compromisso em se fazer com que se equiparem as desigualdades que existem na política institucional e refletem nas outras esferas da sociedade, não apenas na política”, acrescenta Hilton.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, vem se posicionando a favor da PEC da Anistia. Ela tem aparecido em propagandas partidárias na televisão e no rádio na qual afirma que “o PT defende mais políticas para as mulheres e mais mulheres na política”.

Gleisi defendeu que a PEC fosse discutida pelos deputados no dia 25 de abril, quando estava prevista sua votação, citando a necessidade de “um debate aberto e franco” sobre o tema, contrariando deputados que querem o cumprimento da atual legislação e tentam o adiamento para convencer aliados a votar contra a proposta.

Entidades da sociedade civil têm também se mobilizado contra a proposta de anistia. Em abril, mais de 50 organizações e movimentos encaminharam uma carta ao Tribunal Superior Eleitoral, na qual afirmam que PEC extingue a eficácia de julgamentos realizados pela Justiça Eleitoral e esvazia o poder de fiscalização dela.

Para Jefferson Nascimento, coordenador de justiça social e econômica da Oxfam Brasil, signatária do documento, medidas como a obrigatoriedade de destinação de verbas para grupos sub-representados exercem ação educativa e contribuem para a redução das disparidades.

“A PEC traria uma sinalização bem negativa, no sentido de que mesmo esses avanços pequenos concedidos, com relação a mais representatividade de mulheres e de pessoas negras na política, têm sido minados pelo próprio Congresso”, afirma.

Frei David Santos, diretor-executivo da Educafro, propõe não só que a PEC seja rejeitada, mas também que as multas recolhidas dos partidos que desrespeitaram o repasse mínimo de verbas a mulheres e negros sejam revertidas em benefício desses segmentos em pleitos futuros.

Embora não precise da sanção presidencial para entrar em vigor, a PEC contraria bandeiras adotadas por Lula. Em janeiro, após receber a faixa presidencial do “povo brasileiro” —simbolizado pelas figuras de uma criança negra, um indígena, uma mulher negra, um operário e uma pessoa com deficiência—, o presidente se dirigiu a grupos minorizados durante o discurso de posse no Congresso Nacional.

O petista disse ser “inadmissível que as mulheres não sejam reconhecidas em um mundo político machista”, que “negros e pardos continuem sendo a maioria pobre e oprimida de um país construído com o suor e o sangue de seus ascendentes”, e prometeu “revogar todas as injustiças cometidas contra os povos indígenas”.

Eleito, o presidente criou os Ministérios das Mulheres, dos Povos Indígenas, dos Direitos Humanos e Cidadania e da Igualdade Racial, em consonância com suas promessas de campanha.

O presidente, no entanto, tem relutado em indicar uma mulher negra ao Supremo Tribunal Federal para a vaga aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski, ocorrida em abril.

Veja também

Bolsonaro pode ser preso após indiciamento? Entenda os próximos passos do processo

Jair Bolsonaro (PL) foi indiciado pela Polícia Federal nesta quinta-feira (21) pelos crimes de abolição …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!