Com cem dias completados à frente da Secretaria de Governo (Segov) da Prefeitura, Cacá Leão (PP) avaliou, em entrevista a Guilherme Reis, Mateus Soares e Paulo Roberto Sampaio, do jornal Tribuna da Bahia, positivamente a filiação do presidente da Câmara Municipal de Salvador, Carlos Muniz, ao PSDB.
O ex-deputado federal não poupou elogios à trajetória política do novo tucano.
Confira a entrevista na íntegra:
Tribuna: Como tem sido a sua experiência como secretário ao lado do prefeito Bruno Reis?
Cacá Leão: Eu acabei de completar 100 dias à frente da Secretaria de Governo aqui na Prefeitura, estou cumprindo a missão que me foi dada pelo prefeito Bruno Reis, tenho tido uma excelente relação com os vereadores, com os colegas secretários. Sempre brinco: estou mudando de lado, eu que sempre tive a experiência no Legislativo, estou vivendo a experiência do Executivo. O meu mantra é tratar como gostaria de ser tratado, e acho que ao longo desses 100 dias tenho conseguido cumprir essa missão, pelo menos ainda não recebi nenhuma queixa do prefeito. Então acho que as coisas estão caminhando bem, a gente está conseguindo resolver os problemas, conseguindo ajudar nessa questão da articulação, conversando, tenho dialogado diariamente com os vereadores da nossa base e, também, com os da oposição quando me procuram, tenho tentado ajudar os problemas que surgem e ajudar o povo de Salvador como um todo.
Tribuna: Qual a sua avaliação do início do governo Lula? Com base em sua experiência no Congresso, o que o senhor tem achado desses primeiros 100 dias?
Cacá Leão: O governo tem encontrado dificuldades, até muito mais do que eu imaginava que fosse ter, afinal o presidente já governou o Brasil por oito anos, já tem experiência suficiente do funcionamento da máquina, mas o que a gente tem visto hoje é uma dificuldade de articulação política no Congresso. O governo ainda está batendo cabeça nessa condição, ainda não conseguiu, teve inclusive uma derrota muito grande no plenário da Câmara dos Deputados, tudo indica que vai ter também uma derrota no plenário do Senado por tratar matéria legislativa através de decreto. A Câmara entendeu que o governo não tem competência para tratar isso, acredito que esse seja o entendimento do Senado também, então acho que o governo tem batido cabeça, tem patinado, tem deixado para trás as suas promessas de campanha. Temos ouvido muita cobrança do povo, o povo que na eleição recebeu a promessa de tomar cerveja no domingo, de comer picanha, e o governo ainda não conseguiu encontrar esse caminho para solucionar esses problemas. O que o governo fez até agora para ajudar a população foi transformar o Auxílio Brasil de R$ 600 no Bolsa Família de R$ 600. Trocou o nome do programa social que já estava, que foram eles que criaram, trouxeram o nome do Bolsa Família de volta, mas de efetivo quanto a isso não fizeram nada. O governo precisa tratar a pauta social com mais seriedade, investir na geração de emprego, na geração de renda, fazer com que a moeda, com que o dinheiro circule aqui dentro do país. O presidente Lula tem viajado muito para o exterior, tem conversado muito com as economias do mundo, mas de fato, de concreto para o Brasil, a população ainda sente e passa pelas mesmas dificuldades que eles diziam que com um toque de mágica iria acabar.
Tribuna: Qual a sua opinião sobre a proposta do arcabouço fiscal? Essa proposta atende as necessidades do país nesse momento?
Cacá Leão: Eles estão trocando a regra fiscal. O que é o arcabouço? Eu até concordo com o relator, com o deputado Claudio Cajado, que é uma palavra muito feia. Eles estão trocando a trava do orçamento, de o governo gastar mais do que arrecada, eles estão trocando a trava da despesa pela trava da receita. É uma regra fiscal válida, mas a gente precisa também tomar cuidado com a criação de despesas dentro do governo. O governo precisa fazer um exercício para diminuir as suas despesas desnecessárias, é claro. Acho que o governo deveria enxugar a máquina pública, não ampliar a máquina pública. Fazer com que essa máquina se torne mais eficiente, com que essa máquina traga mais benefícios aos cidadãos diretamente, e não se torne um cabide de empregos. Então o governo precisa fazer o seu dever de casa, não é uma mudança de regra que vai trazer o conforto para o cidadão lá da frente, que vai fazer lá na ponta com que essa moeda, como falei anteriormente, circule mais no Brasil. O governo precisa trocar e fazer de fato uma contenção de despesas, um enxugamento da máquina, e fazer com a moeda circular dentro do país.
Tribuna: Qual a sua avaliação sobre o início do governo Jerônimo? Já mostrou alguma marca em relação ao governo anterior?
Cacá Leão: É um governo que vai aí para 20 anos. É o 17º ano do governo do Partido dos Trabalhadores na Bahia, um governo que enfrenta as mesmas dificuldades do passado, a questão da Segurança Pública batendo na porta do cidadão… Todas as madrugadas, seja em Salvador ou até nas menores cidades, a população tendo que se esconder com toque de recolher, com dificuldades de circular nas ruas, as empresas, os restaurantes tendo dificuldades hoje de funcionar por causa dos constantes assaltos que acontecem. A pessoas continuam sofrendo com a fila da regulação também, com dificuldades de acessar os hospitais e de ser atendidas pelo serviço de saúde pública. Então os problemas do passado continuam os mesmos. O governador tem colocado em sua fala a questão social como uma grande bandeira, como uma grande questão, mas é até engraçado porque depois de 16 anos veio se perceber que as pessoas estão com fome na Bahia, e aí se faz como primeiro passo um projeto de arrecadação de alimentos, de arrecadação de cestas básicas. O que é válido, mas precisa estar vinculado e acoplado a um programa social, e eu ouvi dizer que essa semana será mandado para a Assembleia Legislativa da Bahia, então de fato a gente ainda não viu o governo começar verdadeiramente.
Tribuna: O senhor é a favor da regulamentação das plataformas? Um projeto inclusive que o governo tem tido dificuldades com a tramitação no Congresso…
Cacá Leão: Essa questão do Projeto de Lei virou pauta praticamente ideológica sobre essa questão das fake news. Eu sempre defendi o meio termo. Acho que a internet não pode ser terra sem lei, acho que a internet não pode ser tratada como terra de ninguém. Às vezes as pessoas vão na sua própria rede social e ofender as pessoas, ou vão na nossa rede social e entram atacando, isso tem que ter uma legislação mais dura e mais forte para tratar desse assunto. Agora regulamentar o que a pessoa está dizendo, o que está colocando, postando ou está falando, ela tem que ter responsabilidade, ela tem que ser criminalizada por aquele conteúdo, então acho que a gente precisa não regular, precisa potencializar as penas de quem comete as infrações. Então eu defendo nesse caminho um meio termo, uma discussão mais ampla, acho que o Congresso vai acabar tendo que fazer isso, porque houve uma rejeição muito grande da sociedade nessa questão desse PL das Fake News. Esse discurso deve ser ampliado e tem que ser realmente ampliado, mas volto a dizer, acho que a internet, as plataformas digitais, os sites, o próprio Google, não podem ser terra de ninguém.
Tribuna: Como está o clima dentro do PP em relação à discussão da sucessão da presidência? Há chances de pacificação?
Cacá Leão: A gente fez um processo muito grande de discussão, tentando encontrar um consenso no processo. Sempre bati na tecla de que o consenso é mais difícil do que disputar a eleição, quando vamos para uma disputa tem o vencedor e o vencido, se o vencedor tiver condição acalma os ânimos, faz um carinho em quem perdeu, e toca-se a bola para frente, as feridas não podem ficar expostas. Mas é sempre muito melhor se você conseguir criar um consenso, e foi o que a gente foi tentando ao longo desse tempo. Infelizmente, não conseguimos criar um consenso, e no meio dessa disputa, o deputado Ronaldo Carletto, que é nosso amigo, é um cara da minha relação pessoal, um parceiro político, é meu suplente, inclusive nas eleições que disputamos agora em 2022, resolveu buscar outro caminho. Respeito a decisão do deputado Ronaldo Carletto, desejo toda sorte do mundo para ele na condução do Avante. O Partido Progressista vai continuar tocando a sua vida, agora com a presidência do deputado federal Mário Negromonte Júnior, que conseguiu unir a maioria e vai tomar a frente dessas discussões partidárias para fortalecer o partido para o processo das eleições de 2024. Passando as eleições de 2024, porque tem muita gente com pressa desse cenário, é que nós vamos tratar da questão de 2026. Nosso objetivo é fazer com que o partido esteja forte em 2024, que o partido dispute as eleições nos municípios onde a gente tem base política. Hoje o partido está formado e fomentado nos 417 municípios. É natural que com a saída de uma peça importante do partido algumas pessoas acompanhem esse caminho, mas nós vamos procurar repor essas peças nos municípios, vamos procurar conversar com pessoas novas nessas cidades que desejem compor os progressistas, que venham fazer política ao nosso lado, que estejam ao lado dos nossos deputados estaduais, dos nossos deputados federais, isso é parte natural do processo da política. A gente vai dialogando, conversando, fazendo o dever de casa para que o PP, que é um dos maiores partidos do Brasil e da Bahia, continue sendo um partido desse tamanho.
Tribuna: Como será a sua atuação na sucessão de Lauro de Freitas? Há chances do senhor ser candidato?
Cacá Leão: Tenho participado de algumas conversas. O meu nome não está à disposição. Eu sempre coloquei essa questão. Eu não participarei desse processo eleitoral de 2024 como candidato, vou participar como cabo eleitoral, como agente político que sou. Mesmo nesse momento não estando em um mandato, mas tenho uma missão e uma função na Secretaria de Governo da Prefeitura de Salvador, que está tomando o meu tempo durante a semana de fazer essas conversas, essas articulações, mas durante o final de semana eu tenho feito essas conversas, não só com Lauro de Freitas, mas com todos os municípios os quais eu representei ao longo da vida e da minha trajetória política, e também dos municípios onde eu adquiri amigos nessa disputa das eleições de 2022. Então vou participar da eleição em Lauro de Freitas como agente político, não como candidato. Estamos unindo as peças, estamos discutindo, estamos conversando, eu espero que em breve a gente consiga ter um nome de consenso que vai disputar e que vai enfrentar o processo eleitoral na cidade.
Tribuna: O senhor acha que existe a possibilidade de um diálogo ou até mesmo de um acordo entre João Roma e Bruno Reis para as eleições do ano que vem?
Cacá Leão: Diálogo tem que acontecer, eu acho que todo mundo tem que conversar com todo mundo. Eu particularmente não faço política de ódio, não faço política com raiva, é natural, como falei, a minha origem do Parlamento me fez inclusive aprender com isso. Tanto o prefeito Bruno Reis quanto o ex-deputado João Roma nasceram dentro de um mesmo grupo político, foram colegas, secretários aqui dentro da Prefeitura, em um determinado momento João foi buscar um outro caminho, e pode ser que esses caminhos se encontrem novamente lá na frente, agora conversando, dialogando, conduzindo, e sempre pensando no que é prioridade nesse processo, que é o bem do povo de Salvador.
Tribuna: Como o senhor viu, politicamente falando, a filiação de Carlos Muniz ao PSDB? Ele tem lhe procurado ou o seu diálogo se limita mais aos demais vereadores?
Cacá Leão: Sempre tive uma excelente relação com o presidente Carlos Muniz, desde a época dele como vereador e eu como deputado, a gente sempre teve uma relação de respeito, de amizade, de admiração. Eu sempre admirei a sua forma de fazer política, e não diferente com a chegada dele na presidência da Câmara, e também a minha chegada aqui na Secretaria de Governo. Nós nos falamos praticamente toda a semana, conversamos, debatemos, dialogamos, procuramos ter e construir a melhor relação possível. Está dando certo. A Câmara tem aprovado projetos dos vereadores. A Câmara tem aprovado projetos do Executivo. A gente tem procurado ajudar e contribuir com essa questão, a nossa base tem recebido todo apoio dessa construção do presidente Carlos Muniz, e a chegada dele ao PSDB fortalece ainda mais esse projeto. Quando ele decide se filiar em um partido da nossa base é óbvio que isso fortalece ainda mais esse projeto e esse diálogo. Agora é óbvio que a gente está em ano de eleição. O ano de política vai ser no ano que vem, as discussões com o PSDB vão acontecer, como sempre aconteceram. Nessa próxima semana inclusive a gente vai se encontrar novamente discutindo, mas discutindo a pauta do Legislativo. Agora, como falei, quando ele toma a decisão de se filiar em um partido que faz parte da nossa base, isso aumenta ainda mais as expectativas de ambos os lados de caminharmos juntos no futuro, porque agora nós já estamos.