A crise na Venezuela começou a dar os primeiros sinais no ano de 2013 durante o governo do presidente Hugo Chávez. O presidente, que era filiado ao Partido Socialista Unido da Venezuela, esteve no governo de fevereiro de 1999 a março de 2013.
O país, que atualmente é governado por Nicolás Maduro, membro do mesmo partido de Chávez, ainda vive os efeitos severos da crise. O governo do atual presidente não tem o apoio de uma parcela da população, que o considera ilegítimo e com características de uma ditadura.
O que é a crise na Venezuela?
A crise que acontece na Venezuela é uma crise principalmente econômica e política, com graves consequências sociais que atingem todo o país.
O presidente Maduro, que assumiu após a morte de Hugo Chávez, tem enfrentado uma forte resistência política dentro da Assembleia Nacional da Venezuela, que é formada por maioria que se opõe ao governo. O Parlamento Venezuelano já declarou formalmente que não reconhece o governo do atual presidente.
A decisão do Parlamento é uma tentativa de restabelecer a democracia do país, para permitir que a Venezuela tenha eleições diretas para a presidência, já que o partido, entre os governos de Chávez e Maduro, já ocupa a presidência há 18 anos.
A reeleição do presidente Maduro em maio de 2018 agravou ainda mais a crise política do país, pois a votação aconteceu de forma conturbada, em meio a diversos protestos e denúncias de fraude eleitoral.
Como começou a crise?
O estopim da crise da Venezuela é ligado à crise do petróleo do país. É na Venezuela que estão localizadas as maiores reservas mundiais de petróleo e a exploração deste recurso é fundamental para a estabilidade econômica do país, pois representa sua base econômica.
Outra causa que agravou ainda mais a crise é o fato de que a economia da Venezuela é pouco diversa, já que mais de 90% da renda do país é originada da exploração e da exportação do petróleo extraído na região.
Em 2014, ainda no começo da crise, o preço do petróleo começou a dar os primeiros sinais de queda. Além da diminuição do preço na venda, a baixa de produção petrolífera do país foi responsável por agravar ainda mais a crise. Conforme dados oficiais, nos últimos vinte anos a produção de petróleo na Venezuela caiu pela metade, passando de 3 milhões de barris por dia para 1,5 milhão por dia atualmente.
Quem é Nicolás Maduro?
Nicolás Maduro Moros é o atual presidente da Venezuela, eleito em 2013 após a morte de Hugo Chávez e reeleito em 2018. Faz parte do Partido Unido Socialista da Venezuela. Antes de ser presidente já presidiu o Mercosul, a Assembleia Nacional da Venezuela e foi Ministro das Relações Exteriores durante o governo chavista.
Maduro iniciou sua trajetória política como sindicalista, quando era empregado do Metrô de Caracas. Foi eleito para a Assembleia Constituinte em 1999 e participou da elaboração da nova Constituição do país.
Em 2000 foi eleito deputado da Assembleia Nacional e ocupou o cargo até 2006, quando assumiu o Ministério das Relações Exteriores no governo de Hugo Chávez. Em 2012 assumiu o cargo de vice-presidente, vaga que ocupou até a morte de Chávez em 2013.
Consequências da crise na Venezuela
A crise, que vem se acentuando muito nos últimos anos, tem inúmeras consequências prejudiciais para o país e para a vida de seus cidadãos. O aumento dos índices de fome, de desemprego e da violência são os aspectos que atingem a população mais diretamente.
Atualmente boa parte da população venezuelana vive em condições precárias, sem acesso a serviços e direitos que são básicos à dignidade de uma pessoa, como alimentação, produtos de higiene e medicamentos.
Como consequência de todos estes problemas enfrentados pelos venezuelanos nos últimos anos, a emigração cresceu excessivamente e muitos cidadãos têm deixado o país fugindo da crise, em busca de melhores condições de vida.
Os destinos mais comuns buscados pelos venezuelanos são os países vizinhos da América Latina, sendo o Brasil (juntamente com Argentina, Chile e Peru) um dos mais procurados. O país tem recebido entre 350 e 400 pedidos de asilo de cidadãos venezuelanos a cada dia.
A Operação Acolhida, chefiada pela Casa Civil com o auxílio do Exército Brasileiro, recebe e encaminha os imigrantes que chegam ao país, principalmente através da cidade de Pacaraima, em Roraima.
A Operação é responsável pelos primeiros encaminhamentos legais de regularização dos cidadãos venezuelanos, além de fornecer alimentação, atendimento médico e abrigo.
Consequências econômicas
Os problemas econômicos do país também não param de crescer. A economia da Venezuela está enfraquecida, apresentando pouquíssimo crescimento nos últimos anos. O Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 40% desde 2013. Estudiosos do mercado econômico calculam que o índice deve cair ainda mais nos próximos períodos.
A inflação do país também é outra consequência da crise. O índice também atingiu níveis recordes, alcançando cerca de 800% entre os anos de 2016 e 2017. Estes dados confirmam que esta é a maior crise econômica da história do país.
Consequências políticas
Os problemas e desgastes que o país vem enfrentando também são causadores de consequências que atingem diretamente a política venezuelana, causando uma instabilidade que dividiu os apoios políticos do país em dois grupos opostos.
Há um grupo que, apesar da crise, ainda acredita e defende a implementação das políticas sociais do modelo de gestão de Hugo Chávez, chamado de chavismo ou governo chavista.
O outro grupo se posiciona contrário a este modelo de governo e luta contra a manutenção do Partido Socialista Unido da Venezuela na presidência do país, o que já dura quase duas décadas.
Como está a situação da Venezuela atualmente?
A crise no país vem causando situações políticas conflitantes. O governo do presidente Nicolás Maduro tem sofrido diversos ataques e muitos países, como Brasil, Argentina, Chile, Equador, Peru, Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Holanda, não reconhecem a legitimidade do governo.
Entretanto, países como Bolívia, Cuba, México, Turquia, China e Rússia já declararam apoio e reconhecimento ao atual governo.
Além disso, no início de 2019 o deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional se autoproclamou presidente interino do país, o que gerou ainda mais confusão e divisão política no país. Juan faz a defesa de novas eleições para garantir o restabelecimento democrático do país.
Os enfrentamentos políticos nas ruas do país são cada vez mais frequentes e mais violentos. Cidadãos apoiadores e opositores do atual governo entram em confronto com frequência.
A instabilidade e os conflitos políticos têm feito com que a Venezuela fique bastante isolada em suas relações internacionais com outros países.
Quem é Juan Guaidó?
Juan Guaidó Márquez se autoproclamou presidente da Venezuela em janeiro de 2019 após declarar publicamente que considerava a posse do presidente Nicolás Maduro ilegítima.
Foi eleito como deputado nacional em 2012 e presidente da Assembleia Nacional da Venezuela em 2019.
Guaidó faz parte do partido de centro-esquerda Voluntad Popular, sendo um de seus membros fundadores. Iniciou a trajetória política no movimento estudantil e se destacou durante o referendo constitucional da Venezuela em 2007. O referendo aprovou a reeleição ilimitada para os cargos políticos na Venezuela.
Em 2015 ele foi eleito deputado pelo estado Vargas, onde nasceu. Em 2018 foi eleito chefe da oposição parlamentar da Assembleia Nacional do país.
Como a crise na Venezuela afeta o Brasil?
Venezuela e Brasil são países fronteiriços e por isso o conflito político no país vizinho também afeta o Brasil, principalmente em razão das relações políticas e econômicas mantidas entre os dois. Além do aumento do fluxo de pedidos de legalização de imigrantes, o conflito afeta o país política e economicamente.
As relações comerciais entre os países foram afetadas pela crise econômica venezuelana e, em 2018, o volume de exportações do Brasil para a Venezuela foi o menor dos últimos vinte anos
Quanto às consequências políticas, as decisões tomadas pelo governo brasileiro sobre o governo venezuelano podem afetar e aumentar ainda mais a tensão política entre direita e esquerda no país, especialmente em relação aos diferentes apoios dentro do próprio governo.
A Revolução Bolivariana
A Revolução Bolivariana é o modelo de gestão política adotado por Hugo Chávez quando governou o país. De certa forma o modelo de governo funcionou por um tempo e, de acordo com especialistas políticos, muito disso se devia à capacidade de liderança do ex-presidente, o que não ocorre com Nicolás Maduro.
Os apoiadores de Chávez defendem que o governo foi responsável por atender demandas populares, especialmente as ligadas às políticas de diminuição de desigualdade social. A ideia é contestada pelos opositores, que alegam que o governo chavista foi, na realidade, uma ditadura.
Uma das medidas aplicadas por Hugo Chávez era o controle de preços de produtos no país. A medida era utilizada como uma tentativa de controle de inflação. Entretanto, como ponto negativo, a medida diminuiu bastante o investimento de outros países na Venezuela.
Apoiadores do governo também defendem que Hugo Chávez foi responsável pela recuperação de processos democráticos no país ao colocar os cidadãos no centro de interesses do governo. A ideia também é contrariada pelos opositores de Chávez.