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O Presidente da Argentina Alberto Fernandez - Foto: C.De Luca.POOL/Europa Press/Arquivo 
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terça-feira 2 de maio de 2023 às 08:56h

Presidente da Argentina viaja com urgência ao Brasil para obter linhas de crédito para importações

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O presidente argentino, Alberto Fernández, reúne-se com Lula nesta terça-feira para obter ajuda financeira e política do aliado brasileiro para a crítica situação argentina. No campo econômico, o apoio pretendido tem duas frentes principais: linhas de crédito do BNDES para empresas brasileiras exportarem produtos à Argentina e o financiamento da construção de um estratégico gasoduto.

No primeiro caso, a Argentina mantém as importações necessárias para a sua economia continuar a produzir; no segundo, além de evitar importar gás, o país passaria a exportar o produto, invertendo uma deficitária equação na sua balança comercial, agrava pelo aumento das commodities energéticas a partir da guerra na Ucrânia.

“Esta é uma viagem politicamente relevante porque é economicamente importante para o governo argentino conseguir que o Brasil contribua para a Argentina evitar o principal risco provocado pela escassez de dólares: além da desvalorização da moeda, a falta de dólares limita a importação de bens e de componentes que sustentam a atividade econômica e a produção na Argentina”, explicou para a RFI o analista político Lucas Romero, da Synopsis.

A situação emergencial da Argentina é decorrente das reservas do seu Banco Central, próximas do zero. A escassez de dólares é tamanha, a ponto de o país ter ficado sem dinheiro para importar componentes básicos para a sua própria indústria funcionar.

“O ministro Sergio Massa procura aliviar dois pontos: a demanda de dólares, mas, principalmente, o impacto na atividade econômica porque muitos setores têm limitado as importações, afetando a produtividade. A Argentina vive uma desaceleração muito grande a ponto de que as previsões são de que a economia encolha em torno de três pontos do PIB. Nesse sentido, esta viagem ao Brasil é fundamental”, aponta o cientista político Sergio Berensztein.

O governo argentino tenta que o seu principal parceiro comercial, o Brasil, continue a lhe enviar produtos, mas sem cobrar agora e sem cobrar em dólares. Por isso, é importante para Buenos Aires que essas linhas do BNDES sejam em reais. Os Bancos Centrais de cada país seriam as garantias do crédito e os responsáveis pela compensação em moeda local.

Terreno perdido pelo Brasil para a China

Se, para a Argentina, a vantagem é poder manter a atividade econômica, adiando o pagamento de importações, para o Brasil, a vantagem é poder continuar a vender ao país vizinho, sem perder o principal mercado para os produtos industrializados brasileiros, aqueles que mais valor acrescido e, portanto, empregos geram.

Cerca de 210 empresas brasileiras exportam para a Argentina. Todas têm tido problemas para receber os pagamentos, com demoras superiores a 180 dias. O país tem procurado pagar em até 366 dias, de forma a sempre adiar para o ano seguinte.

Há anos, a China tem um mecanismo de swap de moedas com a Argentina para o uso de yuans chineses no comércio bilateral. Com essa facilidade de não usar dólares, Pequim tem conseguido tirar do Brasil boa parte do mercado argentino.

Situação crítica

O presidente argentino, Alberto Fernández, viaja com o seu ministro da Economia, Sergio Massa, e com o seu chanceler, Santiago Cafiero. Sergio Massa, por sua vez, leva sua equipe econômica, revelando a dimensão que o financiamento brasileiro tem para uma economia argentina em agonia.

Somente em abril, o peso argentino desvalorizou-se 20%, no contexto de uma corrida cambial que ainda não terminou. O estopim para a corrida cambial foi o índice de inflação de março em 7,7% com uma acumulação de 104,3% nos últimos 12 meses. A desvalorização de abril alimentou o aumento de preços numa galopante e preocupante dinâmica inflacionária.

A escassez de dólares tornou-se ainda mais grave a partir de uma severa seca que afetou a produção agrícola, retirando da economia cerca de US$ 20 bilhões.

A viagem com urgência de Alberto Fernández a Brasília para se reunir com Lula foi acertada durante a videochamada de 45 minutos que os dois presidentes mantiveram na última quinta-feira (27). Foi um desdobramento dos acordos de cooperação econômica e financeira que os dois governos assinaram em 23 de janeiro em Buenos Aires, durante a primeira viagem internacional de Lula.

Gasoduto estratégico

O mais estratégico dos acordos a médio prazo foi o de Soberania Energética que prevê a construção de um gasoduto entre a reserva patagônica de Vaca Muerta, a segunda maior jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não-convencional do mundo, até o sul do Brasil.

Faltam à Argentina recursos financeiros para construir um gasoduto e uma planta que permita exportar a energia contida em Vaca Muerta, suficiente para o Brasil substituir o gás da Bolívia cujas reservas têm caído anualmente.

O que mais aparece avançado, no entanto, é o papel do BNDES como financiador dos canos de aço para o gasoduto. Esses canos são produzidos no Brasil pela empresa argentina Techint.

Salvação política

Além da ajuda financeira, o presidente argentino procura em Lula um apoio político. Alberto Fernández é hoje um presidente meramente decorativo. Seu governo é sustentado pela vice-presidente Cristina Kirchner em aliança com o ministro da Economia, Sergio Massa, que ainda alimenta chances de ser candidato à presidência nas eleições de outubro. Para isso, precisa estabilizar a economia e evitar uma desvalorização desordenada.

“Enquanto o objetivo de Alberto Fernández é terminar o mandato, o de Sergio Massa é garantir o seu futuro político, condicionado a que a economia não entre em colapso. O poder de Alberto Fernández é muito limitado, mas estar com Lula no Brasil lhe permite exercer o papel de presidente e fortalecer a sua posição regional”, indica Sergio Berensztein.

“Alberto Fernández é hoje mais um ex-presidente do que um presidente em exercício. É uma espécie de presidente emérito. A centralidade do governo passa por Sergio Massa e por Cristina Kirchner. São os que sustentam as decisões de política econômica. Para Alberto Fernandez, Lula aparece como um aliado nesta última fase do seu mandato num contexto de absoluta fraqueza política do presidente argentino”, avalia Lucas Romero.

Para o especialista, “a ajuda brasileira colabora para o plano de Sergio Massa de conduzir a economia sem sobressaltos nem uma brusca desvalorização do peso argentino” enquanto “o objetivo de Alberto Fernández é apenas que o seu mandato não termine da pior forma”.

“Sergio Massa procura ter chances de uma candidatura presidencial. Para isso, requer que a economia tenha certo nível de competitividade. Se o processo econômico continuar piorando, não há candidatura. Se conseguir evitar que a economia entre em colapso, pode tentar ser candidato. O seu destino político depende do rumo econômico nas próximas semanas”, conclui Lucas Romero em entrevista à RFI.

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