Restando pouco mais de um ano para o próximo ciclo eleitoral, o PT tem acelerado debates internos sobre a disputa por capitais desde o início do mês, quando estendeu os mandatos de dirigentes municipais, que acabariam neste ano, até junho de 2025. Conforme matéria de Bernardo Mello, do O Globo, após não ter emplacado, em 2020, nenhum prefeito de capital pela primeira vez desde a redemocratização, e de olho em retomar espaços com a chegada de Lula à Presidência, o partido trava disputas internas sobre lançar candidaturas próprias ou formar alianças.
Em São Paulo, a manutenção de Laércio Ribeiro como presidente do diretório na capital pode pavimentar o acordo para que o PT apoie o deputado Guilherme Boulos (PSOL). Na dinâmica da sigla, Ribeiro transita mais perto da ala encabeçada pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que costurou o apoio a Boulos junto com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
A possibilidade de o PT pela primeira vez não encabeçar uma chapa em São Paulo gera descontentamento interno. Líder do PT na Câmara Municipal, Senival Moura afirmou, na semana passada, que teme a redução da bancada petista. Moura é aliado do deputado federal Jilmar Tatto, que já defendeu a filiação de Boulos ao PT para assegurar sua candidatura, hipótese fora dos planos do deputado do PSOL.
Apoio a Paes
No Rio, onde o PT caminha para uma aliança com o prefeito Eduardo Paes (PSD), a entrada do partido na gestão municipal foi deliberada pelo diretório carioca sob presidência de Tiago Santana, aliado da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ). No arranjo interno, Santana fica a meio caminho das posições dos deputados Lindbergh Farias, que prega oposição a Paes e apoio a uma chapa do PSOL, e Washington Quaquá, defensor de acordos mais amplos fora da esquerda.
Santana afirma, porém, que o PT pleiteia a indicação do vice de Paes, tema que será discutido mais à frente. Ele avalia ainda que “se o PT ceder tudo, chegará fraco em 2026”:
— É preciso ampliar o número de prefeitos e vereadores para servir de base para a disputa de 2026. No Rio, nossa sinalização ao Paes se insere no entendimento de que, divididos, teríamos mais dificuldade contra o bolsonarismo.
O PT pode apoiar a reeleição de outro prefeito do PSD, Fuad Noman, em Belo Horizonte. A aliança depende da conciliação de diferentes alas da sigla e da disposição do antecessor de Fuad, Alexandre Kalil, em abraçar o antigo vice. Kalil renunciou à prefeitura em 2022 para disputar o governo e, no processo, se aproximou de correntes petistas que rivalizam com o ex-governador Fernando Pimentel (PT), ainda influente na capital. A relação com Fuad, por sua vez, esfriou.
PT da Bahia
Em Salvador, o diretório apresentou, no início do mês, três postulantes à prefeitura: o deputado estadual Robinson Almeida, a socióloga Vilma Reis e a presidente da Funarte, Maria Marighella. Partidos aliados do governador Jerônimo Rodrigues (PT), como MDB e PSD, pleiteiam o apoio petista na capital baiana.
Influente no MDB da Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima ironizou o debate do PT sobre candidatura própria e afirmou, numa rede social, que “deveriam incluir a major também” — referindo-se a Denice Santiago, major da Polícia Militar que concorreu pelo partido em 2020, sem sucesso.
A candidatura de Denice foi articulada pelo então governador Rui Costa (PT), atropelando a instância municipal. Costa, segundo aliados, tem manifestado preferência por repetir a estratégia em 2024 e abrigar no PT um quadro “forasteiro”. O favorito é o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder), José Trindade.
Já em Fortaleza e Porto Alegre, o PT sinaliza para candidatura própria. Na capital gaúcha, o atual presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, é cotado como cabeça de chapa numa composição com o PSOL. Outros grupos, porém, defendem um diálogo com siglas como o PCdoB, da ex-deputada Manuela D’Ávila, ou preferem o ex-governador Olívio Dutra (PT).
Em Fortaleza, por conta do racha entre PDT e PT na última eleição, uma candidatura petista contra o atual prefeito Sarto Nogueira (PDT) é dada como certa. A deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins (PT) já se movimenta para entrar na disputa, antevendo uma possível queda de braço com o líder do partido na Câmara, José Guimarães.