Continente enfrentou seca e ondas de calor intensas. Ano como um todo foi segundo mais quente já registrado na região. “Estamos avançando rumo a um terreno desconhecido”, alerta diretor de Serviço de Mudanças Climáticas.
A Europa teve no ano passado o verão mais quente já registrado, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (20) pelo Serviço de Mudanças Climáticas do sistema de satélites Copernicus (C3S), da Comissão Europeia. A região também viveu em 2022 o segundo ano mais quente da história, de acordo com o relatório anual.
Os dados mostram que o verão na Europa foi 1,4 °C mais quente do que a média no período de referência, que vai de 1991 a 2020. Já a temperatura anual ficou 0,9 °C acima da média nesse mesmo período. Em comparação com a era pré-industrial (1850 a 1990), a temperatura dos últimos cinco anos no continente ficou 2,2 °C acima da média.
“Estamos avançando rumo a um terreno desconhecido”, disse Carlo Buontempo, diretor do C3S, durante o anúncio dos dados. “O relatório destaca tendências preocupantes, pois 2022 voltou a ser um ano recorde em relação à concentração de gases do efeito estufa, temperaturas extremas, incêndios e precipitações. Todos com impactos notáveis nos ecossistemas e comunidades em todo o continente europeu”, acrescentou.
Um calor extremo sem precedentes e a seca generalizada marcaram o clima europeu em 2022. Diversas ondas de calor intensas e prolongadas ocorreram no ano passado, atingindo especialmente a região sul do continente.
Os pesquisadores do Copernicus alertam que os eventos climáticos extremos estão ficando cada vez mais frequentes e intensos.
“O sul da Europa experimentou um número recorde de dias com ‘estresse térmico muito forte’, definido por temperaturas entre 38 °C e 46 °C”, indicou o relatório. O Copernicus também afirmou que houve um crescimento nos dias de ‘estresse térmico forte’ – quando as temperaturas ficam entre 32 °C e 38 °C. “Há ainda uma tendência na redução do número de dias sem estresse térmico”, destacou.
O estresse térmico é cada vez mais visto como um problema significativo em todo o mundo com o aquecimento global. Especialistas afirmam que esse fenômeno pode causar uma série de problemas de saúde, incluindo desidratação, insolação e erupções cutâneas.
Situação preocupante no Ártico
O Copernicus registrou ainda temperaturas elevadas no Ártico, onde o aquecimento ocorre muito mais rápido do que em outros locais do planeta. A temperatura na região aumentou 3 °C em relação à era pré-industrial, enquanto no resto do mundo, esse aumento foi de 1,2 °C.
O ano de 2022 foi o sexto mais quente registrado no Ártico. Uma das regiões mais afetadas foi o arquipélago de Svalbard, que teve o verão mais quente da história, com temperaturas em algumas regiões ultrapassando em 2,5 °C a média.
A Groenlândia também experimentou condições climáticas extremas, como calor e chuva excepcional em setembro, época na qual deveria estar nevando. Naquele mês, quando foram registradas três ondas de calor, a temperatura ficou 8 °C acima da média. A ilha experimentou ainda um derretimento recorde, com 23% da camada de gelo afetada no pico da primeira onda de calor.
Seca generalizada
Em 2022, as altas temperaturas se somaram à escassez de chuva, causando uma situação de seca generalizada na Europa. Em relação à área afetada, 2022 foi o ano mais seco já registrado, e 63% dos rios europeus ficaram com vazões abaixo da média.
No inverno, houve ainda menos dias de neve do que a média, chegando a até 30 dias em algumas regiões. Na primavera, as precipitações ficaram abaixo da média em grande parte do continente.
A falta de neve no inverno e as temperaturas elevadas provocaram um derretimento recorde das geleiras dos Alpes – mais de cinco quilômetros cúbicos.
“A água é um bem finito, e talvez não tenhamos sido os mais eficientes na sua gestão. Nos últimos seis anos, a vazão da maioria dos rios europeus tem estado abaixo da média, o que significa que temos que nos adaptar às atuais condições climáticas, nas quais a disponibilidade de água é menor do que no passado”, afirmou a vice-diretora do C3S, Samantha Burgess.
Incêndios florestais
O calor e a falta de chuvas formaram o cenário ideal para os milhares de incêndios florestais que devastaram a Europa em 2022, especialmente no sul. Esses incêndios geraram as maiores emissões de carbono desse tipo registradas na União Europeia desde o verão de 2017.
França, Espanha, Alemanha e Eslovênia tiveram as maiores emissões de incêndios florestais dos últimos 20 anos, e o sudoeste europeu teve alguns dos maiores incêndios já registrados no continente.
O relatório também indicou que, em âmbito global, a concentração de CO2 e metano atingiram no ano passado os níveis mais altos já medidos por satélites. Esses gases são os principais causadores do aquecimento global.