A Petrobras confirmou nesta segunda-feira (17) que estuda voltar a investir em petroquímica e ampliar os investimentos em suas refinarias, com foco no biorrefino, informa André Ramalho, da Epbr.
A companhia informou que avalia mudar o escopo do Polo Gaslub (ex-Comperj) — hoje voltado para processamento de gás e produção de lubrificantes — para produzir produtos petroquímicos de segunda geração.
O Comperj, vale lembrar, foi inicialmente concebido como um complexo petroquímico, mas o empreendimento se tornou, posteriormente, num projeto de refino – também inacabado.
O Polo Gaslub poderá também receber investimentos numa nova planta dedicada para produção de diesel renovável R100 — com matéria-prima 100% sustentável.
A empresa também estuda uma planta de Diesel R100 na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco.
E mira adequações na Rnest e na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais, para produção de diesel R5 a R10 – produzido por coprocessamento de diesel mineral com óleo vegetal.
Petrobras retoma planos para refinarias à venda
Tanto a Rnest quanto a Regap fazem parte do programa de desinvestimentos da Petrobras – parte do termo de compromisso assumido em 2019 com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para abertura do mercado de refino.
A nova administração da petroleira, contudo, tem dado sinalizações de que pretende rever o acordo com o Cade.
Em março, o presidente da companhia, Jean Paul Prates, disse que a Petrobras não vai mais, “necessariamente, sair vendendo ativos por decisões governamentais” — em referência, em especial, ao plano de venda das refinarias.
Os estudos da Petrobras, para ampliação dos investimentos em refino e petroquímica, vêm em linha também com as declarações de Prates de que a empresa terá planos para converter suas refinarias em “bio-petro-gás refinarias”. E com as promessas do governo Lula de ampliar a capacidade de refino do país.
O atual plano estratégico 2023-27 da Petrobras, concebido na gestão anterior, já contempla investimentos de US$ 600 milhões no Programa BioRefino, voltado para o desenvolvimento de combustíveis mais modernos e sustentáveis nas refinarias Presidente Bernardes (RPBC), Presidente Getúlio Vargas (Repar), Duque de Caxias (Reduc) e Paulínia (Replan).
O planejamento estratégico, contudo, será revisto pelo novo comando da empresa.
A saga do Comperj
Atualmente, a Petrobras está construindo no antigo Comperj o Polo GasLub – que receberá o Projeto Integrado Rota 3. O empreendimento envolve um gasoduto e infraestrutura de processamento com capacidade para 21 milhões de m³/dia de gás natural do pré-sal da Bacia de Santos.
A Petrobras também avalia a construção de uma termelétrica na região e tem planos de integrar os ativos do Polo GasLub à refinaria Reduc, em Duque de Caxias (RJ), para a produção de óleos lubrificantes básicos e combustíveis – algo bem diferente de tudo o que se planejou durante o período de bonança da estatal para o Comperj.
Inicialmente concebido como um complexo petroquímico, o empreendimento se tornou, posteriormente, num projeto de refino.
O plano era construir dois trens de 165 mil barris/dia cada, mas o projeto foi abandonado.
A pá de cal veio em 2019, quando a estatal encerrou as negociações com a chinesa CNPC para retomada das obras da refinaria do complexo.
O tamanho do desperdício do Comperj é superlativo: a refinaria foi abandonada com mais de 80% das obras executadas e já tendo absorvido investimentos de mais de US$ 13 bilhões. Dinheiro irrecuperável.
O Comperj acumula um histórico de erros de projeto, sobrecustos e corrupção e esteve nos holofotes das investigações da Lava Jato. Os desvios nas obras de terraplanagem do empreendimento foram, inclusive, a base da primeira condenação do ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
A construção da refinaria do Comperj foi interrompida em 2015, em meio aos desdobramentos da Lava Jato. Sem dinheiro em caixa para tocar o empreendimento, num momento em que as empreiteiras brasileiras entraram em crise, a Petrobras decidiu então que só retomaria as obras da refinaria se conseguisse uma sócia.
Foi nesse contexto, na gestão Pedro Parente, que a companhia iniciou as conversas com a CNPC. A estatal chegou a calcular em US$ 2,3 bilhões o custo para concluir a refinaria. Ao fim, encerrou as negociações com a chinesa por inviabilidade econômica.
Agora, a empresa retoma estudos para um novo projeto petroquímico no Gaslub.