Passados quase três meses, o governo Lula avançou na montagem do segundo escalão, mas ainda não formalizou mais de uma centena de indicações importantes. Diretorias relevantes para políticas regionais ainda estão à disposição para contemplar aliados. Também servem para atrair partidos segundo Lauriberto Pompeu e Bruno Góes, do O Globo, que não fazem parte da base. PP e Republicanos, por exemplo, são siglas que já começaram a se organizar para ocupar novos espaços.
Somando as vice-presidências, diretorias e cargos estaduais da Codevasf, DNOCs, Correios, Iphan, Incra, Caixa, FNDE, Banco do Nordeste, DNIT, Sudam, Sudene e Sudeco, o governo tem à disposição 146 cargos para distribuir entre aliados no Congresso.
Parlamentares têm cobrado espaços em postos regionais desses órgãos. O Republicanos se encaminha para indicar a superintendência da Codevasf em Pernambuco: a indicação deve caber ao deputado Silvio Costa Filho (PE). O PP, por meio do deputado AJ Albuquerque (CE), tem uma coordenação do Dnocs no Ceará desde o governo Bolsonaro e quer manter.
Os cargos do PP e Republicanos ainda estão sendo negociados com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Há mais de um mês, Padilha tem coordenado o esforço de negociar postos regionais com vários partidos políticos. A demora e a complexidade da operação, contudo, têm irritado petistas.
Durante a semana, por exemplo, um parlamentar do PT da Bahia saiu de uma reunião com Padilha reclamando do atraso nas nomeações. Também está no alvo do partido de Lula a demora do pente-fino feito pela Casa Civil, de Rui Costa. Eles reclamam que várias indicações ficam paradas porque não há empenho para verificar o currículo e as ações a que respondem os indicados.
Segundo um petista ouvido pelo jornal O Globo, qualquer processo na Justiça identificado trava a nomeação, independentemente do motivo. Parlamentares, então, precisam pressionar a Casa Civil para que a indicação vá adiante.
O ministro Rui Costa da Casa Civil, negou ao jornal O Globo que haja demora nas análises.
— Não tem represamento na Casa Civil. Tempo médio é 48 horas — declarou.
Enquanto isso, parlamentares do Centrão negociam cargos. O deputado Alencar Santana (PT-CE), vice-líder do governo na Câmara, afirmou que a aproximação desses partidos acontece de forma gradual.
— É natural que essa relação de confiança e estreitamento seja gradual. Afinal de contas, estávamos em lados opostos no cenário político — disse.
O parlamentar avaliou que o governo não terá dificuldade de se aproximar de deputados que apoiaram Bolsonaro no passado. O GLOBO já mostrou que o governo identificou interesse de bolsonaristas na manutenção de cargos. A conversa também é levada adiante por Padilha.
— É um governo que se inicia, com vários desafios e ainda no meio do caminho uma tentativa de golpe, mas não tenho dúvida de que essa base se formará, se fortalecerá e atuará muito para aprovar as boas pautas de interesse do povo brasileiro, deixando de lado somente os radicais, aqueles que vivem no mundo da lua. Todo aquele que tiver bom senso, não tenho dúvida que terá um bom diálogo com o governo Lula — disse Santana.
Resistente a compor a base, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, declarou que “nada mudou”, e a legenda não irá aderir ao governo. Na mesmo linha, o líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA), disse que, mesmo com as negociações envolvendo cargos regionais, a maioria do partido está afastada do governo. Existe pessimismo existe mesmo entre aqueles que não se negam a dialogar com o Planalto.
— Está tudo muito confuso e nebuloso — afirmou o deputado Fausto Pinato (PP-SP), que foi convidado para comitiva do governo que visitaria à China neste último fim de semana e que irá acompanhar a visita quando Lula e o governo chinês remarcarem.
Em alguns casos, os escolhidos já estão garantidos. É o caso do DNOCs com Lira, da Codevasf com o deputado Elmar Nascimento (União-BA), além da superintendência dos Correios com um indicado do senador Efraim Filho (União-PB), apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, e de uma indicação da presidente do Podemos, Renata Abreu, no Geap, que cuida do plano de saúde dos servidores públicos.
Mesmo com colegas em cargos no governo, há insatisfeitos na legenda. O partido se recusa a se classificar como base, mesmo com três ministérios. A avaliação é que as escolhas passaram por poucos nomes da legenda, como o senador Davi Alcolumbre (União-AP).
— Amor incondicional só de mãe — disse deputado Danilo Forte (União-CE).
Segundo ele, mesmo os que conseguiram cargos no segundo e terceiro escalões não serão 100% fiéis ao governo.
— Ainda assim vão pensar duas vezes antes de votar com o governo — declarou.