China e Honduras anunciaram neste domingo (26) o estabelecimento de relações diplomáticas, uma vitória de Pequim que arrebata um novo aliado de Taiwan, hoje reconhecido por apenas 13 países no mundo.
“Hoje damos um passo histórico no processo de consolidação e fortalecimento de nossas relações internacionais, particularmente com o povo e o governo chinês”, disse o ministro das Relações Exteriores de Honduras, Enrique Reina, após assinar uma declaração conjunta com seu homólogo Qin Gang.
Honduras “reconhece efetivamente que existe apenas uma China no mundo e que o governo da República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China”, acrescentou.
“Os dois governos decidiram se reconhecer e estabelecer relações diplomáticas a nível de embaixador” com efeitos imediatos, anunciou o Ministério das Relações Exteriores da China em comunicado.
O anúncio foi feito horas depois de Tegucigalpa anunciar o rompimento das relações com Taiwan. Sob o princípio “uma só China”, Pequim não permite que nenhum país mantenha simultaneamente relações diplomáticas com Taipei.
Reina, “com instruções da presidente da República [Xiomara Castro], comunicou a Taiwan a decisão de romper as relações diplomáticas entre os dois”, informou o Ministério das Relações Exteriores de Honduras.
O anúncio ocorreu dois dias depois da viagem de Reina a Pequim para discutir o estabelecimento de relações diplomáticas bilaterais, promovidas por Xiomara Castro sob o argumento da necessidade econômica.
O chanceler chinês convidou a presidente hondurenha a visitar Pequim em breve.
“Intimidações”
O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan reagiu rapidamente, acusando Pequim de “atrair Honduras com incentivos financeiros”.
O gabinete da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, acusou Pequim de pressionar os poucos aliados remanescentes do governo democrático da ilha.
“O corte das relações diplomáticas entre nosso país e Honduras faz parte de uma série de coerção e intimidação chinesas”, afirmou o gabinete de Tsai.
Em mensagem no Facebook, a própria presidente descreveu o rompimento de relações com Tegucigalpa como “lamentável”.
“Não vamos nos lançar em uma batalha sem sentido com a China que consiste em diplomacia de talão de cheques”, enfatizou a líder.
O Instituto Americano de Taiwan, que funciona como a embaixada dos Estados Unidos de fato na ilha, comentou por sua vez que “a China muitas vezes faz promessas em troca de reconhecimento diplomático que depois falha em cumprir”.
O ministro da Presidência de Honduras, Rodolfo Pastor, reiterou na sexta-feira que o interesse econômico levou Tegucigalpa a buscar relações com Pequim.
Pastor reconheceu que “Taiwan tem sido um aliado importante em nosso país e estamos profundamente gratos”, mas “neste momento também temos que reconhecer uma realidade global, um cenário mundial que marca a ascensão da China como um país econômico, comercial e poder político”.
Neste domingo, o chanceler taiwanês, Joseph Wu, disse que o Executivo hondurenho havia pedido à ilha “uma ajuda financeira de bilhões de dólares”.
Segundo ele, o país centro-americano pediu 90 milhões de dólares (cerca de 476 milhões de reais) para um hospital e 350 milhões de dólares (cerca de 1,8 bilhão de reais) para uma represa, além de perdoar uma dívida de 2 bilhões de dólares (cerca de 10,5 bilhões de reais).
América Latina, palco do conflito entre Pequim e Taipei
A América Latina tem sido um importante palco para disputas diplomáticas entre Pequim e Taipei desde que se separaram em 1949, depois que as forças comunistas venceram a guerra civil chinesa.
Os comunistas tomaram o poder na China continental, enquanto as tropas nacionalistas se retiraram em Taiwan, uma ilha de 23 milhões de habitantes que Pequim considera uma província rebelde.
Alinhados com Washington, todos os países centro-americanos permaneceram ligados a Taiwan por décadas, mas agora apenas Guatemala e Belize mantêm laços com a ilha.
Costa Rica (em 2007), Panamá (2017), El Salvador (2018) e Nicarágua (2021) romperam com Taiwan e se uniram a Pequim, que há anos busca fazer com que os aliados diplomáticos de Taipei mudem de lado.
Após a decisão de Honduras, apenas 13 países no mundo reconhecem Taiwan, incluindo Paraguai, Haiti e outras sete pequenas nações insulares no Caribe e no Pacífico.
Em um esforço para consolidar este pequeno grupo de aliados, Taiwan anunciou na terça-feira uma visita da presidente Tsai Ing-wen à Guatemala e Belize na próxima semana.
A viagem servirá para “demonstrar a importância que atribuímos aos nossos aliados e aprofundar ainda mais a cooperação e o desenvolvimento entre os aliados democráticos”, afirmou o gabinete de Tsai.