O deputado federal Daniel Almeida (PCdoB), vice-líder do governo Lula, confirmou em entrevista a Guilherme Reis, Henrique Brinco e Paulo Roberto Sampaio, do jornal Tribuna da Bahia, que o PCdoB deve lançar candidato para a Prefeitura de Salvador em 2024.
Tribuna – Vamos começar falando sobre essa tensão entre o Governo Federal e o mercado financeiro, além do Banco Central, sobre essa questão dos juros. Saiu uma pesquisa essa semana revelando que o mercado financeiro desaprova essa política fiscal que está sendo desenhada. O senhor acha que essa relação tensa vai durar até o final do mandato?
Daniel Almeida – Tenho convicção que o Governo está com a razão neste embate e espero que se mantenha firme buscando diminuir os juros deste país e buscando favorecer a produção e não o sistema financeiro. O Brasil precisa crescer, precisa gerar mais empregos e investir na área produtiva em vez de ficar na ciranda financeira. Os bancos não têm do que reclamar. Nos últimos seis anos, em que o Brasil não cresceu absolutamente nada, o lucro do sistema financeiro foi sempre crescente. No ano passado, o lucro líquido dos principais bancos ultrapassou R$ 100 bi, com a economia paralisada, sem nenhum investimento e com o desemprego crescente. O mercado pode até ficar nervoso, o que não pode é nós nos submetermos às lógicas do mercado. Isso vai se ajustar logo, logo.
Tribuna – Na sua avaliação, em que medida esses juros altos prejudicam o desenvolvimento da economia como um todo?
Daniel Almeida – Sem dúvidas, nenhuma economia cresce no patamar de juros que o Brasil tem. Diante da opção que os donos do capital têm de investir no sistema financeiro e ter retorno seguro, ou investir na atividade produtiva, vão sempre preferir investir no sistema. Isso é um absurdo. Tem que haver uma mudança na política de juros. E o sistema financeiro tem que colaborar com o desenvolvimento do país.
Tribuna – O Governo vai se esforçar para avançar a Reforma Tributária? Vai apresentar algum ajuste além dessas propostas que já estão sob análise do Congresso?
Daniel Almeida – A Reforma Tributária é um tema que nunca sai da pauta. Não é fácil fazer ela andar. Mas estou muito confiante que esse ano a Reforma vai andar, porque o que está em discussão é juntar ideias que foram debatidas no Senado, como a PEC 110, com ideias que foram debatidas na Câmara, como a PEC 45. E têm alguns elementos que todos concordam. Um deles é a simplificação da estrutura tributária brasileira. Outro tema importante é desonerar o consumo. Essa política de oneração maior no consumo acaba por prejudicar os mais pobres, que pagam mais tributos. E eu vejo uma pactuação mais abrangente de setores da economia, do social, dos trabalhadores e das instituições em torno da Reforma Tributária. Então, acho que ela vai sair. Não será a Reforma dos sonhos de cada um de nós, mas se nós fizermos um avanço na simplificação, já estaremos dando um passo importante.
Tribuna – Qual é a sua expectativa para a viagem do presidente Lula para a China? O senhor estará na comitiva. O que deve ser trazido para o Brasil?
Daniel Almeida – Eu estou incluído entre aqueles que estão na previsão de ir na comitiva. Estamos fazendo algumas tratativas aqui. Minha expectativa é extremamente positiva, porque a China tem relações comerciais diplomáticas e de amizade com o Brasil que se estreitam e se aprofundam há bastante tempo. Essas relações foram interrompidas no governo anterior. E é um desejo da China e do Brasil recuperar esse tempo perdido. E há uma economia complementar: tem muita coisa de interesse da China que o Brasil pode oferecer, especialmente nas áreas de proteínas e commodities outras relacionadas a minerais. E muita tecnologia que a China desenvolve e que podemos firmar parcerias. Tem uma infraestrutura enorme que o Brasil precisa fazer – ferrovias, metrôs e outros sistemas de mobilidade urbana -, investimento na indústria automotiva… Tem muitos investimentos que a China quer fazer no Brasil. Então é uma oportunidade. Tenho muita expectativa de grandes iniciativas nessa visita.
Tribuna – Na sua opinião, qual deve ser a saída ideal para o Governo controlar o preço dos combustíveis sem prejudicar a arrecadação dos Estados?
Daniel Almeida – O Brasil precisa mudar a política de preços da Petrobras. Isso é uma decisão do Governo e não da Petrobras. O chamado PPI, que é a paridade de preços com o mercado internacional, tem que mudar. Precisa mudar. E vai mudar. Minha expectativa é que isso seja feito o mais rápido possível. Nós produzimos petróleo barato e em quantidades suficientes para abastecer o Brasil e ter alguma exportação. Não utilizamos a capacidade instalada de refino porque o governo anterior resolveu fazer a paridade internacional, favorecendo a exportação de óleo bruto e abrindo mercado para a importação de outros combustíveis. Então, devemos mudar essa política de preços para que nós possamos extrair o Petróleo, refinar e distribuir levando em conta os custos do Brasil. Esse é um debate que já está em curso. Há um interesse do presidente da Petrobras em discutir esse tema e é esse caminho que vai permitir a redução do preço dos combustíveis e dar estabilidade aos investimentos nessa área de energia.
Tribuna – Um dos temas debatidos no Congresso é a questão da possibilidade de instalação de uma CPI para investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Por que o Governo não tem interesse nessa CPI neste momento?
Daniel Almeida – Todos os episódios do 8 de janeiro foram explícitos. Têm imagens, gravações e os dados estão todos explícitos. Quem tem melhores condições de juntar esses dados, identificar as pessoas e os níveis de responsabilidade e os danos é a estrutura dos Três Poderes. Os poderes Judiciário, Legislativo e Executivo estão fazendo a sua parte. Ninguém se omitiu. Ninguém procurou passar a mão na cabeça de ninguém. Então, para quê uma CPI, se tudo está sendo conduzido? Não vejo necessidade. Entendo o papel da oposição de tentar aumentar o barulho em torno dessa questão, tentando fazer uma cortina de fumaça. Aqueles que foram responsáveis pelos atos, e que estão no mundo da política, estão tentando fazer uma cortina de fumaça para que as coisas não sejam investigadas. Por isso acho que ela não se justifica.
Tribuna – O PCdoB pretende ou planeja ter candidato à Prefeitura de Salvador em 2024?
Daniel Almeida – Sem dúvidas. O PCdoB, na minha visão, tem toda a legitimidade e tem nomes que têm naturalidade para se apresentar. Temos a deputada estadual mais votada em Salvador, que é a deputada Olívia Santana. Sempre tivemos muita força política no Estado. Penso que a federação que participamos, que envolve PT e PV, soma várias outras lideranças e nomes. É a federação do Presidente da República e do Governador do Estado. Portanto, vamos debater esse tema no momento apropriado. Temos nomes e vamos apresentar. O importante é garantir a unidade de base de sustentação do Governo Jerônimo.
Tribuna – O partido também vai indicar ou apoiar algum nome para a próxima vaga de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios? Vai ter alguma prioridade na próxima indicação?
Daniel Almeida – A próxima vaga do TCM será preenchida por auditor do próprio TCM. Portanto, não há vaga que deve ser pleiteada por nenhum partido político que não seja da estrutura de carreira do TCM. Outras vagas que surgirem daqui para a frente vão passar por discussões e o PCdoB já reiterou que pretende participar desse debate e oferecer nomes para compor o tribunal.
Tribuna – Fala-se em alguns nomes, como o deputado Fabrício Falcão.
Daniel Almeida – Quando surgir a vaga, todas as forças políticas vão refletir sobre o momento e dar a possibilidade para que cada nome seja apresentado. Seria antecipar muito falar em nomes agora. Cada eleição indica movimentos novos. Tem gente que foi candidato em uma eleição, seja para prefeito ou governador, e que na eleição seguinte já não é mais. Tem gente que pleiteou num momento e que no momento seguinte se apresenta como alternativa. Na vida política, as coisas se alteram. Temos que, se houve alteração ou não, temos muitos nomes e que podem ser trabalhados. Fabrício é um nome que sempre foi colocado. Mas, como sempre disse, a discussão dentro do partido se dará no momento em que a vaga ficar aberta e que a possibilidade do debate ser feito apareça.
Tribuna – O PCdoB se sente contemplado com os espaços que hoje tem na estrutura do Governo do Estado? Ou ainda há diálogo em relação a isso?
Daniel Almeida – Ainda há diálogo, porque tem os cargos regionais, que ainda não foram discutidos. E nós não queremos privilégios e nem discriminação. Somos a terceira força que compôs a eleição de Jerônimo e temos duas secretarias. Mantivemos os espaços que já tínhamos no Governo Rui Costa e achamos que, por termos crescido um pouco mais, podemos ter uma participação mais isonômica em relação ao tamanho do partido. Mas ainda não foi concluído esse debate. Conversamos com Jerônimo sobre o desejo de ter nomes que pudessem ser aproveitados em estruturas transversais, nas áreas da saúde, educação, etc. Isso ainda não foi concluído e estamos procurando esse debate.