Ex-vice-governador da Bahia e atual deputado federal João Leão (PP) criticou a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista a Guilherme Reis, Editor de Política; Rodrigo Daniel Silva, Repórter e Paulo Roberto Sampaio, Diretor de Redação do jornal Tribuna da Bahia, Leão disse que o petista precisa sair do palanque. “Lula sempre foi um cara feliz, ele sempre demonstrou felicidade. Hoje, Lula está demonstrando raiva, está demonstrando que não é esse o papel dele”, declarou.
Para Leão, o MST (Movimento Sem Terra) tem invadido fazendas, inclusive, na Bahia por causa do retorno de Lula ao poder. “É lógico que é, né. O que o MST precisa é baixar o facho um pouco”, pontuou.
O deputado federal ainda disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “deixou o Brasil mais ou menos arrumado”. “Precisava entrar agora um governo para arrumar muito mais”, afirmou. “Eles (Lula e aliados) têm que esquecer que Bolsonaro existe. Chegou a vez de o PT mostrar do que é capaz, mostrar como é que se trabalha. O primeiro governo de Lula foi muito bom. Então, ele precisa seguir um exemplo sabe de quem? Dele mesmo”, acrescentou.
Tribuna – O senhor retornou para Brasília como deputado federal. Como foi esse retorno?
João Leão – A primeira coisa é que nós estamos vivendo uma coisa diferente. A esquerda contra a direita, e a direita contra a esquerda. Então, você tem um tal de xingamento, só falta xingar a mãe um do outro. O resto sai tudo. A esquerda jogando tudo nas costas de Bolsonaro, e a direita jogando tudo do governo que não funciona. Então, nós temos que chegar a um denominador comum para que o Brasil funcione. O governo não pode atrapalhar o Brasil. Quando fui prefeito em Lauro de Freitas, eu tinha um slogan que dizia o seguinte: “O governo que gasta mais do que arrecada não é de esquerda nem de direita, é incompetente mesmo”. Então, nós precisamos realmente ter uma linha de ação. O governo precisa mostrar a sua linha de ação qual é. Então, em síntese, é isso.
Tribuna – Como é que o senhor avalia o início do governo Lula? O presidente tem tido embate com o Banco Central sobre a questão dos juros…
João Leão – O grande problema não são os juros. O grande problema é que o governo tem que fazer a sua parte. Chamar o presidente do Banco Central e sentar com ele. Sentar o presidente da República, o ministro da Fazenda… Tem que discutir, dialogar. É isso que precisa. Agora, não tem que pedir para presidente do Banco Central renunciar. Então, você já começa impondo. O cara tem um mandato. Então, ele tem um mandato para cumprir.
Tribuna – Como o senhor viu a decisão do governo Lula de reonerar os combustíveis?
João Leão – Acho que é importante diminuir o valor combustíveis. Agora, você tem que ter um denominador comum, você não pode desonerar aquilo que não pode ser desonerado. Então, você tem um limite. Nós só passamos por isso na época de Dilma. Dilma fez uma desoneração drástica nos combustível, segurou a Petrobras e terminou no que terminou. Tudo na vida você tem um limite. Você vai até aqui, vai até um denominador comum. Agora, isso tudo tem que conversar, tem que o dialogar, tem que fazer. Porque o estranho é que Lula sempre foi um profissional. Lula sempre foi um cara feliz, ele sempre demonstrou felicidade. Hoje, Lula está demonstrando raiva, está demonstrando que não é esse o papel dele.
Tribuna – O senhor acha que Lula ainda está em cima do palanque?
João Leão – Tem que descer do palanque.
Tribuna – O governo vai conseguir avançar em alguns projetos prioritários, como a reforma tributária?
João Leão – Eu espero em Deus que isso aconteça, porque nós precisamos ajudar o Brasil. Nós estamos aí com a indústria crescendo, a agricultura crescendo, o setor de serviços… Bolsonaro, ou bem ou mal, deixou o Brasil mais ou menos arrumado. Precisava entrar agora um governo para arrumar muito mais.
Tribuna – O senhor acha que o ex-presidente Jair Bolsonaro vai liderar a oposição diante desses problemas que o governo Lula vem enfrentando?
João Leão – Acho que não. Eu acho que eles chamando Bolsonaro para briga. Eles têm que esquecer que Bolsonaro existe. Chegou a vez de o PT mostrar do que é capaz, mostrar como é que se trabalha. O primeiro governo de Lula foi muito bom. Então, ele precisa seguir um exemplo sabe de quem? Dele mesmo.
Tribuna – A bancada do PP na Câmara vai se manter independente?
João Leão – Acho que sim. Acho que sim, eu acho que a bancada do partido (vai se manter independente). Quando eu converso com a maioria dos deputados, eles estão um tanto quanto independente. Agora, o governo precisa mostrar que está fazendo certo, correto, aí a bancada vai junto.
Tribuna – O PP está conversando com o União Brasil para formar uma federação. O senhor acha que vai avançar esse possível acordo entre os dois partidos?
João Leão – Eu conversei isso com a bancada. Na minha posição, em vez de fazer federação, nós vamos namorar primeiro, vamos noivar primeiro para casar depois. O que é que eu digo com isso? Vamos fazer primeiro um bloco aqui na Câmara do União Brasil com os Progressistas respeitando a ideologia de cada qual e nós vamos chegar lá na frente a um denominador comum. Você não pode impor uma federação sem discutir, sem conversar sem acontecer as coisas.
Tribuna – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, defendeu que seria uma ideia interessante a ver um semi-presidencialismo a partir de 2026. O que o senhor pensa sobre essa proposta?
João Leão – Nós não podemos criar o parlamentarismo dentro de um modelo que é presidencialista. O que nós temos que fazer é ajudar o governo com ideias, com avanços, com uma série de coisas. Vou lhe dar um exemplo. A Ponte Salvador-Itaparica está pronta aí para começar a obra, vamos começar essa obra! Vamos começar! Nós precisamos gerar emprego nesse estado. Precisamos gerar emprego nesse país. Nós temos uma série de BRs na Bahia e no Brasil que precisam ser duplicadas. Nós temos algumas concessões que não estão dando certo, a exemplo da concessão da BR-324. Nós precisamos chamar a empresa. Ou você chama para fazer uma reciclagem nesse contrato da empresa e você botar uma coisa para andar. Então, demonstrar onde é que está atacando, onde está pecando, onde é o problema, como é o problema ou então vamos tirar essa empresa e vamos fazer uma nova concessão.
Tribuna – O que está faltando para o governo do estado iniciar as obras da ponte? O senhor acredita que o governador Jerônimo Rodrigues vai conseguir tirar do papel?
João Leão – Espero em Deus que sim. Se eu fosse governador, já tinha começado essa ponte de hoje.
Tribuna – O governo anunciou agora que antiga fábrica da Ford vai ter uma empresa que vai assumir, a BYD. O que pensa sobre isso?
João Leão – Quando eu era secretário do planejamento, eu fui à China conversar com a BYD sobre isso. Agora, as coisas demoram demais. Isso foi conversado dois anos atrás, desde a época que a Ford saiu. A gente foi à China conversar com a BYD. Quem começou essas conversas com a BYD fui eu e o ex-secretário Bruno Dauster. Eu estive lá na BYD, eu e Bruno Dauster conversando isso, chamei Bruno Dauster e fomos lá. Agora isso está tudo parado.
Tribuna – O MST (Movimento Sem Terra) invadiu algumas fazendas na Bahia A volta das invasões é consequência do retorno do governo Lula?
João Leão – É lógico que é, né. O que o MST precisa é baixar o facho um pouco. Eu não esqueço nunca que uma vez eu virei para um deputado, que era ligado ao MST, e disse a ele: “Olha, eu sendo governador, acabo com o Movimento Sem Terra, porque eu vou dar terra para todo mundo”. Então, o que é que o governo precisa? É fazer um programa, onde é que tem fazendas que pode se negociar? O governo pode adquirir, o governo pode fazer a reforma agrária. Agora, não fazer a reforma agrária como nós conhecemos. A reforma agrária nesse país tem uma série de propriedades do povo do campo, do povo passando miséria que não tem absolutamente nada. Nós precisamos botar isso para funcionar. Por exemplo, eu estou implantando lá no município de Barra uma reforma agrária grande, que tem 40 mil hectares de terra. Nós estamos implantando, com o produtor lá, uma vinícola, nós precisamos levar isso para dentro das reformas agrárias. Junto com os pequenos produtores, ensinar eles… Esse cara (o produtor) vai ter um negócio excepcional, porque ele vai empregar mais de 500 mulheres dentro do projeto. Mulheres do pessoal da reforma agrária, elas aprenderem a trabalhar e os homens também aprenderem a trabalhar. O que acontece com isso? Você movimenta o país. Nós estamos agora concluindo a implantação do projeto de uma usina de açúcar e álcool lá no município de Muquém do São Francisco. Sabe quanto o governo gastou? Praticamente nada. Fez uma estrada asfaltada e o cara fez investimento de mais de 500 milhões de reais. Então, o governo precisa montar parceria com o empresariado. Eu tenho dito sempre isso aos governadores, aos governantes, aos secretários do Estado… Vamos incentivar a iniciativa privada, vamos fazer PPP. Por exemplo, a ponte Salvador-Itaparica morre na ponte do Funil, você vai ter que duplicar ponte do Funil. Então, nós temos que começar a estudar o projeto, estudar a duplicação, estudar levar uma duplicação até Santo Antônio de Jesus, de Santo Antônio de Jesus até a BR242, para quê? Para que você tenha feito tráfego na ponte Salvador-Itaparica. Tudo isso é uma questão de estado, o estado precisa funcionar e a União precisa montar as parcerias necessárias com o estado para que a coisa aconteça.
Tribuna – O PP já está conversando sobre as eleições do ano que vem? Principalmente, como vai se posicionar em Salvador?
João Leão – Não. Nós temos em Salvador um acordo com o prefeito Bruno Reis e ACM Neto. Nós vamos honrar o nosso acordo.
Tribuna – Como o senhor viu a eleição da ex-primeira-dama do estado, Aline Peixoto, para o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM)? Isso traz desgaste para o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o governador Jerônimo Rodrigues?
João Leão – Essa questão da primeira-dama Aline versus o ex-deputado Tom, o que eu acho é o seguinte. Jaques Wagner tem razão. Jaques Wagner colocou realmente uma posição dele firme, e ele tem razão. O cargo era para um deputado, um ex-deputado, uma pessoa do Legislativo. O Tribunal de Contas dos Municípios e do Estado são órgãos auxiliares da Assembleia Legislativa. Isso tem que ter uma denominador comum, que me desculpe minha amiga Aline.