Convencido de que o escândalo das joias avaliadas em mais de 16 milhões de reais e presenteadas pelo governo da Arábia Saudita ao casal Bolsonaro não tem o condão de ferir de morte o potencial eleitoral do ex-presidente e da ex-primeira-dama, o PL quer utilizar a presença de Michelle Bolsonaro como garota-propaganda em municípios considerados estratégicos para a legenda principalmente em quatro estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Esses locais, escolhidos a dedo pela cúpula da sigla, deram a Bolsonaro conforme matéria de Laryssa Borges, da Veja, nas eleições do ano passado 5,6 milhões de votos a mais que Lula e são a aposta da legenda para ampliar em 2024 o número de prefeitos eleitos pela sigla.
O PL tem atualmente 328 prefeitos, sendo cerca de 250 no estado de São Paulo. Com a ex-primeira-dama como potencial cabo eleitoral, dirigentes do partido estimam que podem chegar a mais de 1.000 prefeitos no próximo ano. São por cálculos como este que a cúpula da agremiação reservou cerca de 1 milhão de reais por mês para projetos ligados a Michelle. Nos últimos dias, o plano foi apresentado a ela com a ressalva de que, por ora, não é interessante para o partido fazer incursões em estados do Nordeste, onde Lula teve quase 70% dos votos válidos – porque ela seria facilmente hostilizada, além de os dividendos eleitorais serem ínfimos.
Depois de uma das primeiras reuniões para discutir as consequências políticas do caso das joias, um dirigente do PL resumiu assim a dependência do partido em relação ao ex-presidente: “Bolsonaro é uma cruz que vamos ter que carregar por enquanto”. O motivo de a cruz não ser tão pesada hoje é avaliação de que a antiga família presidencial ainda é um senhor ativo político. No caso de Michelle Bolsonaro, com ou sem joias, uma aposta direcionada à disputa municipal de 2024.