Num esforço para convencer Lula avalizar a instalação no Senado de uma CPI sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, o aliado do senador Renan Calheiros (MDB-AL) repassou segundo Josias de Souza, do Uol, uma previsão ao presidente: em matéria de CPI, como no futebol, “quem não faz leva.” Confirmou-se o vaticínio. Sem alarde, a oposição bolsonarista colecionou assinaturas para abrir uma CPI mista da Câmara e do Senado.
Subscrito por 189 deputados e 33 senadores, o requerimento foi protocolado nesta segunda-feira. Horas antes, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes havia concedido dez dias para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, explique por que não instalou ainda a CPI proposta pela ex-senadora Soraya Thronicke.
Por uma cilada da sorte, o pedido de CPI mista, com deputados e senadores, vai à mesa do mesmo Rodrigo Pacheco. Ele acumula as atribuições de presidente do Senado e do Congresso. As explicações cobradas pelo Supremo se aplicam também ao novo requerimento. A abertura de CPIs é um direito da minoria parlamentar. Exige-se apenas o número mínimo de assinaturas —pelo menos 171 deputados e 27 senadores—e a definição do fato a ser investigado.
Pacheco conhece bem esse tipo de abacaxi. Na legislatura passada, tentou travar a CPI da Covid. Por ordem do ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, foi obrigado a desengavetar a investigação parlamentar que transformou o negacionismo de Bolsonaro em ativo eleitoral de Lula.
De volta ao Planalto, Lula achou que a CPI do golpismo seria inconveniente para o Executivo porque tumultuaria a votação de reformas no Congresso. Decidida a caprichar na inconveniência, a oposição sugere que a CPI mista investigue não as falanges bolsonaristas e suas ramificações, mas a suposta omissão de autoridades do governo Lula em conter a invasão dos Três Poderes. Deseja-se confundir, não investigar.
Quando se lembrar da previsão de Renan Calheiros, Lula talvez conclua que sua resistência à CPI foi um gol contra.