Na equipe ministerial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aparecem dois nomes em comum: duas mulheres, Simone Tebet e Marina Silva, que também já disputaram a presidência da República. Mesmo após suas derrotas, os próximos 4 anos podem desenvolver outra configuração segundo Edda Ribeiro, da revista IstoÉ, para as eleições de 2026, quando o atual presidente estará com seus 80+ anos.
Entram também na mira do pleito Rosangela Silva, Janja, que vem desempenhando protagonismo no governo, e a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, que já negou interesse no cargo, mas é um nome ovacionado no público evangélico. O lado bolsonarista do país também pode considerar a esposa do ex-presidente para liderar o Brasil, já que analistas avaliam que o ex-presidente pode se tornar inelegível diante dos processos que correm no Supremo Tribunal Federal.
José Paulo Martins Junior, professor de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense, pontua que cada uma das eventuais candidatas tem sua dose de carisma, a seu modo.
“A Michelle [está] mais para o eleitorado conservador e evangélico, que é importantíssimo. Não só este, mas o eleitorado de mulheres, que deu a vitória a Lula e a derrota de Bolsonaro na última eleição, e Michelle tem entrada maior com elas; até mais que Janja, que atua melhor em movimentos sociais e de esquerda”, explica.
Os demais nomes, já com histórico político, também têm sua importância. “A Marina tem um bom recall, pois já disputou outras eleições presidenciais e teve bom desempenho, então segue sendo um nome forte e prestigiado. Mas não vejo como alguém que tenha muitas chances na disputa presidencial. Marina é um nome mais forte para o Legislativo”, defende o professor, que acredita que o mesmo se aplica ao caso de Tebet.
Ainda que sem nenhum acerto ou declaração oficial, esses 4 nomes aparecem na preferência dos brasileiros para o cargo presidencial. Veja o perfil de cada uma das “pré”- candidatas:
Rosangela Silva (Janja)
A paranaense Janja é filiada ao Partido dos Trabalhadores desde os 17 anos. Formada em Ciências Sociais e com especialização em Gestão Social e Sustentabilidade, ela teve 41% de avaliação positiva em pesquisa da Quaest, realizada 40 dias após o start do governo Lula 3.
Para Christiane Romeo, cientista política e professora do Ibmec RJ, Janja despertou a paixão dos ‘lulo-petistas’ e vem impressionando pela sua capacidade de simbolizar a diversidade e a sua posição política nas vestimentas, mas ainda são ações pequenas. “Ela pode, sim, se tornar uma liderança carismática”, avalia.
Capital político
Militante feminista, desde 2022, quando apareceu nas campanhas presidenciais ao lado do companheiro, Janja protagoniza ações sociais e políticas, como usar roupas confeccionadas por bordadeiras nordestinas e cantar o jingle Lula Lá nos palanques do ex-metalúrgico.
Desde 1º de janeiro de 2023, Rosângela vem participando de entrevistas mostrando o Palácio do Planalto descuidado, deixado pela gestão Bolsonaro; esteve na visita a Roraima, onde Lula avaliou a situação dos povos Yanomamis; acompanhou o presidente na visita aos EUA e Joe Biden; é uma das lideranças a acompanhar a restauração dos palácios dos Três Poderes após os ataques de 8 de janeiro; entre outras atuações.
A identificação com Lula é notória e reconhecida – até com certa influência sobre o presidente, em questões de igualdade de gênero, inclusão e tecnologia. O que se pergunta é se, em caso de encabeçar a chapa petista, terá uma transferência de voto automática do eleitorado do presidente.
Visão sobre economia
Ao lado do PT, Janja endossa o discurso do partido e da agenda de Lula, com apoio a programa de transferência de renda – o Bolsa Família -, fundos para projetos sociais, como o Fundo Amazônia, e investimentos na Cultura.
Michele Bolsonaro
A ex-primeira dama já declarou que não deseja disputar o cargo do Executivo. “Oposição, fiquem tranquilos”, disse em publicação do Instagram. Brasiliense criada na Ceilândia, ela foi cotada para disputar as eleições em 2026 após informações que a colocariam como uma aposta do Partido Liberal à Presidência da República.
Capital político
Ao lado do ex-presidente Bolsonaro, Michelle esteve em projetos sociais, especialmente aqueles voltados para pessoas com deficiência e já defende a inclusão do ensino de Libras em escolas públicas. Também é forte defensora de ideias conservadoras e tem forte popularidade no setor evangélico.
Em 2022, uma publicação dela nas redes mostrava um vídeo de Lula em cerimônia com lideranças de religiões de matriz africanas. No post, ela escreveu: “Isso pode, né. Falar de Deus, não”. A ex-primeira dama foi acusada de intolerância religiosa. Hoje é filiada ao Partido Liberal, onde foi nomeada presidente do PL Mulher.
“A mulher tem um olhar especial. Ela pode estar onde quiser. Ela consegue ser mãe, trabalhar na política e realizar várias atividades. Mas, antes de qualquer coisa, minha prioridade é minha filha Laurinha, que precisa de mim”, disse Michelle , de acordo com nota do partido.
Para Martins Junior, a representatividade pode não ser tão efetiva, quando questionado se Michelle pode dar conta das demandas das mulheres. “Ela tem postura bastante conservadora, certamente vai se posicionar contra o feminismo e contra qualquer tipo de avanço em pautas que interessem as mulheres. Se disputar [a Presidência], os interesses serão outros, até mesmo de Bolsonaro, que caso se torne inelegível, vai preferir alguém da família no cargo”, diz o professor.
“Acredito que ela [Michelle] possa atender a demandas de mulheres específicas – as de seu grupo político. Pautas como a legalização do aborto, a educação sexual nas escolas, a violência doméstica… essas pautas não fazem parte das preocupações do grupo que ela representa ou espera representar”, acrescenta a professora do Ibmec.
Visão sobre Economia
Sem grandes discursos econômicos, Michele já foi protagonista de programas sociais voltados para população de baixa renda. Lançado em 2019, o programa Pátria Voluntária incentivava doações e voluntariado a entidades assistenciais. Segundo O Estado de S. Paulo, o total arrecadado e repassado a entidades após 2 anos de programa era menores do que os gastos com publicidade: R$5,89 milhões, do total de R$9 milhões.
Simone Tebet
Filiada ao MDB, Tebet chegou ao terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais em 2022, sendo sua primeira disputa ao cargo. Com o apoio a Lula no segundo turno, virou ministra do Planejamento. Sua atuação no Senado ganhou visibilidade quando foi relatora da CPI da Covid em 2021, não poupando críticas duras à gestão de Bolsonaro.
Capital político
A atual ministra do Planejamento foi carta fundamental na campanha de Lula no segundo turno. Tebet não é de esquerda – longe disso – e dá uma ‘cara’ de coalizão ao governo Lula. Mas já atuou ao lado da bancada ruralista no Congresso e foi contrária à demarcação de terras indígenas. Tebet tem no currículo o fato de ter sido vice-governadora do Mato Grosso do Sul e ter disputado a liderança do Senado contra Rodrigo Pacheco.
Visão sobre economia
Tebet esteve na luta pela independência e autonomia do Banco Central, assim como na defesa de medidas para fortalecer o setor produtivo e ampliar o acesso ao crédito. A ex-senadora, em campanha eleitoral, chegou a declarar que foi a ‘principal vítima do Orçamento Secreto’. “[Vamos enfrentar] Com transparência. Quando nós mostramos para os próprios congressistas que só meia dúzia leva mais de 50% – estou chutando aqui porque eu não conheço o orçamento secreto, eu não recebi o orçamento secreto, eu fui a principal vítima do orçamento secreto”, disse.
Marina Silva
Única mulher negra da lista, Marina já disputou a presidência em três momentos. Atual ministra do Meio Ambiente no governo de Lula, ela é fundadora e líder da Rede Sustentabilidade, partido que tem como base a defesa do meio ambiente, da ética na política e da transparência. Esteve ao lado do líder Chico Mendes e participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores no Acre, onde nasceu.
Capital político
Acreana, historiadora e professora, Marina é reconhecidamente ambientalista e filiada à Rede Sustentabilidade. Ela é conhecida por suas posições em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade, bem como sua defesa pela transparência e pelo combate à corrupção. Em 1990, foi eleita deputada estadual e, em 1994, ao ganhar o cargo de senadora com 36 anos de idade, se tornou a mais jovem senadora da história do país na época.
Visão sobre economia
No campo econômico, ela já defendeu uma política de desenvolvimento que combine crescimento econômico com a preservação ambiental. Em sua gestão ministerial, ela deu o tom do que pretende fazer na equipe de Lula, quando foi a Davos, no Fórum Econômico Mundial.
“Neste momento, vamos precisar entender que é preciso fazer em dois trilhos: é o trilho de proteger o meio ambiente, mas [também] de combater as desigualdades. O mundo é desigual. No meu país têm 120 milhões de pessoas que estão passando fome. Nós tínhamos saído do mapa da fome e agora temos 33 milhões de pessoas que estão vivendo com menos de um dólar por dia. A sustentabilidade não é só econômica, não é só ambiental, ela é também social”, disse a ministra.
Christiane vê diferença de potencial entre Tebet e Marina. Acredita que Tebet encantou quem não a conhecia pelo ardor com que trabalhou na CPI. “Mostrou-se também interessante ao alterar seu público político para apoiar o candidato anti-Bolsonaro. Tem presença de palco e fala muito bem. Desperta confiança”, diz. Já Marina, para ela, não tem esse carisma.
“Todas elas, exceto a Michelle Bolsonaro, têm uma boa capacidade de criar diálogos que aproximem conservadores e progressistas nas pautas mais importantes. O cuidado que se deve ter é com os dogmatismos extremos. Eu aposto bastante na capacidade da Tebet e no exemplo da Marina em dialogar. A Janja é nova na política e por isso merece ser observada”, finaliza Christiane.