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domingo 12 de fevereiro de 2023 às 09:18h

Polos navais no Brasil têm histórias de fracassos mas Lula quer mudar de vez isso

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Outro dia Lula anunciou: “Vamos voltar a construir navios nos estaleiros do Rio de Janeiro.”

Boa ideia, escreveu Elio Gaspari, em seu artigo. O Brasil tem litoral, comércio, gasta uma fortuna em fretes marítimos e precisa de plataformas para exploração de petróleo. Como Asmodeu esconde-se nos detalhes, antes de colocar um só centavo na ressurreição de um polo naval onde quer que seja, conviria um exercício de humildade, explicando por que a geração de Lula financiou três polos navais, com três fracassos, um pior que o outro.

O primeiro polo naval nasceu no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). Atolou, e os grandes prejudicados foram os estaleiros que receberam incentivos e financiamentos públicos. O segundo polo nasceu durante o Milagre Brasileiro, na ditadura. Também atolou, com uma peculiaridade: o desastre materializou-se numa emissão de papéis da dívida da Superintendência de Marinha Mercante, a Sunamam. Em 1979 ela tinha um orçamento maior que o de muitos ministérios e funcionava como um verdadeiro banco. E como banco quebrou, com um buraco que pode ter chegado a US$ 1 bilhão em dinheiro de hoje. À época esse ervanário era chamado de “moeda podre”. Se fosse moeda de banco, valeria zero, como era da Viúva, rendeu cerca de 70% do seu valor de face, servindo para comprar ativos da mesma Boa Senhora. Assim, banqueiros e empresários compraram empresas estatais.

O terceiro polo naval surgiu no governo de Lula. Chegou a gerar perto de 100 mil empregos. Importam-se soldadores brasileiros que trabalhavam no Japão. Uma de suas joias era o estaleiro OSX, de Eike Batista. Quebrou com um espeto de R$ 4,2 bilhões. As petrorroubalheiras do consulado petista afogaram estaleiros e perderam-se dezenas de milhares de empregos. O petroleiro João Cândido, construído em Pernambuco, foi lançado ao mar em 2010 e adernou. Só voltou ao mar dois anos depois. Empresas beneficiadas por encomendas nesse terceiro polo naval ficaram mais conhecidas pelo que contaram à Justiça do que pelo que produziram.

Na retórica de Lula, não houve na História humana uma geração que financiasse quatro polos navais. O Japão, Coreia e Cingapura financiaram os seus uma só vez. Quando aconteceram problemas, os maganos foram para a cadeia e os operários continuaram a trabalhar, produzindo navios a custos competitivos.

Se Lula quer financiar o quarto polo naval, pouco lhe custaria reunir meia dúzia de técnicos para que lhe mostrassem como atolaram os três anteriores. Parte da resposta estava nas roubalheiras. O que Lula quer mudar de vez.

Já que a conversa gira em torno dos estaleiros do Rio de Janeiro, vale a pena girar a roda da História. Apesar de muita gente boa acreditar que Portugal proibia a instalação de qualquer tipo de indústria no Brasil, é bom relembrar que na Ilha do Governador, em janeiro de 1663, foi lançado ao mar o galeão Padre Eterno, um dos maiores navios do seu tempo. Podia transportar quatro mil caixas de açúcar.

A coroa da riqueza não traz sorte

Em Pindorama o título de “o homem mais rico do Brasil” não dá sorte aos seus titulares. Em 2012 esse galardão era exibido por Eike Batista, com uma fortuna avaliada em 30 bilhões de dólares. Deu no que deu.

Eike passou o título ao empresário Jorge Paulo Lemann, que encabeça a lista dos Dez Mais com uma fortuna estimada em US$ 16,1 bilhões, acompanhado pelos seus sócios Marcel Telles (US$ 10,8 bilhões) e Carlos Alberto Sicupira (US$ 8,8 bilhões). Com a bancarrota da rede Americanas, a mágica da trinca tisnou-se.

Ao contrário de Eike Batista, cujos negócios tinham muito pó e ao pó retornaram, a fortuna de Lemann, Telles e Sicupira deverá resistir ao tranco da Americanas e eles manterão boas posições na lista dos bilionários.

Na sequência, vem Eduardo Saverin (US$ 6,8 bilhões), um homem de sorte que se associou a Mark Zuckerberg quando ele lançou o Facebook, ainda como estudante em Harvard. Ele é um ponto fora da urucubaca porque mesmo tendo nascido no Brasil, foi jovem para Miami e vive em Cingapura.

Durante alguns anos o banqueiro José Safra disputou a posição. Homem discreto, atravessou em silêncio divergências e/ou brigas com irmãos, inclusive com a cunhada Lily, viúva de Edmond, morto em Monte Carlo em 1999. José morreu em 2020. Seu patrimônio teria passado dos US$ 19 bilhões.

Enquanto a rede Americanas está na frigideira, devendo ao banco Safra cerca de R$ 2 bilhões, Alberto Safra, filho do “Seu” José, abriu um processo contra a mãe e dois irmãos na Justiça americana, acusando-os de terem-no prejudicado na herança. O litígio envolve a holding que controla o Safra National Bank, que não tem relação com a casa de crédito da família no Brasil.

A lista dos bilionários brasileiros guarda uma diferença com a dos americanos. Apesar das encrencas em que se metem, Jeff Bezos, Elon Musk e Bill Gates associam seus nomes a transformações na economia. Um revolucionou o comércio, outro meteu-se com o carro elétrico e o terceiro, há tempo, mudou o rumo do negócio da informática.

Os militares de volta

Com a ida de militares às terras dos ianomâmis em missão de socorro aos indígenas atormentados pelo garimpo e com o voo da Força Aérea para ajudar os chilenos a controlar incêndios florestais, as Forças Armadas brasileiras retornam a uma de suas virtuosas atribuições.

Como diria o poeta Cacaso, o vinagre vira vinho.

Durante a ditadura, ele escreveu:

Ficou moderno o Brasil

ficou moderno o milagre:

a água já não vira vinho,

vira direto vinagre.

Bolsa Vermeer

O Rijksmuseum de Amsterdam abriu uma exposição inesquecível, daquelas que só acontecem em décadas. Mostra 28 pinturas de Johannes Vermeer (1632-1675). Um prodígio, porque hoje existem menos de 40 quadros do artista com autenticidade comprovada. Há 30 anos, outra mostra juntou apenas 21.

De graça, o site do Rijksmuseum oferece na rede um serviço excepcional para quem tiver algum tempo para jogar fora. Numa visita eletrônica perfeitamente calibrada e narrada pelo inglês Stephen Fry (com legendas em inglês) vai-se por cada um dos quadros, com explicações didáticas e eruditas. Com cerca de cinco minutos para cada tela, percebem-se detalhes pelos quais poderia passar batido. As pérolas das garotas, os tapetes em cima das mesas ou o erotismo em diversos lábios.

Como na rede pode-se ver os quadros sentado e como não é preciso ver todos de uma vez, o Rijksmuseum deu ao mundo uma verdadeira Bolsa Vermeer. Não custa lembrar que o pintor levou uma vida dura. Criou 11 filhos, morreu arruinado aos 43 anos e sabe-se muito pouco de sua vida. Um de seus patronos era padeiro. Por séculos Vermeer foi tão subestimado que punham nomes de outros em suas telas. Seu “O Concerto”, roubado de um museu de Boston, nunca mais foi visto. Valeria 250 milhões de dólares.

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