Após a eleição inédita na Frente Parlamentar Evangélica ser anulada na última semana, os dois pretendentes ao cargo chegaram a um acordo firmado nesta quarta-feira. Segundo Gabriel Sabóia e Eduardo Gonçalves, do O Globo, o deputado Eli Borges (PL-TO) assumirá a bancada nos primeiros seis meses deste ano, enquanto o deputado Silas Câmara (Rep-AM) ficará com os outros seis meses. O revezamento se repetirá em 2024. O mandato duplo durará dois anos. Os dois são pentecostais da Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica do país.
Logo que foi anunciado como novo líder da Frente, Eli Borges afirmou que manterá a defesa das pautas pela “família, vida e liberdade” — isso significa fazer oposição a propostas de legalização do aborto, da “ideologia de gênero” e que criminalizem discursos homofóbicos. Sobre o posicionamento da bancada em relação ao governo Lula, Borges disse que vai se reunir com os integrantes da Frente para definir os próximos passos.
— Não fui procurado ainda por ninguém do governo. Mas reconhecemos toda autoridade constituída. Vamos nos reunir hoje para definir as nossas propostas — disse ele.
Silas e Eli concordavam com a alternância da presidência, mas o acordo travava por um motivo: ambos queriam liderar a bancada no primeiro ano da legislatura. A avaliação é que o primeiro ano será decisivo para frear possíveis pautas identitárias que a esquerda tente passar nos primeiros meses do novo Congresso.
Em seu segundo mandato, Eli Borges tinha o respaldo de boa parte do PL e a movimentação do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto. O PL possui hoje a maior bancada na Câmara e na frente evangélica.
Em seu sétimo mandato como deputado federal, Silas já foi presidente da Frente entre 2019 e 2020 e mantém diálogo com lideranças de diferentes denominações.
Irmão do pastor Samuel Câmara, presidente da chamada Igreja-mãe da Assembleia, ele conta com o apoio de parlamentares da Universal, como o senador Marcelo Crivella e o deputado Márcio Marinho, ambos do Republicanos. E até de membros da igreja de Eli, a Assembleia de Deus do Ministério Madureira. O principal deles é o deputado Cezinha da Madureira (PSD-SP), que já presidiu o comitê durante 2021.
Eleição anulada
A eleição inédita para a Frente Evangélica precisou ser anulada por uma briga envolvendo o uso da cédula impressa e o sistema da Câmara. Foi a primeira vez na história que o grupo criado em 2003 não escolheu o seu representante por aclamação e precisou recorrer às urnas. Ligado à Assembleia de Deus da região Norte, o deputado Silas Câmara (Rep-AM) era considerado o favorito para derrotar o deputado Eli Borges (PL-TO) e o senador Carlos Viana (Podemos-MG).
Quando a eleição por cédula estava se encaminhando para o fim, o grupo de Eli começou a questionar supostos indícios de fraude no registro de votos.
— Se for declarado um vencedor, eu vou judicializar porque essa eleição foi fraudada — declarou Otoni de Paula, ao se retirar irritado no meio da reunião da bancada evangélica. Segundo ele, parlamentares que não estavam subscritos como membros da Frente votaram em Silas Câmara.