A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (1º), é marcada pela expectativa em torno da reeleição de Arthur Lira (PP-AL): o parlamentar tem o apoio de 20 partidos, entre eles o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o PL do ex-mandatário Jair Bolsonaro.
Se hoje Bolsonaro é capaz de mobilizar sua base em torno de uma candidatura e tem um séquito de apoiadores, o cenário nem sempre foi favorável ao ex-presidente quando o assunto é engajamento dentro da Câmara, conforme reportagem de Vittoria Alves, do O Globo. Ao todo, foram quatro vezes em que ele registrou candidatura à chefia da Casa e sempre ficou em último lugar entre os concorrentes. Apenas em 2010 Bolsonaro conseguiu ultrapassar o número de votos branco e nulos.
Dois votos na estreia
A primeira vez em que Bolsonaro se candidatou foi em 2005, quando ainda integrava o PFL e cumpria seu terceiro mandato como deputado. Um racha no PT fez com que o Parlamento elegesse Severino Cavalcanti (PP-PE), maior representante do denominado “baixo clero” — bloco formado por políticos pouco expressivos, movidos basicamente por interesses pessoais, do qual Bolsonaro também fazia parte.
À época, o ex-presidente que 13 anos depois daria seu nome ao fenômeno de extrema-direita, o bolsonarismo, teve apenas dois votos. O candidato governista Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) teve 207 votos; Cavalcanti, 124; o candidato dissidente do PT Virgilio Guimarães (PT-MG) teve 117; e José Carlos Aleluia (PFL-BA) contou com 53 votos. Três deputados votaram em branco e quatro anularam. A disputa foi para o segundo turno, e Cavalcanti foi eleito com 300 dos 498 votos dos deputados.
Zero voto
Sete meses depois, quando Cavalcanti renunciou ao mandato após ser acusado de corrupção, Bolsonaro registrou sua candidatura ao posto mais uma vez. Porém, não teve sequer o próprio voto, já que o resultado da disputa apontou que não houve votos para ele. O candidato do governo foi Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A oposição lançou José Thomaz Nonô (PFL-AL). Eles ficaram empatados, com 182 votos. No segundo turno, deu Rebelo, com 258 votos contra 243 de Nonô.
Em 2011, Bolsonaro, em nova candidatura ao cargo, conseguiu nove votos, seu recorde, superando os brancos (3 votos) e nulos (3). O deputado Marco Maia (PT-RS) — que ocupava a presidência da Câmara desde meados de 2010, quando Michel Temer (PMDB-SP) deixou o posto para assumir a vice-presidência da República, no mandato de Dilma Rousseff (PT) — se elegeu com 375 dos 513 votos da Casa. Ou outros concorrentes, Sandro Mabel (PR-GO) e Chico Alencar (PSOL-RJ), tiveram, respectivamente, 106 e 16 votos.
Bronca em Eduardo
Em 2017, em nova e última tentativa, Bolsonaro, então no PSC, teve quatro votos. Poderia ter tido mais um, mas seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estava em viagem ao exterior e não participou da eleição. A ausência rendeu uma bronca do pai, via mensagem de celular, flagrada pelo fotógrafo Lula Marques:
“Papel de filho da puta que você está fazendo comigo. Tens moral para falar do Renan (Jair Renan, outro filho de Bolsonaro, meio-irmão de Eduardo). Irresponsável. Mais ainda, compre merdas por aí. Não vou te visitar na Papuda. Se a imprensa te descobrir aí, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu. Retorne imediatamente”. Eduardo responde: “Quer me dar esporro tudo bem. Vacilo foi meu. Achei que a eleição só fosse semana que vem. Me comparar com o merda do seu filho (Jair Renan), calma lá”.
Após a divulgação da conversa, Bolsonaro e Eduardo divulgaram um vídeo juntos criticando a imprensa e falando em invasão de privacidade. Eles justificam a citação à Papuda, prisão em Brasília, dizendo que Eduardo estava na Austrália e tinha prometido comprar um fuzil para o pai. Rodrigo Maia (DEM-RJ) teve 293 votos, seguido por Jovair Arantes (PTB-GO), com 105, André Figueiredo (PDT-CE), com 59, Júlio Delgado (PSB-MG), com 28, e Luiza Erundina (PSOL-SP), com dez.