Neste Dia Mundial de Combate à Doença Tropical Negligenciada, a Organização Mundial da Saúde divulga um relatório global delineando progressos e desafios do combate à doença além de interrupções na prevenção e no tratamento causadas pela pandemia.
Este ano o tema é: “Aja agora, aja em conjunto. Invista em Doenças Tropicais Negligenciadas”, conhecidas como DTNs.
Água e saneamento precários
Dentre elas estão dengue, chicungunha, doença de Chagas, hanseníase ou lepra, tracoma e várias outras. Essas enfermidades seguem afetando, de forma desproporcional, os mais pobres em áreas com serviços precários de água e saneamento além de cuidados de saúde.
A OMS afirma que apenas 16 países concentram 80% de todo o fardo global das DTNs.
Em 2021, 179 países e territórios notificaram pelo menos um caso de Doenças Tropicais Negligenciadas. Em todo o globo, 1,65 bilhão de pessoas precisaram de tratamento e cuidados.
A ex-diretora do Departamento de Doenças Infecciosas da OMS e também ex-chefe da pasta na Guiné-Bissau, Magda Robalo, falou à ONU News, de Lisboa, que o tema é também uma questão de inclusão.
“São doenças que afligem, sobretudo, as populações mais pobres. As que têm falta de acesso à água potável, ao saneamento básico, e acesso a cuidados de saúde básicos e de qualidade. Os governos dos países afetados devem prestar mais atenção às doenças tropicais negligenciadas e alocar mais recursos humanos, financeiros, medicamentos e apoio logístico para o seu combate.”
Entre 2020 e 2021, houve uma queda de 80 milhões de intervenções por essas doenças. E no ano passado, oito países se declararam livres de qualquer DTN.
Até dezembro de 2022, 47 nações haviam eliminado pelo menos uma doença tropical negligenciada e mais países estavam a caminho de alcançar essa meta.
Países de língua portuguesa
Várias ações de combate têm sido tomadas em países de língua portuguesa afetados pelas DTNs incluindo Angola, Brasil e Timor-Leste entre outros. Angola, por exemplo, não reportou nenhum caso de transmissão de animais para humanos, mas detectou sete cães infectados com dranculíase ou verme da guiné, no ano passado. Brasil e Timor-Leste anunciaram ações para o combate de vetores assim como São Tome e Príncipe. Doenças como hanseníase, dengue, chicungunha e doença de Chagas ainda são prevalentes em várias regiões do Brasil.
Mundo presos a ciclos de pobreza e estigmas
A Agência da ONU acredita que 2021 e 2022 são resultados de uma década de avanços. Em 2021, por exemplo, 25% a menos de pessoas precisaram de tratamento contra essas doenças, se comparado com a quantidade de 2010.
No total, mais de 1 bilhão de doentes foram tratados a cada ano, entre 2016 e 2019 por intervenções em massa.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, lembra que apesar do sucesso com milhões de pacientes, o mundo permanece preso a ciclos de pobreza e estigma. Para ele, ainda há muito trabalho a ser feito. Mas a boa notícia é que existem meios e informação para prevenir o sofrimento. Por isso, é preciso investir agora e libertar comunidades inteiras do fardo das DTNs. A médica Magda Robalo endossa o apelo de Tedros e diz que é preciso tomar mais ação holística.
“Combater a doenças tropicais negligenciadas é também combater a pobreza porque elas são também doenças de pobreza. São necessárias ações concertadas dos governos numa abordagem multisetorial na perspectiva de uma só saúde com colaboração interdisciplinar entre a saúde humana, a saúde animal e os atores da saúde ambiental.”
Por causa da pandemia, um terço a menos de pessoas deixaram de ser tratadas contra as doenças tropicais negligenciadas entre 2019 e 2020. Em 2021, houve uma pequena melhor de 11% totalização o número de pacientes que receberam os cuidados em 900 mil.
Investimentos para reverter os atrasos
Pelo novo relatório da OMS, um maior fluxo de investimentos contra as DTNs ajudaria a reverter as perdas nas metas colocadas até 2030. A agência fala em mais financiamento doméstico, prestação de conta e autoria dos países nos esforços de combate às doenças.
Uma outra proposta são as parcerias do setor público-privado. Na semana passada, um novo acordo destinou quase 305 mil frascos de AmBisome (anfotericina liposômica injetável) para o tratamento da leishmaniose visceral, nos países mais afetados. A nova colaboração deve custar US$ 11,3 milhões. Na semana passada, a agência discutiu a inclusão do Carter Center, que leva o nome do ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, em seu rol de parceiros.
A OMS também emitiu novas diretrizes e informações sobre produtos contra as DTNs para ajudar os países no combate. Houve 36 cursos para os agentes de saúde em 19 temas.
Estigmas e duras consequências
A OMS lembra que as DTNs são causadas por patógenos incluindo vírus, bactérias, parasitas, fungos e toxinas. Essas doenças têm efeitos arrasadores para a saúde além de consequências sociais e econômicas. Existe um grupo diverso de 20 condições prevalentes em áreas tropicais.
Mesmo que não causem morte, essas doenças estão associadas a estigmas e duros efeitos econômicos. A OMS inclui como doenças tropicais negligenciadas:
- Úlcera de Buruli, doença de Chagas, dengue e chicungunha, dracunculíase, equinococose, trematodíase de origem alimentar, tripanossomíase leishmaniose africana humana, hanseníase ou lepra, filariose linfática, micetoma, cromoblastomicose e outras micoses profundas, oncocercose, raiva, sarna e outras ectoparasitoses, esquistossomose, helmintíase transmitida pelo solo, envenenamento por picada de cobra, teníase / cisticercose, tracoma e bouba.
- Em 2020, a Assembleia Mundial da Saúde, que reúne todos os países-membros da OMS, endossou o mapa para erradicação das DTNs até 2030. E no ano seguinte, foi declarado 30 de janeiro como o Dia Mundial de Combate à Doença Tropical Negligenciada.