Passadas quase três semanas do início do governo, ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm se queixado de que, com as limitações impostas pelo Palácio do Planalto para trocar suas equipes, nomes ligados ao bolsonarismo e a caciques do Centrão seguem ocupando cargos estratégicos. Por enquanto, conforme Daniel Gullino e Jeniffer Gularte, do O Globo, os titulares das pastas foram autorizados a nomear apenas seus auxiliares mais próximos, como chefe de gabinete e secretário-executivo, e a ordem é aguardar negociações políticas para saber como ficará a distribuição dos demais postos, a exemplo de secretarias e diretorias de estatais.
Tratam-se de cargos de segundo e terceiro escalões que o Palácio do Planalto quer usar para atrair partidos que ainda resistem em aderir à base aliada do petista, como o União Brasil e o Republicanos. Embora a ideia inicial fosse ter uma definição até o dia 24 — data citada por Lula para a “liberação” dos cargos —, as manifestações golpistas da semana passada acabaram atrasando essas negociações.
Enquanto isso, parte do espólio bolsonarista resiste nos chamados cargos comissionados, que podem ser entregues a servidores de carreira ou quadros de fora do funcionalismo público, o que tem gerado incômodo nos novos ministros. Na pasta do Turismo, o secretário substituto de Infraestrutura Turística, Luís Vannucci Cardoso, é um dos que seguem na cadeira. Nomeado pelo ex-ministro Gilson Machado, ele concorreu a deputado federal em 2018 pelo PSL, então legenda de Bolsonaro. Hoje, a ministra é Daniela Carneiro (União Brasil), a Daniela do Waguinho, escolhida por Lula.
Alguns nomes, embora não tenham vinculação direta com o bolsonarismo, são heranças deixadas pelos partidos do Centrão, espinha dorsal da base de apoio ao governo anterior. A secretaria nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional tem como titular Sandra Holanda, nomeada para a função em novembro de 2021. Ela foi indicada pelo seu antecessor, Tiago Queiroz, que ocupou a cadeira por indicação de nomes do Centrão. No governo Lula, a secretaria ficará no Ministério das Cidades, comandado por Jader Filho (MDB).
Mas o veto para troca de equipe não tem valido para todos. No caso do Ministério do Desenvolvimento Social, o petista Wellington Dias (PT) demitiu os secretários nacionais e titulares de diretorias nos primeiros dias de janeiro. Até que o governo defina quais aliados assumirão tais cadeiras, elas estão sendo ocupadas por servidores de carreira da pasta.
A mesma barca passou pela Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que nos últimos dois anos e meio ficou sob a batuta do então ministro das Comunicações, Fabio Faria, um dos mais leais ao ex-presidente. A pasta, agora chefiada por Juscelino Filho (União), substituiu os titulares da antiga diretoria por funcionários de carreira.
Nas mais variadas áreas, ministros têm pedido que seus auxiliares conversem com todos os servidores e identifiquem possíveis nomes alinhados a Bolsonaro. A orientação é que se priorize o “quem é quem” entre os postos mais altos, seguindo uma orientação da Casa Civil, chefiada por Rui Costa.
Cronograma definido
A pasta estabeleceu um cronograma para o preenchimento de postos do governo. Assim que assumiu, num dos seus primeiros atos, Costa exonerou os titulares de 1.204 cargos comissionados de chefia e de coordenação. A primeira semana de governo foi dedicada a nomeação de secretários-executivos, chefes de gabinete e assessores diretos dos ministros. Na segunda semana, iniciaram-se as indicações de secretários nacionais e, mais recentemente, de diretores. A partir do dia 24, os demais cargos seriam trocados. O calendário foi definido por Rui Costa e pela ministra de Gestão e Inovação, Esther Dweck.
— Tem muita gente para sair e muita gente para entrar. Essas trocas são naturais, até porque o governo que saiu tem pouca ou nenhuma sintonia com o que entrou. O pensamento em todas as áreas é muito diferente. Não poderíamos conviver com os mesmos assessores — resumiu o ministro da Casa Civil na terça-feira.