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sexta-feira 13 de janeiro de 2023 às 07:18h

Por que a China acena para o Mercosul?

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Horas depois de Luiz Inácio Lula da Silva confirmar sua vitória nas urnas, em outubro, o presidente da China, Xi Jinping, enviou uma cordial mensagem de parabéns ao petista. O gesto diplomático — apesar de trivial entre chefes de Estado — não representa, no entanto, o apreço do líder chinês à democracia, mas releva um sentimento de otimismo e esperança no campo comercial. Na ocasião, Xi afirmou estar disposto a trabalhar em conjunto para elevar a parceria estratégica entre os dois países e disse que ambas as nações têm amplos interesses e responsabilidades comuns.

Esse amplo interesse de Pequim tem nome: Mercosul. Em dificuldade para expandir seus negócios com os Estados Unidos e países europeus, que nos bastidores defendem a Ucrânia no confronto com a Rússia (maior aliado da China entre as superpotências), o governo chinês admite que almeja selar um acordo de livre comércio com o bloco sul-americano nos próximos anos. A razão é óbvia. As duas maiores economias da região, Brasil e Argentina, são potências na produção agropecuária e de matérias-primas, como minério de ferro, ouro, prata e lítio. E um contrato de fronteiras abertas é sedutor para os chineses.

A China até começou a negociar um acordo bilateral com o Uruguai em 2020, fora do Mercosul, mas a parceria ainda não vingou por resistência de Brasil, Argentina e Paraguai. Sem a bênção dos membros do bloco e acesso aos maiores mercados consumidores da região, um tratado de livre comércio com um país de 3,4 milhões de habitantes (o equivalente à população da cidade de Brasília) parece fazer pouco sentido para um país de 1,4 bilhão de pessoas (sete vezes o Brasil). Por isso, os chineses querem buscar acordos de livre comércio que eles chamam de “alto padrão”.

SHI JIEMAOYIZUZHI

“A China encoraja o Brasil a desempenhar papel ativo na expansão da rede de acordos regionais de comércio” Li Chenggang Embaixador da China na OMC.

Para o embaixador chinês na Organização Mundial do Comércio (OMC), Li Chenggang, Pequim acredita que é fundamental melhorar a integração regional do Brasil e a diversificação das exportações. “A China encoraja o Brasil a desempenhar um papel ativo na expansão da rede de acordos regionais de comércio do Mercosul com os principais parceiros comerciais”, afirmou Chenggang, em reportagem ao jornal Valor.

O que é bom para a China, pode ser bom também para o Brasil. O mercado chinês é o principal destino das exportações brasileiras desde 2009. O país asiático é nosso maior parceiro comercial e compra quase um terço de tudo o que sai dos portos nacionais. A participação da China nas transações comerciais globais brasileiras ficou em 27,5% de janeiro a setembro de 2022, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, do então Ministério da Economia. Um ano antes, a fatia da era de 31,3%, mas foi comprimida pelas restrições do governo chinês à carne brasileira em meio aos ataques do ex-presidente Bolsonaro ao regime comunista.

Na avaliação do economista Paulo Morais, coordenador de ciências econômicas da PUC, os atritos internos observados no Mercosul tinham origem mais políticas do que econômicas, o que deve, portanto, ser equacionado com a troca de governo em Brasília. “Os entraves entre Argentina e Brasil eram de governos que se apresentavam com ideologias opostas”, disse.

DIVERSIFICAÇÃO

Um eventual acordo com o Mercosul não será a única alternativa de expansão da China fora do eixo Estados Unidos-Europa. Nos últimos cinco anos, Pequim assinou 22 acordos de livre comércio, entre eles com Chile e Peru. Há outros dez em conversas, como com a Colômbia. Para o Mercosul, um acordo com a China pode ajudar a colocar a casa em ordem, já que existem problemas crônicos na relação entre os países, na avaliação de Jose Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacional do Ibmec, no Rio de Janeiro. “O Mercosul não passa de uma união aduaneira imperfeita, criada com objetivo geopolítico, não comercial”, afirmou. “O bloco tem sido uma pedra que acorrenta grande parte da indústria brasileira”, afirmou Niemeyer.

A julgar pelos primeiros movimentos no campo internacional, Lula e sua equipe econômica parecem ter ciência disso. Para acabar com o isolamento causado pelos quatro anos de gestão Bolsonaro, o presidente fará sua primeira viagem oficial à Argentina no final de janeiro, e em seguida visitará Estados Unidos, Portugal e China. Lula também confirmou presença na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em 23 e 24 de janeiro, em Buenos Aires. Na sequência, o presidente brasileiro deve reunir-se com Joe Biden, em Washington, em viagem ainda sem data definida. Já a visita à China vai ocorrer em março, segundo o governo. Ficará a cargo do novo chanceler, Mauro Vieira, o trabalho de reconstrução depois de um, como ele define, “retrocesso sem precedentes” nas relações internacionais. O futuro do Mercosul e um possível acordo com a China estarão no topo da lista de prioridades.

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