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domingo 3 de fevereiro de 2019 às 15:17h

Por reformas, Bolsonaro quer pacificar relação com Renan

POLÍTICA


A eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para presidente do Senado Federal representou uma vitória de Jair Bolsonaro, sobretudo do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, mas fez com que o Planalto ganhasse um adversário considerado influente: Renan Calheiros (MDB-AL).

A avaliação tem sido feita em caráter reservado por assessores presidenciais, para os quais caberá agora ao presidente Jair Bolsonaro atuar pessoalmente para tentar reconstruir a relação com Renan e reduzir os danos causados pelo envolvimento do ministro da Casa Civil na seara legislativa.

Em seu quarto mandato como senador, o alagoano tem interlocução tanto com a direita quanto com a esquerda e é avaliado como um articulador hábil. Para o Palácio do Planalto, é preocupante tê-lo como adversário, sobretudo no momento em que o governo elegeu a reforma previdenciária como sua prioridade em início de gestão.

A estratégia que tem sido defendida pelo entorno do presidente é que ele entre em contato com Renan neste final de semana e o convide para um encontro reservado assim que voltar a Brasília, o que está previsto para ocorrer até sexta-feira (8).

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Santos Cruz, avaliou à reportagem que agora, passada a eleição, começa o trabalho político de conversar com as diferentes bancadas.

“Eu não tenho dúvidas que o governo federal terá um bom diálogo com o Congresso Nacional. E a reforma previdenciária todo mundo sabe que é necessária”, disse.

Ele ressaltou que todos os deputados e senadores são relevantes no processo político, não importando o partido a que são filiados, incluindo Renan.

“Todo mundo é importante e ele [Renan] continua sendo um parlamentar importante como qualquer outro”, observou.

Uma sinalização do Planalto a Renan mira a pavimentação para a reforma da Previdência. Durante a campanha, Renan passou a fazer gestos de simpatia ao governo e mudou de posicionamento sobre a reforma, sobre a qual se manteve crítico durante a presidência de Michel Temer.

Alguns assessores governistas também calculam que Alcolumbre não terá condições de entregar com a mesma velocidade que Renan a aprovação de projetos considerados prioritários por ter pouca experiência em articulação, já que esteve no baixo clero nos quatro primeiros anos de mandato.

Ao afirmarem isso, eles apontam a dificuldade que o novo presidente do Senado teve para conduzir a sessão de sexta-feira (1º), que acabou encerrada sem resultado. Com a eleição apertada e com brigas, soma-se a isso um temor de que Renan possa operar contra os interesses do governo.

O diagnóstico é que, apesar da vitória, Onyx errou ao ter se posicionado como adversário direto de Renan, o que o inviabiliza completamente como interlocutor em uma tentativa de reconstruir a relação do governo com o senador alagoano e seu grupo de aliados mais próximos, todos escolados operadores políticos dentro do Senado.

O desentendimento entre eles não é de hoje. Quando presidia o Senado, em sessão do dia 1º de dezembro de 2016, o senador do MDB zombou publicamente do sobrenome do então deputado, dizendo que era fácil confundir ‘Lorenzoni’ com ‘Lorenzetti’, que é uma marca de chuveiros.

Na sessão, era discutido o projeto das 10 medidas contra corrupção e Renan, sentado ao lado do então juiz Sergio Moro, criticou o fato de ter sido tirado um teste de integridade do projeto para ocupantes de cargo público. O chefe da Casa Civil foi o relator do texto na Câmara.

“Parece nome de chuveiro, mas não é nome de chuveiro, com todo o respeito. Em favor dele, eu queria dizer que o teste de integridade vai fazer falta porque pesava sobre ele uma acusação de ter recebido caixa 2 de indústria de armas e era uma oportunidade para que ele, neste teste, pudesse demonstrar o contrário, com o meu apoio”, disse.

Em resposta, Onyx chamou o emedebista de “bandido” e recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra Renan por injúria e difamação sobre as acusações de caixa 2.

Para assessores presidenciais, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, também tomou uma atitude equivocada durante a votação. A opinião é que ele deveria ter sido discreto e não exibido seu voto em Alcolumbre, o que acabou dificultando o papel de seu pai e dando à escolha do senador do DEM a chancela do governo.

Como o MDB tem a maior bancada, o receio do Planalto é que, caso as pontes com Renan não sejam refeitas, ele se torne o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e dificulte a tramitação de pautas de interesse do governo.

Há ainda um receio sobre o comando da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), uma das principais para aprovação de projetos de interesse do governo, como a reforma da Previdência.

Apesar do pedido do Palácio do Planalto para que a equipe ministerial não se envolvesse nas eleições parlamentares, Onyx atuou diretamente para a vitória de Alcolumbre, com quem tem uma relação de amizade. A mulher do ministro já foi, por exemplo, assessora parlamentar no gabinete do senador.

Durante o processo, auxiliares da Casa Civil articularam pessoalmente apoios a Alcolumbre e, segundo relatos feitos à reportagem, ajudaram na manobra do senador de instituir o voto aberto na eleição legislativa, o que foi inviabilizado por liminar concedida pelo presidente do STF, Dias Toffoli.

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